Por Alternativa Socialista/PSOL – LIS, Brasil
Enquanto a crise e a luta de classes se acirra no Brasil, momento onde as organizações que se reivindicam socialistas deveriam ser mais ativas, o PSOL vive seu 7º Congresso Nacional, mais antidemocrático e onde a direção majoritária (campo PSOL de todas as lutas) aprofunda a linha de baixar as bandeiras para garantir uma vaga como ala esquerda da conciliação de classes lulopetista. Apresentamos um primeiro balanço sobre o congresso ainda em curso.
O 7º Congresso Nacional do PSOL, partido que construímos como corrente interna, acontece entre os meses de abril e setembro. Um congresso marcado por profundas desigualdades e avanço dos elementos mais antidemocráticos no partido. Desde o início, nós do Movimento Esquerda Radical em conjunto a outras correntes (adiacongressopsol.com.br), nos posicionamos contra a realização do congresso em ano de pandemia, com milhares de mortes e o Brasil no epicentro da contaminação mundial, e sem a vacinação da maioria da população, emperrada conscientemente pelo genocida governo Bolsonaro. Apesar disso, o campo PSOL de todas as lutas (construído pelas correntes Primavera Socialista, Revolução Solidária1, Resistência, Insurgência, Subverta e outras menores), maioria na Direção Nacional, decidiu tocar um congresso com debates virtuais esvaziados e votação presencial, arriscando a militância de modo desnecessário, a fim de conseguir avançar seu projeto de “refundação” do partido.
O momento em que o PSOL mais cresce é também onde o partido está de frente a uma encruzilhada: continuar sendo uma referência na vanguarda que grita pelo Fora Bolsonaro nas ruas (29M, 19J, 3J, 13J, 24J) e impulsionar uma alternativa possível com outras forças da esquerda classista; ou rasgar seu programa fundacional e se afundar de vez como conselheiro de esquerda do projeto historicamente falido do PT, ou seja, ser mais um entre tantos que iludem a classe trabalhadora com garantias no capitalismo em sua fase decadente. Dizemos encruzilhada porque é fundamentalmente o que está em jogo no curso do congresso.
Ser o ou não ser o último vagão de Lula 2022
Eis a questão. O caminho equivocado do campo majoritário em demarcar publicamente seu antagonismo à pré-candidatura do companheiro Glauber Braga a Presidência da República, do próprio partido e construída a muitas mãos (manifestoglauber.com.br), joga a nossa organização no ostracismo. Não resta dúvida que a tarefa fundamental e imediata é a derrubada de Bolsonaro nas ruas; ao mesmo tempo, o PSOL deve se armar politicamente em todos os espaços. Por acaso a pré-candidatura de Guilherme Boulos a Governador de São Paulo em 2022, que avaliamos ter sido verticalizada e equivocada, significa abandonar a luta pelo Fora Bolsonaro hoje? A política da maioria na DN desarma o partido jogando-o no colo da campanha Lula 2022, a chave explicativa.
Com as pesquisas estimuladas sobre as eleições de 2022 apontando Lula em primeiro com boa vantagem contra Bolsonaro, que pode perder até para Ciro Gomes (PDT) e João Doria (PSDB) no 2º turno, o campo PSOL de todas as lutas atua em unidade para garantir o último vagão da conciliação de classes, atrás dos vagões dos setores burgueses “progressistas” que Lula está tentando montar para garantir sua vitória. De tudo isso, o giro mais regressivo vem das correntes que se reivindicam do trotskismo e hoje são responsáveis pela sustentação da maioria da direção. Por um lado, infelizmente, a conversão da Insurgência/Subverta (seções do Secretariado Unificado) em linha auxiliar, passando de vez a borracha no passado de oposição ao antigo campo majoritário Unidade Socialista. Por outro, a Resistência, fruto de um racha do PSTU e unificação posterior com outra organização, cumprindo o papel de ser o setor acrítico na defesa de Lula 2022: compartilhando mensagens do ex-presidente, participando de espaços da campanha petista, como o Chama o Lula / Plano de Reconstrução do Brasil e, quando o Lula comete algum “deslize”, se dispondo a serem os novos conselheiros de esquerda.
