Artigo de opinião de Alejandro Bodart, dirigente nacional do MST na FIT-U e coordenador da Liga Internacional Socialista, publicado no jornal argentino Pagina 12.
As imagens de Gaza que estão circulando nas redes confirmam uma crise humanitária muito grave, com sinais de barbárie. Milhares de civis mortos, quase metade de crianças. Bombardeios diários, incluindo hospitais e escolas; uso de fósforo branco, o que é proibido; um povo sem água, eletricidade ou alimentos e encurralados na faixa, cujas três saídas estão bloqueadas. É um êxodo para lugar nenhum, enquanto uma invasão militar por mar, terra e ar se aproxima. As declarações e ordens das autoridades israelenses não são direcionadas apenas contra o Hamas, mas contra a própria existência de Gaza e da população palestina. Estamos enfrentando um novo genocídio, onde a grande mídia mundial mantém um profundo silêncio.
A raiz do conflito não são as ações do Hamas, com quem temos diferenças irreconciliáveis. Em 1948, o sionismo, uma corrente política, com o apoio das potências da época, apropriou-se da Palestina com sangue e fogo. Seu objetivo: sempre foi de criar um enclave a serviço do imperialismo ianque e ocidental para garantir que pudesse manter o petróleo da região e subjugar os povos que se opunham à sua opressão. Seu método: limpeza étnica, apartheid antipalestino, ininterrupto. Isso é reconhecido por amplos setores e acadêmicos judeus, como Ilan Pappé. O mesmo acontece com a Anistia Internacional, a Human Rights Watch e os dois últimos relatórios da Comissão de Direitos Humanos da ONU.
Assim nasceu Israel, esse Estado teocrático que pôs fim há séculos de convivência pacífica entre diferentes povos e religiões. O sionismo arrasou centenas de vilarejos palestinos, assassinou milhares, expulsou centenas de milhares e roubou suas terras. Desde então, vem adotando uma política de constante expansionismo, perseguição e racismo.
Não há “dois demônios” equiparados: há o terrorismo do Estado de Israel. Basta ver como o mapa mudou desde 1948 para confirmar que há um opressor e um oprimido, que vive em prisão a céu aberto. Gaza e a Cisjordânia são minúsculas, cercadas por muros e postos militares de Israel, que controla tudo. Não pode haver “dois Estados” se um deles é genocida. O ultra-direitista Netanyahu, cuja política interna é totalitária, redobrou essa ofensiva antipalestina.
Hoje, o ataque contra Gaza tem um objetivo antidemocrático para restringir a liberdade de expressão, de imprensa e de manifestação. O sionismo e seus aliados buscam silenciar qualquer crítica aos crimes de guerra de Israel. Tentam demonizar e processar aqueles que defendem os direitos dos palestinos. Acusam aqueles que são antissionistas de serem antissemitas. Na verdade, o maior antissemita é o Estado de Israel, porque todos os povos da região, inclusive os palestinos, são semitas.
Como dirigente do MST na FIT-U e na Liga Internacional Socialista, acredito que só haverá paz com uma Palestina única, laica, democrática, não racista e socialista. Nesse caminho, hoje a urgência é parar o massacre do Estado sionista contra Gaza. Por isso, convocamos todos aqueles que defendem os direitos humanos a unir forças para cercar de solidariedade o povo palestino.