As eleições das PASO (Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias) encerraram com surpresas e mudanças nas perspectivas para as eleições gerais. Compartilhamos as primeiras conclusões sobre as várias questões em debate: as razões do triunfo de Milei; o golpe recebido por Juntos por el Cambio e Unión por la Patria. A votação da Frente de Esquerda e de Trabalhadores – Unidade (FIT-U) e o resultado da nossa lista presidencial, que não venceu nas internas, mas obteve uma vitória-chave na Capital do país e em várias províncias.
O triunfo de Javier Milei
Quando os primeiros resultados foram divulgados, a surpresa tomou de conta dos jornalistas; Milei vencia em distritos importantes. Isso se consolidou ao longo das horas até o encerramento com o candidato de La Libertad Avanza acumulando mais de 30% dos votos. Além de ser o candidato mais votado para presidente, seu número de votos também superou a soma dos 3 candidatos do Juntos por el Cambio e a soma dos 3 candidatos do Unión por la Patria.
As razões para o triunfo de Milei estão em ter conseguido canalizar grande parte do descontentamento acumulado contra o atual governo e os partidos que o governaram, que depois do governo PRO, primeiro com Macri e agora 4 anos de peronismo com Fernández, levaram o país a uma catástrofe onde milhões vivem cada vez pior. Tendo em conta o desastre deste último governo da PJ, podemos afirmar que, mais uma vez, como já aconteceu em outros países, Brasil e outros, o progressismo quando governa com ajustes acaba favorecendo os setores à direita, neste caso Milei, pela frustração e descontentamento geral.
No quadro da situação de crise geral, com a economia cada vez mais descontrolada nos últimos meses e na última semana marcada por uma nova alta do dólar, o assassinato de uma menina em Lanús e o assassinato de um militante em do Obelisco pela Polícia, gerou-se um combo de crise econômico-social que acabou fortalecendo a revolta contra os governos nas eleições, principalmente com o voto em Milei e, por outro lado, expressado em outro setor que não compareceu (apenas 68% do eleitorado votou) e outra parte da população que votou em branco.
O fato de mais de 7 milhões de pessoas votarem em um candidato abertamente direitista, retrógrado e antidireitos mostra um giro à direita da situação, pelo menos a nível eleitoral, esse fato não pode ser negado. Combina também um voto de castigo pela expressiva parcela da população quando votou num direitista intragável, que agora enfrentará as eleições gerais como um possível vencedor que vai às urnas depois de outubro.
A votação em geral, com alto percentual votando nos setores de direita ou em Sergio Massa, que é o arquiteto do pacto com o Fundo, confirma o que afirmamos na campanha: a esquerda deve se preparar para um país complexo e em tensão. Com mais FMI, mais ajustes e tentativas de retirar direitos sociais e democráticos, com mais repressão e mais lutas sociais como resposta.
Golpe no PRO e PJ
As duas principais coalizões do país, que todos os principais meios de comunicação pró-governo e de oposição deram como primeiras forças e a quem ajudaram antes de domingo, sofreram um tremendo golpe político. Ambas foram derrotadas por Milei. As suas estruturas de gestão ficaram em crise e deixa o regime capitalista do país numa crise e incerteza cada vez mais aguda.
No caso do Juntos por el Cambio, Patricia Bullrich, com o apoio de Macri, foi a vencedora sobre Larreta, uma escolha muito fraca. A candidata não alcançou nem 20% dos votos, ficando 12 pontos abaixo de Milei que lhe roubou espaço e fala, aparecendo hoje com mais possibilidades para quem quer esse tipo de perfil e propostas. Bullrich terá que remar muito para tentar chegar no segundo turno, sem nada garantido e numa situação muito difícil nas gerais, embora, ao mesmo tempo não esteja descartado que possa avançar.
No caso do Peronismo e do Unión por la Patria, os planos não deram certo, apenas Kicillof conseguiu vencer em Buenos Aires, embora apertado. Sergio Massa apostava em ser o candidato mais votado. Não conseguiu, ficando muito atrás de Milei e, no geral, um pouco abaixo do Juntos por el Cambio. Da mesma forma, na medida em que Milei saiu vitorioso, Massa tentará crescer e entrar nas urnas aproveitando o medo de uma grande parcela da população de que Milei seja presidente. Vai apelar ao máximo para isso, começando em tentar manter todos os votos de Grabois, que fez uma boa votação, superando 5% dos votos, e tentar atrair a parcela que não votou ou votou em Larreta. O que pesa contra Massa é o atual governo, aplicando ajustes diariamente. A situação criará dificuldades.
