A revolução libanesa derruba mais um governo

O primeiro-ministro Hassan Diab renunciou ao seu gabinete em 10 de agosto, apontando que a “corrupção crônica” do país foi responsável pela explosão que destruiu o porto e metade de Beirute em 4 de agosto.

Por Maher Khazaal

A monstruosa explosão no porto de Beirute em 4 de agosto devastou metade da capital libanesa, deixou centenas de mortos, milhares de feridos, mais de 300 mil desabrigados e causou uma profunda crise humanitária.

Na falta de resposta do governo, foi a própria população que ocupou massivamente às áreas mais devastadas para apagar os incêndios, levantar os escombros e ajudar os feridos e soterrados. Enquanto isso, soube-se que as causas da explosão residiam na negligência criminosa do governo, que havia ignorado repetidas advertências sobre o perigo de 2.750 toneladas de nitrato de amônio armazenadas no porto de Beirute.

A indignação do povo libanês foi imediata. Cansados ​​de um regime completamente falido, milhares foram às ruas lotando a Praça dos Mártires e grupos de manifestantes tomaram conta dos ministérios da Economia e do Meio Ambiente. Outro grupo, liderado por oficiais aposentados do Exército, ocupou o Ministério das Relações Exteriores, declarando-o “a sede da revolução”.

O governo respondeu levando o exército às ruas, que reprimiu brutalmente o povo mobilizado, mas não conseguiu impedir a rebelião, que ganhou as ruas e enfrentou as forças repressivas dia após dia contra um governo completamente ilegítimo, que primeiro anunciou eleições antecipadas, e, finalmente, teve que renunciar em face da rejeição social generalizada.

Epicentro de uma ascensão global

A rebelião do povo libanês não nasceu em resposta à explosão de 4 de agosto. Em outubro do ano passado as massas tomaram as ruas por semanas, forçando a renúncia do primeiro-ministro da época depois que ele tentou cobrar uma taxa sobre as mensagens do WhatsApp. Esse imposto foi a gota d’água, desencadeando um processo revolucionário que continua até hoje contra o regime confessional e sectário que nasceu com o fim da guerra civil em 1989.

O povo se ergueu contra 30 anos de neoliberalismo, entreguismo, ajuste e corrupção que levaram o Líbano a um colapso econômico total em 2019. Por isso o novo governo, que surgiu dos mesmos partidos políticos do regime, não ofereceu nenhuma solução ou impediu o processo de mobilização.

A quarentena imposta pela pandemia do coronavírus permitiu ao governo uma pausa nos protestos, que também durou pouco. Desde o dia 20 de abril, o povo voltou às ruas, radicalizando-se e alvejando o governo e os bancos com o grito de “melhor morrer de coronavírus do que de fome”.

Tanto em outubro como nos últimos meses, os jovens libaneses estiveram na vanguarda da rebelião num processo que não se limitou ao país, mas percorreu o mundo no ano passado e que, ao mesmo tempo, tem o Líbano como epicentro inspirador, espalhando um processo de rebelião contra o ajuste capitalista e a repressão em toda a região, que viu grandes mobilizações no Irã, Iraque e outros países nos últimos meses.

A explosão do porto precipitou mais um capítulo do processo revolucionário que se desenvolvia e se aprofundava a cada dia.

Fora imperialismo

O presidente francês Emmanuel Macron visitou Beirute no dia seguinte à explosão. Por trás de seu discurso humanitário mentiroso, duas preocupações do imperialismo francês estão ocultas. Uma é defender seus interesses econômicos no país, que foi protetorado francês de 1920 a 1943. Desde então, a burguesia francesa desenvolveu importantes negócios no Líbano.

Por outro lado, a França é um dos países mais abalados pela ascensão mundial da luta de classes, com a rebelião dos coletes amarelos e greves gerais históricas. Se Macron é claro sobre uma coisa, é que a propagação da revolução libanesa na região terá repercussões também na Europa, como teve a Primavera Árabe em 2011.

As intenções intervencionistas de Macron não ocultadas. Durante sua visita começou a circular uma petição “pedindo” que a França assumisse o controle do país por 10 anos. Esta tentativa neocolonial do imperialismo francês deve ser enfrentada e derrotada.

Solidariedade internacionalista: 1 dólar para o Líbano

Nossos camaradas do Movimento por Mudança estão na vanguarda da rebelião desde outubro, sendo uma das organizações dirigentes mais influentes do acampamento permanente e das mobilizações diárias que derrubaram o governo da época.

Desde a explosão do porto, eles organizaram a limpeza de entulhos, coleta, distribuição de alimentos,  outras necessidades e acomodação para famílias que perderam suas casas. E eles estão mais uma vez na primeira fila neste novo levante.

A mobilização colocou o desafio de acabar com os acordos entre as seitas religiosas, que dividem as diferentes instituições governamentais, e impor eleições totalmente livres.

Nossos camaradas têm promovido um apelo a toda a esquerda para que proponha uma saída e uma alternativa política para que os setores operários e populares enfrentem todos os partidos tradicionais do regime fraturado e as tentativas intervencionistas do imperialismo.

Eles precisam do nosso apoio e solidariedade. Por este motivo, a Conferência Liga Internacional Socialista – LIS que ocorreu nos dias 8 e 9 de agosto, com a participação de organizações revolucionárias e militantes de 28 países, votou a favor da campanha de solidariedade internacional “1 dólar para o Líbano”, para arrecadar fundos necessários para apoiar a luta dos revolucionários libaneses.