Eleições na Turquia

As eleições presidenciais e parlamentares ocorrerão na Turquia no próximo dia 14 de maio. As principais forças são: Aliança Popular, encabeçada pelo AKP, do atual presidente Erdogan; Aliança da Nação, encabeçada pelo tradicional partido nacionalista CHP; a Aliança Trabalho e Liberdade, encabeçada pelo ex-HDP, agora Partido da Esquerda Verde (YSP), nacionalista curdo; Partido dos Trabalhadores da Turquia (TIP), socialista. Entrevistamos Tilbe Akan, um militante do TIP e da LIS na Turquia.

O que é a Aliança Trabalho e Liberdade? Qual sua análise sobre esta candidatura?

As eleições na Turquia são muito importantes. A participação excedeu 90% nos últimos anos. Como o comparecimento é tão alto, a esquerda deve se preocupar com as eleições.

A Aliança Trabalho e Liberdade, que fazemos parte, é formada por 6 partidos socialistas e o YSP. Os 2 principais partidos da aliança são o TIP e o YSP. A aliança é baseada na solidariedade entre o povo curdo e os socialistas e tem uma política operária, pela redução da jornada de trabalho, pelo direito de sindicalização, por melhores salários e condições de vida, por medidas contra a inflação, pelos direitos das mulheres e direitos LGBT. Basicamente, liberdade, justiça e igualdade são as três palavras de ordem principais desta aliança.

Ato eleitoral da Aliança Trabalho e Liberdade

Em que contexto social e político ocorre esta eleição?

Estas eleições surgem com o país numa situação muito difícil, resultado da crise econômica na Turquia. A taxa de inflação oficial é de 80%, mas na realidade é superior a 180%. A crise também tem um efeito psicológico onde a sobrevivência é cada vez mais difícil.

O terremoto também produziu uma forte reação social porque foi muito destrutivo. Mesmo os números oficiais manipulados são de mais de 50 mil mortes. Mas o governo basicamente não se importa com o terremoto, já que as pesquisas indicam que o efeito eleitoral não seria tão alto quanto se pensava, 1%, 2% no máximo. Principalmente porque a base social do AKP não responsabiliza o governo, estes acreditam que o terremoto foi um ato de Deus, um desastre natural.

O caráter opressor deste governo é outro elemento da situação, se intensificou desde o início da campanha, especialmente contra o movimento curdo. O HDP mudou seu nome para Partido da Esquerda Verde (YSP). Havia um processo judicial contra o HDP e havia o risco de não se candidatarem às eleições. Dessa forma, registraram um novo partido e conseguiram se inscrever. Desde o início da campanha, o governo ataca em todos os lugares, especialmente nas regiões curdas, jornalistas, candidatos e todos os eventos do YSP.

Politicamente, há um ambiente muito polarizado porque o principal candidato da oposição tem chances reais de vencer e há grandes expectativas de acabar com o regime de Erdogan após 9 anos.

É por isso que há também um ataque intenso contra o TIP por parte do CHP por “dividir os votos”. É uma reação muito comum da principal oposição em todas as eleições. Nas últimas eleições disseram exatamente a mesma coisa sobre o HDP. Agora que o TIP decolou, fazem propaganda contra nós dizendo que Erdogan vencerá se o povo votar em nós e que não passaremos no plenário, que é de 7%. Na Turquia há uma barreira de 7% dos votos para ser eleito. Mas tudo isso está errado, porque fazemos parte da aliança e estaremos juntos.

O que significa uma reeleição de Erdogan ou uma vitória da oposição para os trabalhadores, mulheres, oprimidos?

Uma vitória de Erdogan seria horrível para todos, porque aprofundaria a crise econômica onde os trabalhadores já estão sofrendo. Também para as mulheres, este governo já abandonou a Convenção de Istambul, atacando constantemente os direitos das mulheres e de LGBTs. Na aliança de Erdogan existem forças da extrema direita islâmica. Um deles é Huda Par, o que é um caso estranho, na verdade, porque são nacionalistas curdos, mas também apoiam a lei islâmica da Sharia, e agora estão com o AKP.

É evidente que a opressão contra o movimento curdo, contra a esquerda e contra todos se intensificaria. Os ataques políticos contra os partidos da oposição, especialmente contra o TIP e o YSP, também aumentariam. Erdogan já é muito poderoso, mas vencer esta eleição lhe daria mais poder. Ele é um governante islâmico político e sua força se baseia em polarizar o povo entre turcos e curdos, é contra refugiados e pessoas LGBTs, entre mulheres e homens, alevitas e sunitas. Basicamente, usa todo tipo de diferença de identidade para estruturar seu poder. É sufocante, e muitas pessoas pensam em deixar o país se Erdogan vencer.

Qual espaço político e perspectiva para a esquerda?

O espaço político não é gigante pela forte opressão e polarização. Por outro lado, há uma base social motivada que apoia o TIP e o YSP para derrotar de Erdogan. O HDP já havia lançado 78 candidatos ao parlamento nas eleições anteriores, e a expectativa é alcançar resultados semelhantes, talvez um pouco mais com os candidatos do TIP. Não temos um candidato presidencial, mas esperamos conseguir uma oposição mais forte no Parlamento.

Nossa campanha está indo muito bem. O único obstáculo é a propaganda do CHP contra o TIP. É um ataque forte. O CHP literalmente pressiona as pessoas a não votarem no TIP. Ouvimos coisas como “queremos votar em vocês, mas Erdogan venceria”, o que não faz o menor sentido. Mas, como é propaganda do CHP, tem um amplo alcance. Por outro lado, estamos ganhando cada vez mais pessoas.

Nosso discurso tem uma ótima recepção nas campanhas de rua. Diferente quando o AKP faz campanha na rua, as pessoas literalmente os atacam, não fisicamente, mas verbalmente. Então, na maioria das vezes, o AKP acaba abandonando sua campanha de rua. Podemos ganhar alguns deputados nas eleições, mas na Turquia não é possível ter uma certeza até o dia da votação. Como a polarização é tão alta e as pessoas estão tão fartas do AKP, mesmo que gostem de nós, mesmo que nos apoiem, mesmo que se juntem ao nosso partido, podem não votar em nós. Então veremos.

Coluna do TIP no Dia Internacional do Trabalhador

Você pode falar mais sobre o TIP?

O TIP é uma organização socialista composta por muitas pessoas de diferentes origens, incluindo alguns grupos trotskistas, embora estes tenham sido assimilados. Portanto, é uma organização relativamente heterogênea. Mas a ideia principal é enfrentar o AKP e promover a igualdade.

É um partido de massas. Temos 4 deputados no Parlamento e conseguimos um apoio muito forte pela influência desses 4 deputados, o que também levou muitas pessoas a aderirem ao partido. A maioria dos membros não são necessariamente socialistas, mas têm a mente aberta e podem mudar. Foram os deputados eleitos que abriram caminho para esse crescimento. Por isso, existe um peso em estar no Parlamento. O TIP apoia a autonomia do povo curdo e seu direito de decidir seu próprio destino. Queremos construir um país de trabalhadores, um país onde as mulheres e as pessoas LGBT possam viver.