Quênia: Revolução da Fome

Em 17 de maio, uma marcha pela Revolução Njaa (Revolução da Fome) foi realizada em Nairóbi, promovida pela Liga Socialista Revolucionária, a seção queniana da Liga Internacional Socialista. Reproduzimos o documento que foi lido na manifestação e o comunicado divulgado à imprensa.

O Quênia é um país de 10 milionários e 10 milhões de pobres. Esta foi uma frase de advertência e previsão na época, mas hoje é uma realidade dolorosa que continua a aumenta todos os dias, esmagando o espírito resiliente dos quenianos patriotas e trabalhadores. Neste Dia dos Trabalhadores, enquanto refletimos sobre o bem-estar e a dignidade dos trabalhadores aqui no Quênia e em todo o mundo, perguntamos que país é esse que está tão determinado a matar seu povo por meio de uma economia exploradora e opressora que transformou o Quênia em um país de 50 bilionários e 50 milhões de pobres. Que, em 2022 sob um governo eleito, enquanto crianças e bebês passam fome em Marsabit e Baringo, milhões estão enfrentando a seca em todo o país e lutando para ter uma refeição por dia, a insensível cabala política atravessa descaradamente o país fazendo campanha e vendendo óleo de cobra, é no mínimo nojento.

Este país, nos últimos dez anos sob a presidência de Uhuruto, viu uma espiral descendente constante na qualidade de vida dos quenianos, com o custo de vida disparando a níveis inaceitáveis, sem aumento de renda e altos níveis de desemprego. Sobreviver no Quênia com os preços dos produtos alimentícios mais básicos como fubá, leite e pão subindo a cada dia se tornou um esporte radical. Os quenianos continuaram a exigir reduções nos preços dos alimentos, pedindo ao governo que introduza intervenções para proteger os cidadãos das flutuações, mas o governo rejeitou esses pedidos com uma atitude abominável e puniu descaradamente aqueles que ousam questionar ou protestar contra a opressão, desencadeando o terror policial em quenianos inocentes.

O governo, num descaso irresponsável, continuou a fazer empréstimos que sobrecarregam os mwananchi comuns (pessoa/aldeia), mas estes não se beneficiam desses empréstimos, pois traficantes corruptos saqueiam e desviam os empréstimos, sangrando-os completamente. Não podemos mais apelar para um governo rude que está determinado a menosprezar e matar seus cidadãos. O crescimento projetado do PIB do Quênia só faz sentido se todas as famílias, especialmente as de baixa renda e os desempregados, puderem pelo menos pagar refeições decentes ao longo do dia. O problema dos preços dos alimentos é apenas sintomático, a principal causa de nossos problemas como quenianos é um governo falido e incompetente que não respeita e nem considera seus cidadãos. À medida que as eleições se aproximam, exigimos que sejam usadas intervenções práticas reais para aliviar a pressão sobre os Mwananchi ou nos mobilizaremos para boicotar as eleições. Com a mesma facilidade com que as urnas chegam aos lugares mais remotos, os esforços do governo também devem chegar a todos os quenianos famintos. O governo deve agir para rever os impostos sobre os alimentos básicos e subsidiar os preços.

É lamentável que o país esteja em modo de campanha nos últimos cinco anos com políticos interessados ​​apenas em promover seus interesses egoístas em detrimento dos cidadãos, negligenciando completamente seus papéis representativos. O Ministério Público fecha os olhos para casos de corrupção neste período eleitoral. O Quênia merece mais e os eleitores não devem esquecer agora como passaram fome nos últimos cinco anos, enquanto as barrigas daqueles que votaram cresceram. Todos nós devemos concordar, como cidadãos deste país, em punir esses comerciantes de poder sem escrúpulos e ousar votar em novos líderes visionários, altruístas e autênticos que nos servem com dignidade e nos tratam com respeito. Devemos superar as queixas constantes e retomar as rédeas do nosso país das mãos desses fascistas neoliberais.

Diante disso, exigimos:

– Implementação integral do artigo 43º da Constituição que garante os direitos econômicos e sociais, incluindo os direitos à alimentação, habitação, educação e saúde.

