Ontem, a Comissão Internacional pela liberdade das e dos presos políticos na Nicarágua, promovida pela Liga Internacional Socialista, junto ao PRT da Costa Rica, Alternativa Anticapitalista da Nicarágua e em unidade de ação com numerosas organizações familiares, políticas e sociais de todo o continente, percorreu 300 km que separam San José, na Costa Rica do posto fronteiriço de Peñas Blancas, na Nicarágua. O impacto regional e internacional da notícia tornou-se o evento político mais importante da América Central durante os últimos dias e conseguiu levantar a opinião pública sobre a demanda de liberdade para as mais de 180 pessoas presas por lutar contra a ditadura capitalista que governa a Nicarágua.
A ditadura de Ortega-Murillo acusou de golpe e reagiu militarizando a fronteira para impedir a Comissão Internacional de entrar e visitar os presos políticos, corroborando assim todas as denúncias feitas pelos parentes e, ao mesmo tempo, mostrando preocupação com a iniciativa internacionalista promovida pela LIS. Para saber mais sobre a atividade da histórica da Caravana que chegou à fronteira com a Nicarágua, entrevistamos nosso camarada Mariano Rosa, dirigente do MST na FIT-U (Argentina) e Coordenador da Comissão Internacional.
Mariano Rosa, diretamente da Costa Rica:
Na sexta-feira, desde muito cedo, dezenas de ônibus, vans, carros particulares e outros meios de transporte se reuniram em San José, capital da Costa Rica, organizados pelas organizações dos familiares, organizações sociais e políticas que convocaram a iniciativa: o PRT e outras organizações da Costa Rica, os parlamentares da FIT-U da Argentina, entre estes nossa camarada do MST, Luciana Echevarria, membros do MES, PSOL do Brasil, e outros representantes de organizações do Panamá, México e República Dominicana.
Nos dias anteriores e graças ao trabalho militante de divulgação, aderências e vontades muito importantes foram acrescentadas, ao mesmo tempo em que uma grande simpatia veio de dentro da própria Nicarágua, além do bloqueio do regime.
A cada dia, a equipe organizadora, responsável pela logística, tinha que incorporar cada vez mais meios de transporte e, na metade da semana, a Comissão recebeu notícias muito importantes: o apoio do movimento camponês, com uma delegação muito representativa de seu acampamento em Upala, na parte norte da Costa Rica a caminho da Nicarágua, liderado por Doña Francisca “Chica” Ramírez, uma das mais importantes líderes das lutas camponesas “anti-canaleros” e pela liberdade dos camponeses presos na unidade penitenciária de Chontales na Nicarágua.
A isto devemos acrescentar que um contingente de 30 jornalistas acompanhou todo o percurso da caravana pela dignidade, dando visibilidade a esta importante iniciativa.
Crescentes manifestações de simpatia, solidariedade e apoio social à iniciativa da Comissão e da LIS
Durante toda a jornada da Caravana, centenas de pessoas que se encontravam nas laterais da estrada saudaram e expressaram sua solidariedade acenando bandeiras azuis e brancas, emblemas da luta anti-ditatorial na Nicarágua. É proibido na Nicarágua hastear a bandeira nacional nas ruas, punido com prisão. Portanto, tornou-se um emblema na luta e resistência contra a ditadura, apesar do fato de setores do grande capital e da igreja quererem apropriar-se de seu uso.
Ao longo do dia, e especialmente depois que o resultado final da ação e a resposta do governo Ortega foi conhecido, houve também manifestações muito importantes de solidariedade local e regional, como a declaração pública e o pronunciamento contra a política Ortega-Murillo pela escritora viva mais importante da Nicarágua, a renomada e exilada Gioconda Belli.
Chegada à fronteira e o papel do governo costarriquenho
A caravana teve uma parada antes da fronteira na cidade de La Cruz, onde foi realizada uma reunião com o movimento camponês, onde tive a oportunidade de falar, na minha qualidade de coordenador da Comissão da Liga Internacional Socialista, junto com a líder Francisca “Chica” Ramirez. Após esta atividade, saímos sob a guarda da polícia costarriquenha para o posto fronteiriço, localizado a 300 metros do território nicaraguense. Uma vez lá e com base em ter previsto e acordado que a polícia costarriquenha acompanharia a caravana até o território nicaraguense, para insistir na entrada às autoridades de imigração daquele país, porém na fronteira o panorama era completamente diferente. Por um lado, a determinação da ditadura de Ortega-Murillo de impedir a entrada da Comissão com a mensagem ameaçadora de um enorme destacamento militar, estimado em mais de 300 soldados, além de franco-atiradores e paramilitares, que, diante da determinação da Comissão de insistir em cumprir sua missão de entrar, acabaram fechando efetivamente a fronteira com a Costa Rica. Diante disso, o governo costarriquenho, em acordo virtual com o governo nicaraguense, impediu a comissão de se aproximar do posto fronteiriço de Peñas Blancas por não poder garantir a segurança do contingente e evitar “crises ou conseqüências graves na relação diplomática entre a Costa Rica e a Nicarágua”.