A participação de revolucionários/as nas eleições burguesas é uma ponte entre tática e princípios. Combatemos o oportunismo onde tudo no campo eleitoral é tático, da mesma forma, o sectarismo onde qualquer movimentação é motivo de ameaça aos princípios. Não existe um princípio em ser cabeça de chapa ou ter candidatura própria, nesse momento crucial da crise brasileira devemos jogar todas as nossas forças em uma frente classista nas ruas e, naturalmente, para as eleições com um programa anticapitalista. A pré-candidatura coletiva com Glauber Braga abre o debate, não encerra, e justamente este foi um dos objetivos ao congresso. O apoio a Lula no 1° turno eleitoral oferece como única opção a adesão ao programa de conciliação de classes; não há uma possibilidade progressiva ou ruptura de algum setor desse espaço. Mesmo minoritário, o PSOL não pode se obliterar na ilusão que paira sobre Lula resolver a crise que hoje devasta o Brasil.
Uma parte da população alimenta a ilusão de que Lula resolverá os problemas que enfrentamos. Respeitamos e entendemos que essa experiência poderá ser feita. Ou seja, que o ciclo do lulismo ainda não se encerrou por inúmeros fatores que não cabem aqui. Mas, em nenhum momento, as correntes revolucionárias podem utilizar o fator subjetivo, na verdade um elemento desse fator, de forma unilateral para justificar ir a reboque da consciência imediata, desconsiderando: outra parcela da população que ainda vive a desilusão com o petismo; as aspiracões, outro elemento do fator subjetivo, o que as massas desejam; o fator objetivo, a necessidade de superação da crise, que Lula não resolverá. O período anterior que possibilitou o crescimento econômico, consideravelmente aos setores burgueses, nos governos do PT não existe mais e não pode ser artificialmente criado por canetada, o que sequer é a intenção. Apenas uma ruptura radical com as receitas do capital dará ao Brasil a chance de sair da condição periférica e oferecer à maioria da população, com esta maioria, condições verdadeiramente dignas com um governo socialista. A dinâmica desta época do capitalismo empurrará cada vez mais a classe trabalhadora, o povo pobre e oprimides para a miséria absoluta e a barbárie completa.
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Que PSOL queremos
O 7º Congresso Nacional do PSOL acontece no pior momento e da pior forma. É antidemocrático por excelência ao separar os espaços de debate das teses e contribuição nacionais/estaduais das votações. Os debates virtuais que já se encerraram foram esvaziados, ficando muito aquém da vida orgânica militante, não apenas de filiações, que o PSOL precisa. O resultado disso será de filiades votando sem terem minimamente acompanhado os debates cruciais para o partido. Essa lógica só interessa a quem hoje já é maioria, o campo PSOL de todas as lutas. É urgentemente necessário conformar uma unidade de todas as correntes nacionais e regionais para dar a batalha consequente em defesa do programa fundacional e, por isso, contra o projeto de “refundação” do campo majoritário. Nós, da Alternativa Socialista e Movimento Esquerda Radical, chamamos as e os companheres do MES, Comuna, APS, Centralidade do Trabalho, CST, LSR, Alicerce, Fortalecer o PSOL, Revolução Brasileira, correntes regionais e militância independente a se somarem nesta unidade em defesa do PSOL.
A tarefa imediata é derrotar o bando corrupto e genocida de Bolsonaro. Para isso, precisamos de um PSOL radical, umbilicalmente ligado a sua base e que consiga se conectar com a vanguarda que mostra disposição nas ruas pra botar pra Fora Bolsonaro e Mourão. Não queremos ser parte dos vagões da conciliação de classes.
[1] Corrente recém fundada e dirigida por Guilherme Boulos.