Brasil: 7º Congresso do PSOL: dois projetos em disputa, grandes desafios para a Oposição de Esquerda e a candidatura Glauber Braga

7 Congreso PSOL

Por Alternativa Socialista / LIS Brasil

Nos dias 25 e 26 de setembro ocorreu o 7º Congresso Nacional do PSOL. Nós da Alternativa Socialista, parte do Movimento Esquerda Radical, e diferentes correntes do partido com as quais compomos uma Chapa de oposição à atual direção, travamos uma dura batalha em defesa do projeto fundacional do partido com independência de classe e um programa socialista. O resultado da votação de delegados com 228 votos (57%) para a Chapa “PSOL de todas as lutas” e 173 votos (43%) para a “Oposição de Esquerda” deixou evidente dois projetos em disputa e um próximo período de definição estratégica para o PSOL.

Um método burocrático de impor a política

Mesmo antes do período pré-Congressual, expressou-se a vontade política da atual direção majoritária de avançar em um projeto de “refundação” com o método de construção burocrática, privilegiando acordos entre as cúpulas e virando de costas às bases. Já no primeiro momento, toda a oposição de esquerda se manifestou de forma unitária na luta contra a realização de um congresso no período pandêmico (Leia o Manifesto), alertando sobre o duro ataque à democracia interna, excluindo grandes setores que não teriam condições materiais de participação virtual, causando uma concentração do poder de decisão em poucas mãos e um imenso retrocesso na elaboração política coletiva. Infelizmente, tudo isso se confirmou na prática e todos os espaços de debates (municipais, estaduais e nacional) foram esvaziados de conteúdo, garantindo assim o ataque à democracia partidária.


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Naquele momento, afirmamos: “A atual direção majoritária, que tem referências importantes como o último candidato presidencial Guilherme Boulos, o prefeito de Belém do Pará, Edmilson Rodrigues, entre outros parlamentares, têm insistido na política do que eles chamam de ‘refundação do PSOL’. Esta refundação significa um giro de 180º no programa para transformá-lo em outro programa que expresse a conciliação de classes e a conformação de Frentes Amplas como estratégia”[1].

Unidade na luta contra o Bolsonaro e diferenças na alternativa política

O 7º Congresso foi unânime quanto à necessidade de construir e fortalecer a mais ampla unidade de ação contra o governo Bolsonaro e Mourão, a principal batalha da classe trabalhadora, dos setores oprimidos e do povo pobre. Mas esse importante acordo não foi dado em termos da definição estratégica da construção de uma alternativa política ao governo assassino de Bolsonaro e ao projeto de guerra da burguesia e de seus partidos contra o povo.

Por um lado, o bloco PSOL de todas das lutas, maioria no novo Diretório Nacional, representado pelas figuras de Boulos, Edmilson Rodrigues, Juliano Medeiros, Valerio Arcary entre outros, ratifica a vontade do PSOL ser parte, no último vagão, da Frente Ampla encabeçada por Luta-PT, o velho projeto requentado da conciliação de classes. Marcelo Freixo, o mais entusiasta, quando ainda era parte do PSOL defendeu a frente até com partidos reacionários. Felizmente esse projeto não encontrou espaço no PSOL, obrigando-o a aderir a legenda burguesa do PSB.

Por outro, a Oposição de Esquerda, que compomos enquanto MER junto a correntes como o MES, Fortalecer, APS, Comuna entre outras, mesmo com diferenças e não sendo necessariamente um campo, conseguiu uma unidade fundamental contra a política majoritária de jogar na lata do lixo o classismo, conformando frente com setores burgueses disfarçados de “progressistas”. Nossa luta segue sintetizada na defesa da candidatura própria para as próximas eleições nacionais, buscando construir a verdadeira frente de esquerda classista. O resultado está na pré-candidatura com o companheiro Glauber Braga à presidência e, mesmo com o resultado do Congresso, seguiremos defendendo na Conferência Eleitoral do PSOL no próximo ano por acreditarmos que essa política é parte, e não um todo, da necessidade das maiorias exploradas e oprimidas de construir um polo alternativo, independente e socialista.