Neste ponto, só podemos denunciar o papel do governo do Presidente Chávez na Costa Rica, que em vários episódios demonstrou que, além da manifestação isolada ocasional, tentou coabitar e manter relações com a ditadura e de forma alguma a condenou. Por exemplo, diante da necessidade de nomear um funcionário centro-americano para um órgão regional nas relações comerciais com a União Européia, apoiou inicialmente uma proposta da ditadura de Ortega-Murillo para tal nomeação, só para depois voltar atrás, como resultado de um repúdio em massa. Também bloqueou a possibilidade de entrada, negando vistos aos jovens estudantes nicaraguenses da LIS exilados na Argentina, e quando a Comissão chegou à fronteira, agiu como uma equipe de fato com a ditadura, já que nada fez para facilitar a coordenação para a entrada efetiva da Comissão na Nicarágua. É por isso que queremos ser categóricos neste ponto: o governo costarriquenho trabalha em conjunto com o governo nicaraguense e, além de sua fachada democrática, nada mais fez do que mostrar sua total cumplicidade com o governo nicaraguense.
Militarização e fechamento da fronteira: a ditadura prova que temos razão
Não há registro de um destacamento militar, com mais de 300 franco-atiradores no posto fronteiriço de Peñas Blancas nos últimos 4 anos. Também não há nenhum registro de fechamento da fronteira, como neste caso, com a chegada de uma Comissão Internacional, como a que organizamos pela LIS. É evidente que o impacto da ação da Comissão, a colocação na agenda pública da situação dos presos que conseguiu destacar, a circulação das notícias na própria Nicarágua através de mil canais alternativos aos oficiais controlados pelo casal presidencial, levou a ditadura a tomar a decisão, por um lado, de fazer uma demonstração de força e, por outro, também de expressar sua preocupação com o efeito que a entrada da Comissão com as características daquela que promovemos e construímos poderia ter no interior do país.
Obviamente, como primeira conclusão, fica demonstrado que a ditadura, que em outras ocasiões invocou que diferentes missões da chamada “comunidade internacional”, sem a mobilização ou a força da que tínhamos como Comissão Internacional coordenada pela LIS, foram enviadas pela Embaixada dos EUA, com objetivos intervencionistas e com fins golpistas, neste caso, com a Comissão composta de referências claramente de esquerda, com uma declaração de intenções com ampla representação e apoio internacional que estabelecia uma clara delimitação de todos os campos imperialistas e todas as interferências, foi tão preocupante que os obrigou a tomar uma decisão escandalosa e desproporcional.
A manifestação de simpatia dentro da Nicarágua, com milhares de mensagens, as denúncias de familiares sobre o que realmente está acontecendo nas prisões e dentro do país, mais do que corroborou que, o que a Comissão colocou em debate é verdadeiro: na Nicarágua há um estado policial e uma ação permanente de perseguição, tortura e violação dos direitos humanos nas prisões da Nicarágua. Este é um fato comprovado.
Por outro lado, esta Comissão vai elaborar um relatório baseado nos testemunhos dos libertados da prisão, dos familiares dos assassinados e desaparecidos e de outras vítimas da ditadura e de diferentes organizações de exilados, para um relatório final que, nas próximas semanas, será publicizado ao mundo para que todos possam conhecer a realidade do que está acontecendo na Nicarágua governada por uma ditadura capitalista que usa métodos estalinistas de repressão e perseguição.
Finalmente, sabemos que esta iniciativa que estamos tomando é apenas o primeiro passo de um movimento permanente pela vida e liberdade das dos presos políticos na Nicarágua, que certamente preparará novas ações de maior impacto, já que temos o compromisso, um juramento com parentes e organizações no exílio, como parte da Liga Internacional Socialista, de levar adiante esta luta até o fim.