Peru: mobilização como estratégia da insurgência popular

Por Movimento Anticapitalista – Peru

Há um ano e meio da posse de Pedro Castillo. Sua vitória eleitoral foi a expressão da enorme predisposição dos trabalhadores e dos pobres para lutar por mudanças fundamentais, pelo fim da pobreza, do desemprego, dos salários de fome e de um regime político repressor e corrupto, absolutamente decadente e sem perspectivas.

É lamentável que Castillo tenha traído seu programa eleitoral para ceder à direita em busca de um consenso que não lhe permitiu evitar ser golpeado e preso. Os golpistas no Congresso agora tentam, com Dina Boluarte como presidenta, sustentar a corrupção institucionalizada por 30 anos e garantir a continuidade das políticas neoliberais que atacam nosso povo desde a ditadura de Fujimori.

Claro que, mais uma vez, o povo peruano mostra sua coragem incomparável. Poucas horas depois do golpe do Congresso pelos aliados empresariais da CONFIEP, que contavam com o habitual apoio dos grandes meios de comunicação, diversas organizações sociais, sindicatos, frentes de defesa, Federação Estudantil do Peru (FEP), organizações camponesas, entre outras, se pronunciaram contra o novo governo e seu gabinete. A indignação tornou-se a expressão da autoconvocação e organização da insurgência popular, sendo motor de várias mobilizações em Puno, Cusco, Tacna, Lima (capital), Apurímac, Arequipa. Os aeroportos de Cusco, Arequipa e Puno estão ocupados, todas as universidades nacionais estão ocupadas, incluindo a emblemática Universidade de San Marcos. As aulas foram suspensas em todo o país e neste exato momento, quinta-feira, dia 15, enquanto escrevemos estas linhas, uma grande mobilização está ocorrendo na capital Lima, onde dezenas de milhares exigem o fechamento do Congresso! Defendemos que NÃO DEVEMOS SER ADMINISTRADORES DA CRISE NEOLIBERAL! DEVEMOS SER A FERRAMENTA PARA ACABAR COM ESTE SISTEMA!

Confiamos firmemente na força da mobilização e organização independente dos trabalhadores, camponeses e estudantes, para que a crise seja paga pelos capitalistas. Convocamos o povo a se levantar para mudar o rumo que a direita e o partido tradicional estão nos levando.

Toda essa situação que vivemos em nosso país ocorre em meio a uma crise mundial sem precedentes. Por isso, não há espaço para medidas maquiadas, é fundamental promover a mobilização popular na mais ampla unidade de ação independente do Governo, para conseguir as modificações substantivas que Pedro Castillo prometeu em sua campanha eleitoral e muito mais. Consideramos fundamental a criação de um programa que permita que a palavra de ordem eleitoral de “não há mais pobres em país rico” se torne uma realidade para a população pobre como um todo. Exigimos julgamento e punição para os assassinos de nossos 10 companheiros mortos até agora em diferentes regiões do país. Exigimos a liberdade de Pedro Castillo, porque não reconhecemos este tribunal ou este Congresso com autoridade de qualquer tipo para julgar ninguém.

Por uma mobilização unitária por uma Constituinte livre e soberana! Devemos acabar com a Constituição de 1993 com a qual os capitalistas e os poderosos se enriqueceram.

Precisamos urgentemente da convocação de uma grande assembleia das organizações sociais, operárias, camponesas e estudantis do Peru para discutir como dar continuidade a esta luta e ao programa que devemos impor.

Estamos conscientes de que só um governo dos trabalhadores e do povo, um programa anticapitalista e socialista, conseguirá mudanças reais e direitos para todos.