Bielorrússia: rejeição em massa das eleições fraudulentas

Nada será igual neste país do Leste Europeu. A nova reeleição de Aleksandr Lukashenko teve um custo político muito alto e um repúdio popular generalizado ao ditador.

Por Rubén Tzanoff

Na noite de domingo, 9 de agosto, foram anunciados os resultados oficiais das eleições presidenciais na República da Bielorrússia. O regime ditatorial atribuiu a Lukashenko 80,23% dos votos. Em sua sexta participação em 26 anos, fez a mesma coisa: se reelegeu como presidente.

As eleições foram fraudulentas. A Comissão Eleitoral Central impediu a apresentação de vários candidatos da oposição, incluindo o banqueiro Viktar Babaryka e o blogueiro Siarhei Tsikhanouski, que foram presos por acusações criminais e impedidos de competirem. Svetlana Tikhanouskaya, esposa de Tsikhanouski, assumiu a candidatura e com apoio popular conseguiu disputar. Para Lukashenko, a sociedade não era “madura o suficiente para votar em uma mulher”, pois precisava de um “poder forte”. Os 9,9% dos votos que o regime atribuiu a Tikhanouskaya, não correspondem ao amplo apoio que ela recebeu desde que se apresentou e aos percentuais superiores a 70% que se puderam ver nas tabelas que escaparam ao controle governamental.

Durante a campanha, os ativistas foram perseguidos pela KGB, os atos foram reprimidos e centenas de pessoas foram presas. Observadores independentes tiveram o acesso negado às seções eleitorais durante os dias da votação. Não é por acaso que inúmeras denúncias de fraude foram feitas anteriormente e alertadas sobre a recusa do regime em reconhecer qualquer outro resultado que não o triunfo de Lukashenko.

O povo e a classe trabalhadora dizem Basta!

Assim que os resultados foram conhecidos, a cidade explodiu. Houve manifestações e confrontos durante quase seis horas nas ruas de Minsk, Brest, Gomel, Grodno e Vitebsk, entre outras. Algumas fábricas, como a grande empresa metalúrgica de Minsk, entraram em greve. Nem as ameaças com o metrô fechado puderam impedir que milhares de pessoas expressassem seu descontentamento. A polícia reprimiu os protestos com jatos d’água, gás lacrimogêneo, cassetetes e balas de borracha. De acordo com as denúncias da ONG de direitos humanos Vesná e Spring 96, uma pessoa foi morta por uma viatura da polícia, há informações indicando que mais pessoas foram mortas. Havia mais de 120 detidos, que poderiam ser condenados de 8 e 15 anos de prisão por causas de “desordem massiva e violência contra policiais”. O regime também bloqueou as comunicações e o acesso à Internet. No entanto, o resultado final é que a Bielorrússia está passando pelas lutas mais importantes desde a primavera de 1991, quando o poder foi abalado por um mês de greves. É assim que se faz o caminho para se livrar da entulho burocrátic o e autoritário do governo.

Embora os trabalhadores tenham participado individualmente do processo, a convocação de uma greve geral está em debate, pela primeira vez em muitos anos, a partir do sindicalismo independente. E aterrorizou tanto o governo quanto alguns oponentes, que não moveram um dedo para que isso acontecesse. Tal processo tem impulsionado debates estratégicos, dos quais fazemos parte, sobre a necessidade de construção de um partido operário, independente da burocracia e dos setores de oposição da burguesia.

Rebeldia em sintonia

Para além das desigualdades, o povo tem estado em sintonia com a rebelião negra nos Estados Unidos, com os libaneses, com as reivindicações por liberdade e direitos sociais, face à péssima gestão da pandemia, negada por Lukashenko. Nós, da Liga Internacional Socialista – LIS, como parte ativa da luta, repudiamos a violenta repressão estatal, exigimos o fim das perseguições, a anulação dos processos criminais, a investigação e a punição de assassinos dos manifestantes. Exigimos a liberdade imediata dos presos políticos e ativistas democráticos. Convocamos os povos a gritarem em defesa das liberdades democráticas na Bielorrússia. O triunfo estará muito mais próximo caso a rebelião, liderada por jovens e mulheres, se conectar decisivamente com a classe trabalhadora, se a greve geral, a mobilização e métodos fortes de luta forem impostos. Vamos continuar a campanha de solidariedade com o povo bielorrusso e chamamos os povos do mundo para que também se manifestem.