Por: Equipe Estudantil de ¡UNÍOS! – Universidade Nacional
Nem rir, nem chorar, compreender
O desfecho fatal do atentado contra Miguel Uribe Turbay, após dois meses em cuidados intensivos, provocou múltiplas declarações e pronunciamentos de organizações políticas e sociais, líderes de opinião e influenciadores nas redes digitais. Foi inevitável que muitos desses pronunciamentos gerassem polêmicas radicais nas quais predominam emoções básicas, expressão das profundas contradições que dividem o país. Por isso, houve quem criticasse o pronunciamento de ¡UNÍOS! sobre o falecimento de Uribe Turbay, qualificando-o como “tibio” ou usando adjetivos provocadores: “não faltam os reacionários, revisionistas, reformistas e contrarrevolucionários com suas condolências (…) bem morto está!!!”.
Semeie ventos e colherás tempestades
Pela natureza do personagem que desperta tais sentimentos, compreendemos esses comentários. Mas, como revolucionários marxistas, cabe-nos agir com a firmeza e a frieza próprias de quem se propõe que a classe operária mundial se auto-organize, tome o poder, elimine a propriedade privada dos meios de produção — e, de passagem, a classe burguesa que os monopoliza — e comece a construir uma nova sociedade sem explorados nem oprimidos e sem exploradores nem opressores. Não aspiramos a uma sociedade sem conflitos, mas sim sem violência irracional. Nesse propósito, somos inflexíveis, inabaláveis e estamos dispostos a ir até às últimas consequências. Nosso recurso é a organização militante e a luta, a luta de classes. Por isso, renunciamos ao atentado pessoal, à ação vanguardista ou ao terrorismo. Mas tampouco alimentamos ilusões na mudança gradual, reformista ou na mera atividade eleitoral dentro do marco restrito da democracia burguesa: a democracia dos ricos e de seus agentes políticos. Era esse o campo no qual Miguel Uribe Turbay atuava e pelo qual se apresentava como candidato presidencial em nome do que há de mais reacionário em sua classe.
Compartilhamos as críticas contundentes de quem, desde o atentado contra Uribe Turbay, destacou as declarações misóginas que fez, enquanto Secretário de Governo, diante da tragédia de Rosa Elvira Celis; sua justificativa para o assassinato de Dylan Cruz pelas mãos de um agente do ESMAD; ou a repressão contra a rebelião social. Não temos nenhuma dúvida sobre o caráter ultrarreacionário de suas posições políticas. Ao extremar seus discursos a favor de uma “mão dura”, buscava unificar, em torno de sua candidatura, o eleitorado que vê no aumento da criminalidade comum o principal problema a resolver. Queria galvanizar em torno de si o setor da população que, nas últimas eleições presidenciais, apoiou Rodolfo Hernández — que, além disso, se apresentou como combatente da corrupção nas instituições do Estado.
Mas as contradições que atravessam a Colômbia não se limitam à gravíssima desigualdade social que atinge a maioria da população, que sobrevive na pobreza mais degradante ou carece de qualquer esperança de futuro — como o jovem sicário que serviu de instrumento para o atentado contra Uribe Turbay. Há também uma disputa violenta entre as próprias frações da burguesia, os latifundiários e as transnacionais ou setores empresariais que podemos chamar de “lumpemburguesia”, que lucram com a economia do narcotráfico, a mineração ilegal ou a pilhagem de recursos naturais como madeiras nobres ou espécies exóticas. Nessa disputa, também participam organizações que se autodenominam insurgência político-militar e utilizam métodos que repudiamos, pois não contribuem para os processos de organização e luta dos trabalhadores, do campesinato pobre, da juventude das periferias ou das comunidades indígenas e afrodescendentes. Nesse rio turvo — uma verdadeira panela de podridão — Uribe Turbay foi vítima das mesmas forças que pretendia conjurar.
Ainda não se sabe quem foram os mandantes do assassinato; chamá-lo de “magnicídio” não passa de um qualificativo elitista. E é provável que nunca se saiba. As instituições autoritárias do Estado burguês colombiano e o imperialismo utilizam hoje todos os pesos e contrapesos ao seu alcance para definir “a verdade oficial”. Tanto os agentes do Estado (desde a Presidência até o último juiz de plantão, investigadores da Promotoria, ou os seguranças que o escoltavam e até os próprios assessores ianques) como os grandes meios de comunicação da grande burguesia sabem que devem respeitar as “regras do jogo” para preservar seus salários… e suas vidas.
Lucro de pescador
Hoje, a situação política colombiana é um rio turvo. E, nesses rios, há “lucro de pescador”. O último ano de governo de Gustavo Petro será marcado pela pesca de votos. A ultradireita colombiana acaba de encontrar um “mártir” e, com sua imagem simbólica (e o sobrenome do presidiário de El Ubérrimo), pode tentar encontrar unidade em torno de um candidato ou candidata que se aproprie de seu “legado”. O povo colombiano será novamente convocado a uma falsa polarização eleitoral: “retrógrados vs. progressistas” ou “esquerda vs. direita”. Com essa cortina de fumaça, se esconderá a verdadeira contradição: trabalhadores vs. capital. É essa contradição que devemos enfrentar, em cada protesto, cada mobilização, cada paralisação, cada greve.
Quando os socialistas revolucionários nos pronunciamos dizendo que “Nossas diferenças políticas com a força que representava o senador Uribe Turbay (…) não nos impedem de compreender a dor de sua família, dos seguidores do Dr. Uribe e, novamente, rejeitar o atentado que ocasionou sua morte e o uso desses métodos no atual processo político do país”, não fazemos mais do que seguir o conselho do filósofo racionalista Baruch Spinoza: “Non ridere, non lugere, neque detestari, sed intelligere” (“Não rir, não lamentar nem detestar, mas compreender”). É nossa obrigação “compreender” (não nos compadecer-se ou apresentar condolências aos nossos inimigos de classe) as dezenas de milhares, talvez milhões, de colombianos que hoje se solidarizam com a família Uribe Turbay e que podem ser arrastados para a armadilha das urnas, a fim de apoiar a proposta política que ele representava como candidato.
E àqueles que nos criticam de forma exaltada pelos termos que usamos, convidamo-los a serem coerentes e criticar a decisão do governo de Gustavo Petro de declarar um dia nacional de luto pelo assassinato. Caso contrário, só poderemos concluir que se somam ao coro de hipócritas que inflamam as redes, mas não movem um dedo para desencadear a luta social amarrada pelo “feitiço reformista” do progressismo.