– Adoção e implementação do orçamento mwananchi que regulará o preço dos bens básicos, incluindo farinha de milho, leite e até produtos petrolíferos, como o gás de cozinha.

– Redução de gastos públicos em programas que não são de alta prioridade para os quenianos. Redução de viagens oficiais, compras desnecessárias de veículos governamentais, gastos em hotéis, móveis, impressão e publicidade.

– Que a corrupção seja classificada e tratada como traição, principalmente por destruir nosso presente e matar o futuro de nossa nação.

– Distribuição de alimentos para todos os famintos.

DECLARAÇÃO DO POVO:

TODOS PELA REVOLUÇÃO NJAA!

SIM À REDUÇÃO DOS PREÇOS DOS ALIMENTOS!

NÃO À INACESSIBILIDADE DAS MERCADORIAS E À POBREZA!

A vida está se tornando cada vez mais insuportável para o povo do Quênia. Os preços dos produtos básicos continuam a subir todos os dias, e a maioria das pessoas não podem comprar comida, o direito humano mais básico de nossa constituição. Alimentos como fubá, óleo de cozinha, arroz, trigo e mantimentos são muito caros para os quenianos.

Além disso, testemunhamos perdas massivas de empregos e uma terrível crise econômica pela má administração e corrupção do Estado. Assistimos a demolições de casas realizadas pelo Estado contra o povo. Estamos enfrentando uma grave escassez de água. Os casos de violência policial e assassinatos estão aumentando. A maioria dos quenianos não tem acesso a serviços médicos adequados. O aluguel é inacessível.

A diferença entre os mais ricos e os mais pobres atingiu níveis extremos no Quênia. Menos de 0,1% da população (8.300 pessoas) possui mais riqueza do que os restantes 99,9% (mais de 48 milhões de pessoas). Os 10% mais ricos da população queniana ganhavam em média 23 vezes mais do que os 10% mais pobres.

O povo do Quênia está sofrendo uma gigantesca onda de ataques. A crise do neoliberalismo mergulha muitos milhões de pessoas na pobreza, a expansão da repressão estatal ameaça os direitos democráticos limitados que existem em algumas partes do mundo e a crise alimentar ameaça a vida de muitas pessoas.

PORTANTO, NÓS, O POVO DO QUÊNIA, EXIGIMOS:

1. Redução imediata nos preços dos alimentos e outros produtos básicos.

2. Eliminação imediata do aumento de impostos sobre combustíveis e outros itens.

3. Acesso a saúde gratuitos e de qualidade para todos.

4. Fornecimento de água potável para todos.

5. Moradia digna para todos e suspensão imediata do aluguel.

6. Acesso equitativo ao trabalho para todos e fim do desemprego massivo.

Nós, o povo do Quênia, fazemos a seguinte declaração:

Que consideremos as demandas acima como nossos pilares fundamentais na luta por uma vida digna, que consideremos o cumprimento dessas demandas a condição necessária para uma vida decente e sustentável, e que não cessaremos a ação de massas a menos que essas demandas sejam atendidas.

Conclamamos os cidadãos patriotas do Quênia a se levantarem e exigirem uma vida decente!

Apelamos aos cidadãos patriotas do Quênia a se juntarem à luta pela igualdade, liberdade e justiça!

Apelamos ao povo do Quênia que se levante por si e pelas gerações futuras!

Apelamos ao povo do Quênia a DIZER NÃO À REPRESSÃO DO ESTADO, POBREZA, DESEMPREGO E AUMENTO DOS PREÇOS DOS PRODUTOS BÁSICOS!

Apelamos ao povo do Quênia a unir-se ao PROTESTO PELA ALIMENTAÇÃO DO POVO e DIZER SIM AO TRABALHO, ALIMENTAÇÃO ACESSÍVEL, SAÚDE E UMA VIDA DIGNA!

SEM COMIDA, SEM ELEIÇÕES!

PUNGUZA BEI YA UNGA! (BAIXEM O PREÇO DA FARINHA!)

REDUÇÃO NOS PREÇOS DOS ALIMENTOS!

REVOLUÇÃO NJA!

O POVO UNIDO, JAMAIS SERÁ VENCIDO!