Brasil: declaração do Anticapitalistas em Rede

Bolsonaro ganhou. O próximo presidente do Brasil é racista, misógino, homofóbico e protofascista, e não podemos subestimar o perigo que isso significa para a democracia, para os trabalhadores, os negros, os povos indígenas, as mulheres e a diversidade sexual brasileira. O ex-capitão reivindica abertamente a ditadura militar que governou o Brasil de 1964 a 1985; na reta final da campanha prometeu “varrer os vermelhos do país”, ameaçou prender ou exilar opositores, censurar a imprensa que o critica.

Por trás de Bolsonaro está a grande burguesia, a oligarquia latifundiária, as igrejas evangélicas e elementos abertamente fascistas ligados às Forças Armadas. Seu programa implica uma brutal ofensiva contra os trabalhadores, para maximizar as ganancias capitalistas aumentando a exploração ao máximo. Também implica uma ofensiva da agenda conservadora contra os direitos das mulheres e a diversidade sexual, os negros e os povos indígenas.

Porém, o voto majoritário a Bolsonaro representa o cansaço de grande parte das classes médias e os setores mais pobres, mas não um apoio a seu programa. Pelo contrário, os milhões que saíram às ruas ao grito de “ele não” dias antes da votação, demonstraram que ainda sobram forças no povo brasileiro para freá-lo. Bolsonaro conseguindo ou não avançar as ruas que vão dizer. É hora de organizar a resistência.

Por sua vez, não é possível compreender o triunfo de Bolsonaro, nem organizar uma resistência efetiva, sem ter em conta que foi a traição e o fracasso do PT e dos governos “progressistas” da região, que abriram as portas para a direita. A América Latina teve uma oportunidade histórica na década passada, a partir da ascensão revolucionária que liquidou a vários regimes que haviam implementado a submissão ao neoliberalismo imperialista, e levou ao poder novos governos que geraram expectativas no rumo soberano, independente, e – no caso do bolivarianismo – socialista. Mas todos aceitaram o marco do capitalismo como limite e se transformaram em gerentes do mesmo. Em todos se desenvolveu uma ampla corrupção. Diante da crise econômica mundial, nenhum tomou medidas a favor dos povos, todos optaram por salvar as ganancias capitalistas e impor regimes autoritários e repressivos para manter-se no poder. A crise humanitária venezuelana e a ditadura assassina de Ortega na Nicarágua são a pior cara do fracasso do “progressismo” latino-americano. Mas o Brasil não foi exceção.

Lula, o presidente operário, chegou à presidência em 2003 com mais de 70% de aprovação. Mas as gigantescas expectativas que os trabalhadores depositaram no PT, se transformaram em amarga desilusão. Lula governou para as corporações e os latifundiários. Dilma começou a aplicar um brutal ajuste ao povo quando chegou a crise econômica. A resultante perda de base social do seu governo permitiu que a direita orquestrasse o golpe institucional e depois prender e retirar o direito de Lula ser candidato. O PT também não estava disposto a confiar na mobilização ou chamar para greve e a luta para enfrentar a direita.

Como também a campanha de Haddad nada ofereceu de novo que causasse entusiasmo nos brasileiros para que votassem nele. Depois do fulminante resultado do primeiro turno, em que Bolsonaro ficou quase 20 pontos de diferença dele, o candidato do PT se dedicou a buscar o apoio dos demais candidatos do establishment e tentar convencer a burguesia de que ele seria melhor garantia que Bolsonaro para seus negócios.

Muito apesar de Haddad e do PT, que se esforçam para serem vistos como tudo aquilo que os brasileiros vem rejeitando – e que Bolsonaro vem capitalizando – as massivas mobilizações dos últimos dias de campanha, um verdadeiro movimento em defesa da democracia, conseguiram achar a brecha de votos pela metade, e demonstraram a força com a que o povo enfrentará o governo de Bolsonaro.

Hoje a tarefa urgente é organizar a resistência para enfrentar o programa reacionário do novo governo. Só se pode derrotar o fascismo nas ruas, organizando nos bairros, nas universidades, nas fábricas, em todos os lados. Ao mesmo tempo, temos o desafio inadiável de fortalecer o PSOL como uma alternativa real contra Bolsonaro, o PT e demais partidos capitalistas, o qual só é possível se recuperarmos um rumo anticapitalista que ofereça aos milhões de brasileiros que não querem saber de mais nada com o establishment, uma saída pela esquerda e socialista. Por tudo isso, necessitamos uma organização revolucionária que se coloque na cabeça das lutas e dispute por uma orientação consequente no PSOL. Nossos companheiros da Alternativa Socialista no PSOL e Anticapitalistas em Rede nos comprometemos inteiramente com esta tarefa.