Brasil: Entrevista com Glauber Braga, Deputado Federal (RJ) e pré-candidato a Presidente da República pelo PSOL

Glauber Braga PSOL

Compartilhamos a entrevista realizada pela Liga Internacional Socialista – LIS com o companheiro Glauber Braga, Deputado Federal pelo Rio de Janeiro e pré-candidato a Presidente da República pelo PSOL. A pré-candidatura é impulsionada por um conjunto de organizações do partido e apoiadores do manifesto programático em defesa das bandeiras históricas do PSOL, atualmente ameaçadas por setores que pretendem refundar e incorporar o partido na frente da conciliação de classes promovida pelo PT.

Caro Glauber, o 29M foi um dia de grandes mobilizações no país, qual o seu balanço?

Glauber Braga: Primeiramente, obrigado pela oportunidade de conceder essa entrevista. O dia 29 teve peso fundamental. O Brasil organizado em suas mais variadas regiões para dizer um BASTA a essa política que está sendo tocada por Jair Bolsonaro. Mais de 116 milhões de pessoas passam por algum tipo de insegurança alimentar no Brasil. Milhões de pessoas morrendo de fome. Uma política de morte implementada pelo Ministério da Saúde, com orientação de Bolsonaro, que já matou mais de 460 mil pessoas. E eles ainda usam o período de pandemia para tentar passar a boiada com privatizações e contrarreformas. O que faz essa turma recuar é a organização, é a mobilização do povo brasileiro. O dia 29 foi uma demonstração contundente de que a maioria da população brasileira não aguenta mais e que Bolsonaro tem que sair da presidência da república imediatamente.

Por que você acha que Lula não participou ou não mobilizou para o 29M?

GB: Então, eu acho que quem melhor pode responder a esse questionamento são exatamente as forças políticas que tomaram uma decisão de não engajamento, de não colocar todas as suas energias para o dia 29. De nossa parte, consideramos que a terceirização para o próximo ano nas expectativas para a derrota de Bolsonaro, ou a terceirização nas instituições para fazê-lo, é um erro. Temos que colocar todas as energias para derrotar Bolsonaro e sua política para já. E isso se faz com mobilização e articulação popular. Se tivermos uma expectativa demasiada com os instrumentos ou com os instrumentos ou  instituições burguesas para essa derrota, podemos estar cometendo um grande erro. Até porque na aplicação da agenda ultraliberal, se reúnem a extrema-direita e a direita liberal, que se fantasia de centro, para aplicar a mesma agenda de desmonte. E parte significativa dessa direita que se fantasia de centro é quem domina a orientação de parte das instituições brasileiras. Apostar e trabalhar pela organização popular para que o povo derrote Jair Bolsonaro, a nosso ver é o melhor caminho.

Como você vê a estratégia do PT e qual a sua opinião sobre a orientação de setores do PSOL em conformar uma Frente Ampla com Lula na cabeça.

GB: A militância do PSOL ainda vai tomar essa decisão, seja no Congresso em setembro ou na Conferência Eleitoral do próximo ano. Coloquei meu nome a disposição como pré-candidato presidencial com o apoio de um conjunto de forças políticas do partido e esta pré-candidatura nasceu com três tarefas imediatas: a primeira, mostrar que se pode ser pré-candidato sem terceirizar todas as expectativas para a via eleitoral do próximo ano; segundo, o programa anticapitalista em diálogo com os movimentos sociais, sociedade civil organizada que tenha a capacidade de não ser sectária, mas que tenha radicalidade política e que seja popular. Não podemos nos esconder debaixo da mesa. Temos que nos apresentar por completo; e a terceira tarefa, não dar as costas àquele sentimento de unidade de esquerda que a vanguarda mais ampliada ou os que rejeitam o governo Bolsonaro pedem, mas não aceitamos ser capturados pela direita liberal que se disfarça de centro. Não cabem nessa mesa o Doria, Mandeta, Moro, Paes, Maia, Lemann e companhia. Um programa de esquerda que não tem medo de dizer que é anticapitalista, que está à disposição do fortalecimento da estratégia socialista.

Há espaço para uma proposta radical de esquerda?

GB: Acho que há muito espaço no Brasil para o fortalecimento da esquerda radical. Cada vez vejo mais jovens se mobilizando, se organizando para defender a estratégia socialista. E digo mais, só conseguiremos superar o Bolsonaro e aqueles que lhe sustentam com um projeto que seja da esquerda radical. O que sustenta Bolsonaro? A agenda ultraliberal de desmonte das garantias sociais, a agenda de ampliação do Estado penal e punitivo e vários fundamentalismos. Sem um projeto radical, você não enfrenta isso, não derrota essas estruturas. Essa é a tarefa do PSOL, essa é a tarefa da esquerda radical. O fortalecimento da estratégia socialista para superar este capitalismo bolsonarista. É por isso que não podemos ter medo de defender um programa anticapitalista.

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O manifesto de lançamento da sua pré-candidatura propõe quatro eixos. Quais são?

GB: A proposta inicial do manifesto é muito mais ampla do que isso, quem quiser é só procurar “Manifesto Glauber”, mas vou fazer um resumo.

Primeiro eixo: derrotar o rentismo e o neoliberalismo. Estatização do sistema financeiro, referendo revogatório das medidas de privatizações e contrarreformas.

Segundo: derrotar o latifúndio e a política de destruição ambiental com uma mudança do modelo atual de agroexportador para um modelo de fortalecimento da agroecologia e da agricultura familiar, protegendo o conjunto dos nossos biomas.

Terceiro: fortalecimento do serviço público em suas garantias sociais, “Super SUS” (Sistema Único de Saúde), universalização das áreas públicas de saúde e educação pública, enfrentando os interesses do setor privado de saúde e educação. Não podemos naturalizar que em um período de pandemia, tenhamos bilionários da saúde privada. Isso é um absurdo e tem que ser enfrentado para fortalecer o público.

Quarto: enfrentamento ao racismo estrutural, a LGBTfobia, ao machismo e ao capacitismo com  planos decenais em diálogo com o conjunto das forças e movimentos sociais que vem fazendo esse enfrentamento há tempos.

Algo mais que não te perguntamos e que considera importante? GB: Agradeço pela entrevista, repito que estamos passando por um momento muito difícil, já falei sobre isso mas quero repetir. No Brasil, nossa mobilização nas ruas é por uma necessidade política, não é um capricho ou desejo, é pela sobrevivência. Mais de 116 milhões de brasileiros passam por algum tipo de insegurança alimentar, milhões de pessoas com fome, como eu já disse. Mais de 460 mil pessoas faleceram por conta da política de morte do governo federal. O povo está mobilizado, o dia 29 foi um sucesso. Já tem mobilização convocada para o dia 13 [de junho] e também uma ampla mobilização nacional para o dia 19 de junho. Permanecemos firmes para derrotar os fascistas de plantão. Viva a luta socialista! Abaixo o capitalismo!