Argentina: Bodart vs DAIA. 1º dia do julgamento

Na segunda-feira, 12 de agosto, teve início o julgamento da DAIA contra nosso companheiro Alejandro Bodart, ex-deputado de Buenos Aires, dirigente do MST na Frente de Esquerda Unidade e coordenador da Liga Internacional Socialista, por defender a causa palestina.

Antes do início da audiência, foi realizada uma manifestação e uma rádio aberta em frente ao Tribunal Penal Nº 8 de Buenos Aires, na Rua Suipacha, 150, a cargo da juíza Natalia Molina. Lá, várias personalidades e representantes de inúmeras organizações de direitos humanos, sociais e políticas falaram, expressando sua solidariedade com Alejandro e que defender o povo palestino, que vem sofrendo genocídio nas mãos do Estado de Israel, não é um crime.

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No primeiro dia, falaram as testemunhas de acusação e os autores da ação: um juiz, um lobista sionista, um funcionário da promotoria, dois funcionários do INADI e um funcionário da DAIA. Como podemos ver, muito pouca independência de pensamento.

Entre suas declarações, o juiz Franco Fiumara afirmou que Israel é democrático, que 98% dos judeus são sionistas, que o Estado argentino adotou a definição de antissemitismo da IHRA e que os tweets de Alejandro são antissemitas. Tudo isso é falso:

  • Israel é um Estado teocrático (“a pátria dos judeus”), colonialista, que aplica o apartheid antipalestino, conforme reconhecido pela Comissão de Direitos Humanos da ONU, e até mesmo genocídio, reconhece apenas o direito de autodeterminação dos judeus, proíbe o retorno de palestinos exilados, concede menos direitos aos árabes israelenses, ocupa ilegalmente territórios palestinos, conforme reconhecido pelo Tribunal Penal Internacional, e até mesmo legaliza a tortura. Não é nem um pouco “democrático”.
  • Quanto ao fato de 98% dos judeus serem sionistas, o juiz não conseguiu citar uma única fonte. E omitiu que os setores judeus religiosos ortodoxos são antissionistas, assim como milhares e milhares de judeus fora de Israel, como os que se manifestam nos Estados Unidos, na Argentina e em muitos outros países, que dizem “não em nosso nome” diante dos crimes do Estado israelense.
  • A definição enganosa do IHRA, que equipara o antissionismo ao antissemitismo, não foi adotada pelo “Estado argentino”, mas apenas pelo Ministério das Relações Exteriores, mas como juridicamente não vinculante, e para a esfera administrativa; algumas legislaturas e as presidências do Senado e dos Deputados, não as duas câmaras. Em outras palavras, não é uma lei.

A segunda testemunha, um “especialista em redes” formado em literatura e funcionário da promotoria, disse, por exemplo, que o alcance potencial dos tweets de Bodart é de “mais de 74 milhões de pessoas”, buscando demonstrar uma enorme influência que gera violência antissemita. Quando questionado pelos advogados de defesa, María del Carmen Verdú e Ismael Jalil, ele teve que admitir que esse número se refere a um ano inteiro, não aos três tweets que são objeto da acusação da DAIA.

A terceira testemunha, Ariel Gelblung, diretor do Centro Simon Wiesenthal, que ele definiu como um “defensor dos direitos humanos”, declarou que “o antissemitismo moderno usa o disfarce, a máscara do antissionismo”, equiparando os dois conceitos sem corar. Isso não foi tudo:

  • Ele definiu o sionismo como “o movimento de libertação nacional do povo judeu em sua terra ancestral”, omitindo que, antes de concordar com a Grã-Bretanha em ocupar a Palestina, a própria liderança sionista considerou a possibilidade de instalar o Estado de Israel na Patagônia argentina, no extremo sul da América Latina, ou em Uganda-Kenya, na África negra.
  • Ele também condenou aqueles que “querem viver onde o outro está vivendo”, omitindo cinicamente que o Estado de Israel foi fundado em 1948, arrasando 350 aldeias palestinas, assassinando 15.000, usurpando suas terras e banindo mais de 750.000 habitantes árabes originais, que também são semitas.
  • Ele afirmou que o assassinato da jornalista palestina Shireen Abu Akleh, que motivou um dos tweets de Alejandro em repúdio, “foi uma morte indesejada, em um contexto de confronto”. Falso: foi provado que as tropas israelenses atiraram na cabeça dela, enquanto ela usava seu colete de imprensa e sem que houvesse qualquer combate.

O quarto e a quinta testemunhas, Emiliano Marilungo e Andrea González, são ex-funcionários do INADI: aquele que determinou que os tweets de Bodart são discriminatórios e sua chefe. Marilungo não conseguiu explicar por que o questionamento de Bodart sobre o sionismo, que é um movimento político, discrimina a população judaica. E reconheceu que sua opinião expressa “pseudo-jurisprudência”, “a linha definida” do órgão agora extinto.

Quando perguntado por Verdú se dizer que “acabar com o estado de apartheid sul-africano não significa exterminar a população sul-africana” ele teve que concordar com ela, ao que a própria promotora Andrea Scanga, muito nervosa, o interrogou, pois isso contradizia sua decisão contra Bodart de que “destruir o estado de Israel teria consequências terríveis para toda a sua população”?

Além disso, tanto Marilungo quanto Gonzalez negaram que houvesse algo no arquivo do INADI antes da carta oficial judicial que deu origem à decisão, quando, na verdade, o processo foi iniciado por uma queixa de Bodart contra a DAIA e até mesmo está registrado que ela recebeu “processamento conjunto” e foi renumerada. Esse relatório não foi assinado pela então diretora do INADI, Greta Pena, nem foi notificado a ambas as partes, conforme exigido pelos regulamentos internos. Vergonha total.

A sexta testemunha, Marisa Braylan, funcionária da DAIA, não escapou das falácias usuais do sionismo.

Não seremos silenciados! Continuemos a batalha pela absolvição do nosso companheiro Alejandro Bodart, pela defesa do povo palestino e pela condenação do Estado sionista de Israel, terrorista e genocida!