Por Anatoly Matsveyenka
No dia 9 de agosto na Bielorrússia devem realizar as eleições presidenciais. As eleições não passam de um teatro: por 26 anos, o Presidente Lukashenka elege a si mesmo, repetindo esse ritual sagrado a cada cinco anos.
Não podemos dizer que o povo da Bielorrússia suporta silenciosamente essa burla a Constituição e aos seus direitos eleitorais. A última manifestação importante dos que não estavam de acordo com os resultados oficiais da votação ocorreram em 2010, quando mais de 60 mil pessoas compareceram a Minsk. O protesto pacífico foi brutalmente reprimido pelas forças anti-motim do Ministério do Interior, e 7 ex-candidatos à presidência foram presos e colocados na prisão pela KGB. Após o arrependimento público, os prisioneiros foram libertados, com exceção de Mikalay Statkevich (líder do Partido Social Democrata “Hramada”), que se negou a admitir sua culpa na organização de tumultos e foi sentenciado a 6 anos em uma prisão de segurança máxima.
As mulheres bielorrussas lideraram a luta contra o regime de Lukashenka
A atual campanha eleitoral difere qualitativamente de todas as anteriores. Inesperadamente, além dos tradicionais spoilers de pseudo-oponentes de Lukashenka, surgiram novas pessoas para liderar a corrida presidencial: o popular blogueiro do canal Telegram “País para se viver”, SiarheyTsikhanouski; o gerente do banco Belgazprombank, Viktar Babaryka e o diplomata, executivo estatal e fundador do parque de alta tecnologia na Bielorrússia, Valery Tsapkala.
O apoio que esses três obtiveram chocou as autoridades. Por exemplo, somente no grupo de Viktar Babaryka, mais de 10 mil pessoas entraram durante uma única semana. Em praticamente todas as cidades da Bielorrússia, as pessoas alinhavam enormes filas para dar suas assinaturas para a nomeação desses três candidatos. A coleta de assinaturas se transformou espontaneamente em protestos em massa, durante um dos quais Siarhey Tsikhanouski foi preso. Agora apresentaram contra ele acusações de organização de distúrbios e obstrução do funcionamento da Comissão Eleitoral Central (CEC). Siarhey Tsikhanouski já está preso no centro de detenção há dois meses e corre o risco de ser condenado a 10 anos de prisão. Imediatamente após a prisão de Tsikhanouski, sua esposa Svyatlana Tsikhanouskaya apresentou uma solicitação para ocupar seu lugar e rapidamente coletou o número necessário de assinaturas.
A próxima vítima do regime foi Viktar Babaryka, acusado de fraude financeira, mesmo que por 20 anos o Estado não tivesse nenhuma reclamação sobre suas atividades bancárias. Junto com Viktar Babaryka, foi preso o seu filho, Eduard, e pouco depois, amigos da família e funcionários do banco.
A resistência não para: a palavra deve que ser tomada pelos trabalhadores
As prisões dos verdadeiros oponentes de Lukashenka provocaram enormes protestos pacíficos na Bielorrússia que foram brutalmente reprimidos pelas forças policiais especiais. Os protestos surgem não apenas na capital e nos centros regionais, mas praticamente em todas as grandes cidades do país. Essa grande mobilização territorial é algo nunca antes visto na Bielorrússia de Lukashenka. Milhares de detidos e condenados, multas enormes, detenções administrativas e processos criminais: o governo usa todo o arsenal disponível para reprimir a vontade do povo.
Mesmo assim, o número de manifestantes não diminui, pelo contrário: a retaliação tem o efeito oposto. O protesto não apenas ativa a criatividade espontânea, mas também se destaca por ações de solidariedade em larga escala em apoio aos reprimidos. A campanha financeira para pagar multas está ocorrendo em todo o mundo. Em muitos países, são organizadas ações de apoio onde os participantes exigem a libertação de todos os presos políticos.
É bastante óbvio que na Bielorussia está surgindo uma nova força política cuja base social é a chamada “classe criativa”. Estamos testemunhando o surgimento de um sujeito político que é fundamentalmente diferente daqueles que existiam antes.
Na vanguarda do movimento de protesto estão principalmente os jovens – não pobres e suficientemente independentes, não sujeitos a contratos de trabalho precários com organizações e empresas estatais. Existem muitos representantes de TI e freelancers de várias profissões criativas. Pouco a pouco, trabalhadores e idosos aderem a esse turbilhão de protestos. Alguns coletivos de mineração de Salihorsk apoiaram os protestos e anunciaram a necessidade de uma greve política em toda a Bielorrússia. Iniciativas revolucionárias estão surgindo em outras grandes empresas da Bielorrússia: está se formando um entendimento geral de que é impossível vencer essa luta sem uma greve nacional.
Nova realidade e novas alianças
Resta pouco tempo e Lukashenka está pronto para fazer qualquer coisa para preservar seu poder. A probabilidade de que a vitória de Svyatlana Tsikhanouskaya seja reconhecida pelo CEC é praticamente nula. Também é quase impossível derrubar o regime nas ruas: a ditadura continua forte e perigosa.
No entanto, o processo iniciado pela atual campanha eleitoral já é irreversível. Lukashenka perdeu em tudo, exceto no uso da força. Mais cedo ou mais tarde o protesto alcançará sua consciência crítica e o ditador não saberá como resistir.
A degradação política das autoridades é acompanhada por uma rápida crise econômica e da epidemia COVID-19, pela qual, além das palavras de Lukashenka sobre sua vitória sobre a pandemia na Bielorrússia, praticamente nada tem feito, enquanto as informações reais são acobertadas.
O espírito do protesto adentra nos setores da população que sempre votaram em Lukashenka todos esses anos. É óbvio que um novo sujeito revolucionário começará a se cristalizar tanto de cima como de baixo, e pode muito bem se transformar em um movimento de massa popular, formado organizacionalmente e pronto para continuar a luta contra a ditadura. Há alguns dias, a equipe conjunta SvyatlanaTsikhanouskaya anunciou a fundação do Comitê de Unidade Nacional.
Aproxima-se tempos difíceis, o que exigirá novos sacrifícios e trará novos desafios. Somente o tempo mostrará o quão preparado estarão os bielorrussos para tudo isso. Todos devemos entender claramente que não há crime que a ditadura não cometeria para manter sua preservação.
Só podemos ganhar se todos os trabalhadores se unirem.
Não à ditadura!