O texto a seguir é nosso primeiro artigo de uma longa série: Notícias palestinas. A motivação é a vontade de romper com o silência e vencer o veneno informativo, que são arames farpados invisíveis contra um povo que luta sem trégua contra uma das piores formas de opressão: a opressão colonial do apartheid justificado por uma ideologia puramente racista, a ideologia sionista.
La Comuna – Paris, 24/11/2018
O que sabemos
Para a comemoração do 11N, data da assinatura do armistício que colocou fim na I Guerra Mundial, em 1918, Benjamin Netanyahu e sua esposa – entre outros – são convidados ao Palácio do Elíseo do presidente francês. Ele aproveita a oportunidade para lançar o primeiro “foro da paz” e ali esperam vários chefes de Estado. Durante a tarde, Netanyahu descartou qualquer possibilidade de acordo e solução diplomática com Gaza, comparando ao enclave palestino com o Estado Islâmico.
Sabemos que desde 2007 a Faixa de Gaza é governada pelo Hamas, que é sunita e pertence ao movimento dos “irmãos muçulmanos”. O Hamas está muito presente e ativo no enclave palestino.
Desde de outubro, o abastecimento de combustível para alimentar a única central de gás é realizada através do distribuição de Qatar. Velhos amigos do Hamas, decidem “oferecer” seis meses de abastecimento ao enclave palestino, o equivalente a 60 milhões de dólares.
A ONU se faz de mediadora e Israel deixa passar os caminhões-cisterna, para desgosto de Mahmud Abbas, o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP) que representa ao outro governo palestino: Fatah. E que vê ali como o Hamas confirma seu controle exclusivo sobre Gaza.
Na jornada do 10N: Qatar envia dinheiro para 50.000 de famílias
No 10N, o Qatar oferece a 50.000 de famílias necessitadas no enclave – ainda sob bloqueio, depois de onze anos – o equivalente a cem dólares cada uma. Também transferiu 15 milhões de dólares para pagar salários atrasados e faturas em aberto do governo de Abbas.
Tão amarga é a verdade: o nefasto rol da Autoridade Palestina-Abbas
A Autoridade Palestina e seu presidente espalharam o grito pelo céu: desde o inverno 2017-2018 eles haviam sancionado aos gazanos e ao Hamas congelando os salários dos funcionários públicos e deixando de pagar a energia, afundando Gaza na escuridão e no frio.
Provocação sangrenta fracassada das forças especiais do exército israelense
Na noite de 11 e 12N, a imprensa palestina informaram que foram ouvidas várias explosões próximas de Jan Yunes, no sul do enclave palestino. Pouco depois, o Hamas informou que um de seus oficiais acabava de ser assassinado durante uma operação de infiltração inimiga.
Comunicado das brigadas Ezzedine al-Qassam, ala militar do Hamas: “Uma força especial do inimigo sionista se infiltrou esta noite a bordo de um automóvel civil na área de Jan Yunes… Assassinaram ao chefe da nossa unidade e causaram vários mártires entre nosso povo.”
De sua parte, o exército israelense, em uma breve declaração, confirma a operação sem dar mais detalhes: “Durante uma operação das Forças Especiais das FDI na Faixa de Gaza houve uma troca de tiros. Durante este incidente, um oficial do exército israelense foi assassinado e outro levemente ferido…”
Netanyahu, nesse momento na França, decide regressar. Logo depois do anúncio da operação de infiltramento, Avigdor Lieberman, ministro da Defesa de Israel, foi para Kyria – quartel general do exército – para estabelecer um perímetro seguro para todas as localidades israelenses que rodeiam Gaza…
Pouco antes das 22:30, os israelenses instalaram alertas em vários lugares e estabeleceram uma “cúpula de ferro” de segurança para interceptar possíveis mísseis palestinos. Dois projéteis foram interceptados muito rapidamente – dizem, sem provas. Este ataque ocorreu quando o Egito negociou o cessar-fogo entre os dois envolvidos e Israel até concedeu as entregas de petróleo do Qatar para evitar que exploda uma nova guerra.
A gênesis do ataque israelense
A resistência respondeu firmemente ao infiltramento de uma unidade do exército da ocupação. Um oficial das brigadas al-Quassam, do Hamas, é assassinado pelos sionistas. Fracasso da infiltração, bombardeios sionistas para recuperar os infiltrados, morte de um dirigente do exército sionista.
A resistência golpeia os assentamentos fronteiriços de Gaza, Ashkelon e Beer Sheba, cidades ocupadas. Os colonos fogem, e a defensa sionista segue sem poder se opor aos foguetes da resistência.
A resistência unificada ataca um ônibus do exército ocupante e filma o ataque, enviando uma mensagem clara aos sionistas: suas forças estão sob vigilância e a resistência pode atacar a qualquer momento!
O exército sionista bombardeia o prédio do canal de televisão al-Aqsa para recuperar o vídeo “escandaloso” que mostra sua debilidade apesar de suas armas, seu exército super treinado e seus serviços de inteligência mais modernos (Mossad e Shin Beth).
A resistência golpeia mais, até o anúncio de um cessar-fogo supervisionado pelo Egito.
Cessar-fogo e fúria dos colonos
Esta é a gota que transbordou o copo entre os colonos sionistas, que denunciam a covardia de Netanyahu. O acusam de ser débil e estar de joelhos diante do Hamas!
Primeiro renunciou Sofa Landver, ministra da Imigração. Depois Lieberman, que acredita que o acordo com grupos palestinos armados é uma “capitulação diante do terrorismo” e exige eleições antecipadas.
O que fica por elucidar
Ainda existem muitas perguntas sem resposta. Netanyahu estava na França, sem dúvida como temos ouvido, e poderia ter ordenado a operação a distância ou tê-la preparado antes de sua partida. Um ex-general israelense disse para a BBC que acredita que o “incidente” é provavelmente uma operação de compilação da inteligência que terminou mal. As operações terrestres israelenses são muito raras: a última vez que voltaram à Faixa de Gaza foi em 2014.
Mas também o momento escolhido deixa interrogações. Conversas de trégua negociadas entre o Egito, a ONU e o Qatar (que resolve alguns atrasos da ANP). Nunca durante estes últimos dias o Abbas falou algo ou fez um comunicado. Os objetivos desta operação seguem sem estar claros e seus patrocinadores tampouco. Teremos que esperar algumas semanas para saber um pouco mais e podermos ver um pouco mais claro.
Enquanto isso é uma vitória para o povo palestino unido em torno da resistência, tanto os refugiados como os palestinos de 1948.
Na noite do cessar-fogo, Gaza celebra sua vitória e os sionistas mastigam sua derrota… Foi a unidade do povo palestino e sua resistência aos sionistas que se expressou nas ruas!