Argentina: Proposta do MST aos partidos da Mesa Nacional da FIT-Unidad

Argentina: Propuesta del MST a los partidos de la Mesa Nacional del FIT-Unidad

No dia 14 de julho, nos apresentamos a Frente de Esquerda Unidade, que fazemos parte como MST, seção da LIS na Argentina, em 23 das 24 províncias do país para participar das eleições legislativas deste ano. No dia 24 deste mês será apresentada as listas de candidatos. Nesse quadro, está acontecendo um debate sobre como formar as listas da Frente, sendo mais provável que diferentes listas sejam apresentadas dentro da FIT-U. Compartilhamos a carta que enviamos às demais forças da FIT-U com a proposta do MST neste cenário.

Camaradas: estamos escrevendo esta carta poucos dias após o término do prazo para o registro das pré-candidaturas a PASO, dia 12 de setembro.

Em primeiro lugar, é positivo termos conseguido apresentar a aliança eleitoral em 23 províncias do país. Para nós, a unidade política da frente é fundamental.

E embora seja praticamente um fato que iremos com duas listas a PASO, queremos fazer uma última tentativa e esgotar a possibilidade de uma lista comum.

Nossa força, o MST, considera que a FIT-U em todos os ambientes deve ser um exemplo político para nossa militância e para os trabalhadores, juventude e base popular que nos tem como referência.

Reiteramos o que já dissemos repetidamente nos numerosos encontros que realizamos: acreditamos que é danoso a consolidação de tendências hegemonistas e personalistas na frente.

Somos partidos diferentes, temos características particulares e devemos conviver com elas pois é a única forma de fortalecer a unidade que temos entre nós e de atrair outros espaços de esquerda e anticapitalistas para o nosso programa. Nesse sentido, parece-nos errado que um ou dois partidos de uma frente que atualmente agrupa quatro, e aspira a muitos mais, monopolizem todas as cabeças de lista com prováveis cargos. Isso impede que a diversidade se expresse claramente na unidade e inclina o perfil para uma ou duas forças em detrimento das demais, e também é um obstáculo para que novas forças se juntem.

Estamos convencidos de que não é positivo que sempre encabecem os mesmos companheiros ou companheiras e que seria muito positivo que deputado(a)s eleito(a)s retornassem às atividades anteriores após dois mandatos parlamentares, como um claro sinal de que somos diferentes da partidocracia tradicional nas bancadas – e nos sindicatos –, o que permitiria também deixar o lugar para outras referências outras forças. Tudo isso é saudável, soma, revigora, dá exemplo para a classe trabalhadora e ajuda a desmascarar a prática dos partidos burgueses.

Por isso, queremos fazer uma proposta final por escrito para conformar uma LISTA ÚNICA, que consideramos democrática e equitativa, para enfrentar a PASO em CABA [Cidade Autônoma de Buenos Aires] e na Província de Buenos Aires [PBA], e tentar avançar na mesma linha em todo o país:

1. Em AMBA [Buenos Aires e 40 municípios da Província], coração político do país, existem quatro (4) lugares esperados, importantes para a visibilidade das quatro forças que compõem a FIT-Unidad: 1º deputado(a) nacional em CABA e 1º deputado(a) nacional da Província de Buenos Aires; 1º legislado(a)r em CABA e 1º legislado(a)r da 3ª Seção Eleitoral do PBA. Propomos que cada uma das quatro forças da FIT-U encabecem um desses lugares e fiquem em segundo lugar em outro. Nós, como MST, para facilitar um entendimento, nesta oportunidade e sem abrir precedentes, aceitaríamos escolher por último. Assim, garantiríamos que todas as forças pudessem escolher o seu perfil. Não é correto que duas forças monopolizem esses locais, como propuseram, em detrimento das outras forças.

2. Se não houver acordo em ambos os distritos, mas houver acordo em um, acordemos por uma lista comum sempre que possível e somente quando não pudermos, iremos para listas diferentes na PASO. Se isso fosse possível em AMBA, o mesmo mecanismo poderia ser usado para o resto do país: acordo onde podemos, e PASO apenas onde não há consenso.

Não queremos deixar de destacar um tema muito importante. O Regulamento da PASO que o nosso partido assinou em desacordo (apresentando um alternativo) abre péssimos precedentes ao estipular um piso para as listas “dissidentes” participarem na rotação dos cargos obtidos, superior a 20% (estabelecendo que apenas entram no rodízio os que saem entre os 4 primeiros lugares), ou cláusulas com condições para a participação de candidaturas da esquerda anticapitalista nas esferas social, ambiental, cultural, de direitos humanos ou feminista-lgbtqi com base no programa acertado da FIT-U.

Será muito difícil para outras forças se integrarem com essas condições. Consideramos um erro grosseiro “fechar” a frente. Não temos acordo com essa orientação e, por isso, pensamos que seria melhor que todas as diferenças que temos, a fim de garantir a unidade da FIT-U, se expressem abertamente na militância do movimento operário, da juventude e dos setores populares. Por exemplo: temos acompanhado reportagens de rádio e lido declarações de dirigentes de outras organizações da frente, afirmando que “não concordam em incorporar mais forças de esquerda à FIT-U”. Não temos acordo com isso e queremos debater. Consideramos estratégico para o desenvolvimento e evolução desta armada comum ser uma alternativa real e estar preparada para governar. Nestas eleições, era fundamental dispor todos os esforços para incorporar outros partidos que acabarão por vir com as suas próprias listas, não colocando obstáculos que os impeçam de entrar.

Pensamos que a unidade é fundamental e que é um conceito que “rima” perfeitamente com outro também importante: “humildade”. A FIT-U não pode ter donos, nem impor invisibilidade às forças que a constituem hoje ou condicioná-las com “pisos” ou outros mecanismos antidemocráticos. Temos que motivar a incorporação de mais setores da esquerda orgânica ou independente que hoje não estão na frente. Com cláusulas restritivas, não vamos conseguir. Também queremos deliberar publicamente sobre isso.

Repetimos, mais uma vez: o MST está aberto a esgotar todas as instâncias de um acordo comum para a PASO, desde que tenhamos a possibilidade de expressar nosso próprio perfil e isso só será alcançado se todas as partes que o compõem estiverem em lugares visíveis, não a sombra de falsos hegemonismos que não correspondem à força real organizada dos partidos no movimento sindical, social, de juventude, feminista, diversidade e ambientalista.

Com saudações fraternas, Comitê Executivo do MST.

21/07/2021