No capitalismo imperialista, os direitos são apenas formais. Israel também utiliza a fome como instrumento de guerra. É preciso deter o genocídio com mobilização solidária mundial. A alternativa para a humanidade é Socialismo ou Barbárie.

Por Rubén Tzanoff

Direitos que não passam do papel

Diversos Pactos, Declarações e outros instrumentos legais da “comunidade internacional” consagram a alimentação como um direito humano.

No entanto, as estatísticas globais disponíveis apontam na direção oposta. Em 2023, cerca de 733 milhões de pessoas sofreram com a fome crônica. Em 2024, mais de 295 milhões enfrentaram níveis de crise devido à insegurança alimentar. Cerca de 38 milhões de crianças menores de cinco anos sofreram de desnutrição aguda, até 3,1 milhões morreram anualmente por essa causa e 18,2 milhões de bebês nasceram em condições de fome. (Reuters, UNICEF e Save the Children).

Esses dados são parciais, mas indicam com clareza que o capitalismo imperialista transforma direitos básicos em carências permanentes.

A chaga da fome, intrínseca ao sistema, torna-se ainda mais horrenda quando os bloqueios sistemáticos são intensificados e usados como arma para matar.

Da fome estrutural à fome como ferramenta de guerra

Desde sua imposição, o Estado de Israel assedia a população palestina para fortalecer a ocupação colonial.

Com o novo capítulo de genocídio e limpeza étnica em curso, Israel também utiliza a fome como instrumento adicional aos bombardeios e à destruição em massa.

Os resultados estão à vista: desde outubro de 2023, mais de 2,1 milhões de pessoas em Gaza enfrentam insegurança alimentar crítica e meio milhão está em situação de fome extrema. A ONU advertiu que toda a população corre risco de inanição; cerca de 70.500 crianças sofrem de desnutrição aguda e 12.000 delas estão em estado grave.

Os sionistas provocaram essa calamidade destruindo terras agrícolas, infraestrutura básica de serviços, padarias, outras fontes de alimentação e bloqueando a entrada de ajuda humanitária.

A indignação e o repúdio que sentimos diante desses crimes ainda precisam de espaço para se expressar…

Uma mulher esperando os caminhões de ajuda humanitária. (Ebrahim Hajjaj/Reuters).

Quando se busca arroz e se recebe balas

As forças sionistas escalam em atrocidade ao atirar em pessoas que buscam comida.

O Escritório de Direitos Humanos da ONU (ACNUDH) confirmou que somente em um mês — entre 26 de maio e 27 de junho — 613 civis palestinos foram assassinados enquanto tentavam acessar ajuda alimentar. Destes, 509 foram mortos em locais administrados pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF)¹, com apoio dos EUA e de Israel, e 104 nas proximidades de comboios coordenados por outras agências.

Em Khan Yunis, Rafah, Tahliya e outras zonas do sul de Gaza, as Forças de Defesa de Israel (FDI) transformaram a distribuição de alimentos em armadilha mortal, disparando contra civis desarmados, como revelou uma investigação do jornal israelense “Haaretz” e confirmou o próprio exército israelense.

Palestinos esperam a entrega de comida da questionada GHF (Uncredited/Ap-LaPresse).

Imitando o colonialismo imperialista

Em sua escala, o sionismo reutiliza métodos empregados pelas grandes potências colonialistas.

Apenas para citar alguns exemplos, o Império Britânico provocou e intensificou fomes e a morte de milhões de pessoas: na Rússia soviética (1921), quando participou do bloqueio aliado; na província de Bengala, na Índia (1943), quando destruiu colheitas, confiscou transportes e negou ajuda alimentar. Os nazistas fizeram o mesmo durante o cerco a Leningrado (de setembro de 1941 a janeiro de 1944), recorrendo à inanição em massa.

Diante desses fatos, cabe uma reflexão sem prazo de validade “A política do imperialismo não poderá eliminar a necessidade, apenas torná-la mais dolorosa… É preciso matar o imperialismo para que o gênero humano possa continuar a existir” (Trotsky, Relatório à Internacional Comunista, 1924).

É preciso deter o rumo da barbárie

O genocídio e a violação de direitos humanos são cada vez mais rechaçados pelas mobilizações ao redor do mundo. Mas o cinismo dos poderosos permanece. Nem a ONU, nem as grandes potências, nem a União Europeia tomaram medidas efetivas, enquanto Trump continua fornecendo armamento e respaldo a Netanyahu. Exijamos a ruptura imediata de relações e tratados com Israel e o boicote a todos os seus produtos!

A mobilização solidária precisa romper o bloqueio, pôr fim ao genocídio e lutar por uma Palestina única, laica, não racista, democrática e socialista. A disjuntiva para o Oriente Médio e para o mundo segue sendo: Socialismo ou Barbárie.

1. GHF: é um grupo privado respaldado por Israel e EUA, apontado por organismos palestinos como imposto sem consulta ou controle local e vinculado ao assassinato de pessoas que buscavam ajuda nas proximidades de suas instalações. Atualmente, aparece ligado ao plano israelense de expulsão em massa da população civil palestina de Gaza para Rafah.

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