Argentina: nasce o #DarVueltaTodo, Agrupamento Nacional de Precarizados

Por Carlos e Lali, entregadores / Ro e Oriana, trabalhadoras da McDonalds

O momento foi ideal. Uma assembleia de grande representatividade federal, com 18 províncias presentes, com as principais áreas do Conurbano e principais cidades do interior da província de Buenos Aires. Com uma composição social muito ampla do setor de precarizados: entregadores, trabalhadores de fast-food, trabalhadores de call centers, funcionários do Estado, contadores. Em resumo: diversos jovens precarizados. Mas também foi notável a presença de parte dos melhores do ativismo das lutas do setor:

* Entregadores da Rappi, Glovo e Orders Now. Da AMBA, mas também uma representação ativa de Córdoba e um setor auto-convocado que exige medidas de segurança em Santa Fe.

* Companheiras da McDonalds. Uma presença de vários locais, com os delegadas, a vanguarda total das reivindicações e a organização contra essa multinacional. Também da Green Eat e de outras empresas.

* Também foi importante a presença de trabalhadores da Wendys e KFC que na semana passada ocuparam instalações e paralisaram a atividade. Um ponto alto no processo de luta por salário e adicionais.

E, é claro, pessoas precárias do call center da Província do Banco na CABA, trabalhadores precarizados de estatais da Patagônia e outras províncias, funcionários domésticos, acompanhantes terapêuticos e dentre vários outros. Ou seja: uma assembleia representativa de todo o país, do espectro global da precariedade e dos setores em luta, os mais dinâmicos. Com essa estrutura, lançamos um novo agrupamento nacional: #DarVueltaTodo.

Uma, e sem fronteiras

Em 1º de julho, a paralisação e a jornada de luta dos entregadores mostraram o alcance internacional desse movimento. O grupo que fundamos nasceu com essa marca forte e essencial de identidade: a unidade internacional dos precarizados e toda a classe trabalhadora. Portanto, o início do evento teve saudações que impulsionaram todo o debate.

Dani, do coletivo de luta do Estado espanhol “Riders x Rights”, abriu o momento da convocatória. Explicou as características combativas de sua organização, as lutas contra o “associativismo” na forma de “trabalhadores por conta própria”, com os quais as empresas querem evitar a contratação de seus trabalhadores, e levantou a necessidade de aprofundar todos os laços da unidade internacional.

Dani, dos do Riders x Derechos do Estado espanhol, cumprimentando a Assembleia

Depois, foi Tito Álvarez, porta-voz da  Red Transnacional de Trabajadores de Plataformas, que agrupa sindicatos e grupos de vários países do mundo. De forma certeira, analisou a luta contra as plataformas e seu uso comercial para explorar trabalhadores, contou como eles conseguiram derrotar o Uber na Catalunha e forçou condições de trabalho decentes como trabalhadores aos motoristas e também estabeleceu a perspectiva de expandir a Red Transnacional incorporando organizações como a nossa.

Ao final, a saudação do México, de Saúl, representando a organização “Ni un repartidor menos” daquele país, foi muito emocionante. Ele pediu um minuto de silêncio para os camaradas da linha de frente, mortos pela COVID-19 ou por negligência estatal, empresarial e sindical em todo o mundo. Além disso, convocou o fortalecimento da coordenação internacional. Sua mensagem foi poderosa.

Muito para fazer

Ao final, a assembleia com centenas de participantes resolveu por uma combinação de medidas para combater, organizar e disseminar o debate:

* Em 20 de julho, organizar a Jornada Nacional de Luta com mobilização para o Ministério do Trabalho em CABA e em todas as sedes do país, para exigir atuação do Estado para impor aos patrões todas as condições que exigimos em entregadores, fast foods. e outros setores. Incorporar denúncias aos emblemáticos locais de fast food e a exigência pela condução da mobilização pelo sindicato dos pasteleiros, que abandonou em cumplicidade com os empregadores.

* Impulsionar a unidade do movimento de precarizados organizando Coordenações Regionais que agrupem todos os coletivos, delegados e forças que atuem em cada região do país e ponham de pé uma Coordenação Nacional de Precarizados.

* Participar e convidar nos locais de trabalho para a Conferência Internacional sobre precarização trabalhista e desmonte educacional, organizado pela Liga Socialista Internacional – LIS para o próximo dia 25 de julho.

* Continuar a exigir justiça para os entregadores mortos durante a pandemia e aumentar a demanda pelo aparecimento, com vida, de Facundo Castro.

* Criar um novo Agrupamento Nacional com uma carta de apresentação em todo o país, destacando seu caráter unitário, combativo, democrático e anti-patronal para adicionar centenas de precários à construção da nova ferramenta.

Agora, com o resultado do ponto de partida, começamos uma nova etapa: pela unidade do movimento de precarizados, por todos os direitos que o capitalismo, governos e burocracias nos negam. Com uma bandeira com um nome: #DarVueltaTodo.