A suspensão da última etapa da Volta em Madri, tomada por milhares de manifestantes pró-palestina, desencadeou uma tempestade política internacional. Enquanto Israel e a direita espanhola atacam os manifestantes, Pedro Sánchez tenta conter a indignação popular com gestos tímidos. O aumento da ofensiva israelense sobre Gaza obriga a uma resposta mobilizada, generalizada e em massa. De uma perspectiva socialista revolucionária, a ação nas ruas demonstra que só a mobilização operária e popular pode frear o genocídio sionista e abrir caminho para uma Palestina única, democrática e socialista.

Por Flor Salgueiro

Com representantes do Estado genocida, a Volta não termina

Em 14 de setembro, a última etapa da Volta Ciclística à Espanha em Madrid terminou em caos. Milhares de manifestantes pró-palestina ocuparam as ruas e derrubaram barreiras para denunciar a presença da equipe israelense “Israel–Premier Tech”, representante do Estado que perpetua um genocídio e provoca fome contra o povo palestiniano.

A organização improvisou mudanças no percurso, mas finalmente cancelou a etapa faltando 43 km. A entrega dos premios foi suspensa e o pelotão abandonou a cidade, enquanto as ruas de Madrid se transformavam em palco de resistência contra o apartheid sionista e as investidas de uma operação composta por 1.500 polícias.

A reação do sionismo e da direita espanhola

Horas depois da ação na Volta, cinicamente, Netanyahu acusou Pedro Sánchez de “encorajar” os manifestantes e classificou o ocorrido como “vergonhoso”. O Partido Popular alinhou-se imediatamente com Tel Aviv: Feijóo afirmou que um presidente “não pode incentivar a violência entre compatriotas”, defendendo implicitamente um Estado que bombardeia a população civil, bloqueia a ajuda humanitária e mata Gaza de fome. Este fechamento de fileiras revela como as direitas europeias são cúmplices ativas do colonialismo israelense.

As ações expõem e questionam os governos

O que está acontecendo é o oposto do que dizem o governo ultradireitista israelense e os seus cúmplices.  

Perante o impacto internacional, o governo espanhol tentou apresentar-se como sensível à indignação popular. Ministros socialistas expressaram “orgulho” pelas manifestações e questionaram a participação israelense em competições esportivas. No entanto, para além das declarações, o Executivo não interrompe todas as relações com Israel, continua a defender a estratégia falida dos “dois Estados” e evita qualquer ruptura real com o sionismo.

O que realmente está acontecendo no Estado espanhol, em outros países da União Europeia e do mundo é que está sendo expressa uma solidariedade sem precedentes com a Palestina, que expõe e interpela a inação e a cumplicidade dos governos e os obriga a “fazer algo”, mesmo que seja limitado, mas crítico, contra as ações criminosas de Israel.

A resistência palestina motiva uma solidariedade sem precedentes

Nem as bombas, nem a fome conseguiram subjugar o povo palestino. Tal sofrimento e resistência durante mais de 70 anos continuarão a ficar gravados nas páginas mais dignas da humanidade.

E é isso que motiva a solidariedade de organizações políticas, sociais, de trabalhadores, professores, estudantes, direitos humanos; de personalidades das áreas artísticas e desportivas e de ativistas de diferentes origens sociais e políticas. Exigem o fim do genocídio e do bloqueio humanitário, o rompimento dos governos com Israel e alertam sobre medidas mais contundentes se a ofensiva de ocupação de Gaza continuar ou se a Global Sumud Flotilla (GSF) for atacada.

Conquistar as ruas com urgência e em massa

A intensificação da ofensiva criminosa sionista com bombardeios, declarando Gaza “zona de combate perigosa”, forçando a população a deslocar-se para uma suposta “zona humanitária” e lançando uma ofensiva terrestre desde 16 de setembro, está provocando um êxodo em massa, mais fome e ocupação territorial, tudo com o aval dos EUA.

Diante da dramática situação do povo palestino, temos que multiplicar e massificar o apelo a ações e mobilizações unitárias em todo o mundo.

Mais pressão popular para que as fissuras se transformem em rupturas

A reação da mobilização num evento massivo como a Volta demonstrou mais uma vez que a pressão nas ruas, o boicote aos interesses israelenses e a mobilização são as melhores ferramentas de luta, que dariam uma reviravolta qualitativa se unidas em paralisações parciais e greves gerais que paralisassem países em solidariedade com o povo massacrado.

Desde a Liga Internacional Socialista (LIS) chamamos à realização de ações unitárias exigindo que os governos rompam relações diplomáticas, militares e comerciais com Israel. Vamos quebrar o bloqueio sionista à ajuda humanitária e forçar o envio de apoio efetivo a Gaza. Exigindo proteção efetiva à GSF e a toda ação solidária internacional que desafie o cerco. E, ao mesmo tempo, não deixaremos de rejeitar a armadilha dos “dois Estados”, que apenas perpetua a limpeza étnica e a ocupação. Somos a favor de uma Palestina única, laica, democrática, não racista e socialista, como parte de uma revolução socialista em todo o Oriente Médio que acabe com as monarquias, as ditaduras e os traidores nos próprios governos árabes que se ajoelham perante as potências imperialistas e o colonialismo.