Receita do regime ditatorial de Mulino e de sua Ministra do Trabalho para garantir a aplicação do plano de ajuste econômico
Carlos Ernesto Guevara Villar
Simpatizante da Liga Internacional Socialista
A recente luta contra a reforma do sistema de seguridade social, os memorandos de entendimento com o imperialismo estadunidense e o avanço do extrativismo minerador revelou o que por anos foi um segredo conhecido: a presença de direções burocráticas dentro do movimento operário, dispostas a vender sua alma ao diabo — neste caso, ao regime vigente e à patronal — para conservar seus privilégios econômicos.
Essa cumplicidade se traduz na entrega de direções combativas, como as dos trabalhadores da construção (Suntracs) e dos sindicatos da educação (Asoprof, Aeve, entre outros), assim como na renúncia a históricas conquistas trabalhistas: salários dignos, proteção do meio ambiente, condições de trabalho seguras, liberdade sindical, direito de greve e negociação coletiva, todas obtidas após árduas lutas que custaram inúmeros mártires em todo o país.
Isso explica por que nem a CONATO (trabalhadores do setor privado) nem a FENASEP (servidores públicos) convocaram uma greve geral antes ou durante os momentos de semi-insurreição que o país viveu, em especial em zonas como Darién e Bocas del Toro, onde a população, cansada de sua situação, levantou-se espontaneamente para lutar por suas próprias reivindicações. Pelo contrário, essa burocracia — que hoje, sem pudor algum, se alia ao regime ditatorial de Mulino e à sua Ministra do Trabalho — foi a mesma que, de forma vergonhosa e até criminosa, em pleno desenvolvimento da greve, chamou a um “diálogo”. E não como uma saída política para evitar uma derrota, mas para garantir sua parte do seguro educativo, ignorando as consignas e demandas do movimento que se opunha a medidas lesivas para as e os trabalhadores.

Recentemente fomos testemunhas de como essa burocracia operária, pelega, complacente e entregue ao regime pró-empresarial e pró-EUA de Mulino, aliou-se de forma ilegal e arbitrária com a ministra do Trabalho do governo de ultradireita para destituir a companheira professora Nelva Reyes da direção da Central Geral de Trabalhadores do Panamá (CGTP). Trata-se de uma manobra que pretende substituir uma histórica lutadora anti-imperialista, defensora incansável dos direitos da classe trabalhadora e referência nacional e internacional da esquerda revolucionária, por uma direção submissa, disposta a colocar-se sem o menor rubor ao lado do governo e da patronal.
Esse golpe interno não busca apenas silenciar uma voz incômoda, mas também pavimentar o caminho para a imposição de novas medidas de ajuste em âmbitos tão sensíveis como a educação superior, o acesso à água, a mineração, a legislação trabalhista e o sistema tributário. Ao afastar quem defende princípios e conquistas históricas, essa aliança burocrática-governamental tenta enfraquecer a capacidade de resistência da classe trabalhadora, comprometendo direitos conquistados com décadas de luta e sacrifício.
Como bem adverte o velho dito popular: “para mentir e comer peixe, é preciso muito cuidado”. E foi exatamente isso que vimos ontem, quando representantes do Ministério Público — instrumento do aparato repressivo do Estado burguês — foram publicamente repreendidos por um juiz de garantias ao tentar abrir uma investigação penal contra a companheira Nelva Reyes, sem um só indício que demonstrasse a comissão de algum delito nem a vinculação de qualquer pessoa. Essa manobra inscreve-se na ofensiva de criminalização contra as e os lutadores operários e populares.
É evidente que o regime aprofunda sua campanha, desta vez contra a companheira professora Nelva Reyes, a quem, mediante manobras ilegais e com a aberta cumplicidade do Ministério do Trabalho, foi arrebatada a direção da combativa Central Geral de Trabalhadores do Panamá (CGTP). Para consumar esse atropelo, valeram-se de dirigentes sindicais pelegos, dóceis ao capital e dispostos a servir de correia de transmissão da patronal e do Estado.
Esse atropelo não só merece o mais amplo repúdio do movimento sindical e popular, como exige uma resposta política unitária e combativa. Fica demonstrado, mais uma vez, que a chamada legalidade burguesa, administrada por um aparato judicial carcomido pela corrupção, não passa de um instrumento para legitimar a ofensiva contra a classe trabalhadora. Frente a isso, apenas a organização consciente e a mobilização das e dos trabalhadores poderão deter a criminalização da luta social.
Seguimos atordoados após a recente greve. Mais além de que alguns a classifiquem como derrota ou “vitória parcial”, a realidade é que o movimento permanece na defensiva, em uma perigosa retaguarda. Desde o fim da luta não surgiu um chamado contundente ao reagrupamento em uma frente única, democrática e combativa, que articule todos os setores com um programa de ação que retome as velhas bandeiras de luta e incorpore as novas consignas que a crise impõe.
Enquanto isso, o plano de ajuste avança a cada dia. O regime ditatorial de Mulino sabe disso e, por isso, persegue, criminaliza e judicializa quem luta, intervindo e cooptando as organizações operárias com a cumplicidade da burocracia pelega de sempre. Seu objetivo é claro: desarmar politicamente a classe trabalhadora para facilitar a ofensiva do capital.
Frente a isso, urge reagrupar-nos em uma direção revolucionária, que supere o desgaste dos velhos aparelhos e convoque trabalhadores, trabalhadoras, camponeses, povos originários, juventudes e setores populares. Só assim poderemos resistir à investida do governo pró-empresarial e abrir caminho para a verdadeira alternativa: um governo dos trabalhadores e do povo, que rompa de uma vez com o imperialismo, repudie o pagamento da dívida externa, expulse as transnacionais mineradoras, nacionalize os recursos estratégicos — incluindo o Canal do Panamá — e coloque toda a riqueza nacional a serviço das maiorias exploradas.
Panamá, 24 de setembro de 2025