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Partido parlamentarista ou Partido de luta?

Desde sua fundação, o PSOL, enquanto espaço disputado entre correntes de tradições diferentes, vem avançando gradualmente na assimilação à lógica parlamentar e institucional burguesa, tendo um salto no último período. Além da estratégia difusa existente no partido, parte desse problema é encontrado na frágil organicidade que parte das figuras eleitas possuem com a base do partido, resultando em um completo estranhamento ao programa fundacional do PSOL – Marcelo Freixo, hoje no PSB, Randolfe Rodrigues, na REDE, e Clécio Luís são alguns dos não poucos exemplos.

Este é um ponto importante do debate. Nós, socialistas, defendemos que a participação no parlamento burguês deve estar a serviço das lutas da classe trabalhadora e dos setores oprimidos, diferente da adesão e acomodação institucional, onde não existe uma convergência com movimento operário que garanta sua voz mediada pelos mandatos. Este ponto diz respeito à composição de classe da organização e tem consequências estratégicas, como estamos vendo no atual curso de adesão ao projeto de conciliação de classes.

Dois projetos em disputa e a posição da esquerda socialista

A maioria das e dos delegados no Congresso entregou a presidência novamente ao Juliano Medeiros (Primavera Socialista), enquanto a oposição manteve a Tesouraria com Mariana Riscali (MES). O bloco majoritário PSOL de todas as lutas, responsável pela linha atual caudatária, é composto pelo campo PSOL Popular – Primavera Socialista e Revolução Solidária (de Boulos) – e o campo Semente – Resistência, Insurgência, Subverta (duas seções do Secretariado Unificado) e correntes menores. Nos debates virtuais esvaziados do Congresso, não foram poucas as vezes em que as correntes desse bloco, especialmente as de referência no trotskismo que se organizam no campo Semente, defenderam a todo custo a candidatura de Lula para o próximo ano, mesmo tendo consciência de que isso resultará na Frente Ampla.

A Resistência, em completa adaptação às pressões do lulopetismo, ganhou destaque com os acalorados artigos do dirigente Valerio Arcary criando uma fantasia onde a candidatura de Lula poderá ser oposta aos interesses burgueses e pela “reconstrução” do Brasil. Não temos dúvida de que a candidatura de Lula é a única, neste momento, capaz de derrotar eleitoralmente Bolsonaro, mas aparentemente a Resistência deu origem a um outro Lula que, iluminado pelos conselhos dessa corrente, encontrará a redenção e encabeçará uma frente de esquerda. Contudo, o Lula real que conhecemos é o mesmo conciliador entre as classes. Toda esta política não tem, em absoluto, relação alguma com o trotskismo e, inclusive, é parte da explicação sobre a política equivocada do campo Semente que, mesmo mantendo diferenças com o campo PSOL Popular, sustenta este setor mais regressivo no partido como maioria.

O PSOL finalizou seu 7º Congresso Nacional com uma disputa ainda em aberto e em aprofundamento para o próximo período. Mesmo com toda a situação, a Oposição de Esquerda conseguiu um avanço importante na correlação de forças contra o projeto de “refundação”. Mesmo com diferenças, o momento exige fortalecer esta unidade para os problemas urgentes: a luta consequente pelo Fora Bolsonaro, exigindo e denunciando as traições da esquerda da ordem; a disputa correta pela candidatura própria com o companheiro Glauber Braga; o passo concreto na construção de um polo independente e socialista que consiga ir além das fronteiras do PSOL.

De nossa parte, Alternativa Socialista, seção brasileira da Liga Internacional Socialista – LIS, parte do Movimento Esquerda Radical, continuaremos na defesa militante do PSOL independente, anticapitalista, da classe trabalhadora, feminista, da diversidade, antirracista, ecossocialista e internacionalista. Convidamos você a juntar-se a nós, ombro a ombro, na rebeldia contra esse sistema de opressão, exploração e miséria!


[i] http://alternativasocialista.com/psol-em-debate-lancamos-o-manifesto-por-um-congresso-do-psol-democratico-com-vacinacao-ampla-e-em-condicoes-sanitarias-adequadas/