A votação nacional da FIT-U
Nossa Frente obteve pouco mais de 628 mil votos para Presidente, vencendo a fórmula de Bregman e del Caño, sobre nossa lista de Solano e Ripoll, além de uma votação um pouco maior nos cargos legislativos. A votação ocorreu num complexo quadro de crise e giro à direita, com dificuldades para a esquerda e com o acréscimo de que a lista de Grabois atuou como contenção do descontentamento no peronismo. Nesse contexto, a votação da FIT-U foi um pouco menor do que nas eleições presidenciais de 2019, mas também refletiu um fato importante: a consolidação de uma importante faixa de eleitores que continuam a escolher a esquerda anticapitalista e socialista, apesar da difícil situação. Isso é um fato importante para resgatar. Algo que, por exemplo, não aconteceu com o Nuevo MAS de Castañeira, com uma campanha de “renovação à esquerda”, mas rejeitando a unidade na FIT-U e reduzindo em 0,35%, um grande fracasso.
A manutenção dessa importante base social operária e popular é uma conquista de nossa frente que merece ser reivindicada com um espaço de unidade da esquerda para além de todas as suas fragilidades. Nesse contexto, também deve-se ressaltar que não conseguimos avançar além e atrair uma nova parcela de descontentes ou nova parcela que opte pelo voto de castigo à esquerda. Isso, para nós, fala mais dos problemas de política e orientação que nossa Frente tem e que temos destacado insistentemente todos esses anos, antes e durante a campanha eleitoral.
Com base neste voto geral da FIT-U, valorizamos a campanha realizada por nossa lista “Unidade de lutadores e da esquerda” entre o MST e o PO, disputando em todo o país e vencendo na Cidade Autónoma de Buenos Aires, em Salta, Catamarca, Chaco, e em algumas categorias noutras províncias, com uma grande campanha também em Buenos Aires, com Alejandro Bodart como candidato a governador. Propomos um projeto de Frente mais forte, mais ativa, mais democrática, que construa a organização permanente das lutas operárias e populares e deixe de ser apenas uma frente eleitoral, algo que o PTS, equivocadamente, não tem como proposta. Não ter vencido nacionalmente nesta ocasião não elimina a necessidade de continuar lutando na Frente pelo nosso projeto, na verdade, potencializa essa necessidade.
Claro que, no âmbito desta luta política, estaremos preparados para travar uma forte batalha eleitoral dr campanha para as eleições de 22 de outubro, agora com as listas comuns de toda a FIT-U e em todo o país, com a candidatura presidencial vitoriosa e com a nossa militância do MST integrando as listas da FIT-U. Iremos com toda força contra as candidaturas de Milei, da PJ e da Juntos por el Cambio. Faremos isso como um novo capítulo na luta contra os futuros ajustes, uma luta que aprofundaremos contra o candidato e partido que governará.
Nossa vitória em CA-BA com Cele Fierro
Se há um fato importante dentro na FIT-U, é que na Capital do país, com Cele Fierro como legisladora e Vanina Biasi como Chefe de Governo, vencemos a disputa interna com mais de 65% dos votos na frente da Lista PTS e IS. Dessa forma, as duas serão candidatas em outubro, uma conquista muito marcante em nossa lista nas PASO.
Iremos em CABA (Cidade Autônoma de Buenos Aires) para uma grande luta política contra Jorge Macri, candidato do PRO, contra o peronismo de Santoro e contra Marra, candidato de Milei. Com a nossa companheira do MST, Cele Fierro, estaremos liderando a luta pelo fortalecimento da FIT-U no Legislativo, uma imensa tarefa política que assumimos com determinação e com o apoio de milhares de trabalhadores e jovens. Um local onde mais é possível obter deputados da esquerda e da nossa Frente, podendo aumentar a representatividade da nossa bancada.
Vamos travar esta batalha política com todas as nossas forças porque é muito necessária, pela importância política da Capital do país. Pelo mesmo motivo, convidamos todos os nossos simpatizantes e amigos a aderirem à campanha, pois a conquista de uma ou mais cadeiras no Legislativo será uma nova vitória política da Frente de Esquerda e do nosso partido, à disposição para fortalecer todas as lutas políticas e sociais que estão por vir na Capital e em todo o país.