Por Sergio García
A aprovação do acordo entre o governo e o FMI, com o voto favorável da oposição do Juntos por el Cambio [Juntos pela Mudança], gerou fortes debates e, em especial, uma crise política de magnitude dentro da Frente de Todos que está rachando e se enfraquecendo com disputas internas.
Por trás desses debates, o que está em jogo é o futuro do país. Portanto, o debate profundo e real é sobre qual projeto é necessário para tirar a Argentina da crise econômica, política e social em que vivemos. A crise que o acordo com o FMI agravou, acrescentando também uma forte redução da soberania, referendada pelos partidos do regime.
Os primeiros meses deste 2022 colocaram aos olhos de milhões a incapacidade da força dominante e a hipocrisia da oposição de direita que afundou o país com o governo Macrista anterior. Diante do descontentamento social e da falta de credibilidade nos partidos do regime, aparecem também personagens nefastos como Milei e os libertários, que pretendem se apresentar como algo novo, com velhas receitas já aplicadas por Menem e Cavallo. Querem dolarizar, que é liquefazer os salários e entregar ainda mais ao país, proibir protestos sociais, o que obviamente não vão conseguir.
Daqueles que governaram ontem (Juntos por el Cambio), nos governam hoje (Frente de Todos) e os liberfachos, as soluções para os graves problemas sociais que nos afetam não virão. De uma forma ou de outra, todos eles têm um projeto de país onde as grandes corporações governam. Não possuem o mesmo plano entre eles, há diferenças óbvias entre Alberto Fernández e Cristina Kirchner, ou entre setores de Juntos por el Cambio e Milei. Mas, assim como têm diferenças, compartilham na manutenção da essência desse sistema capitalista decadente e desigual, responsável por todas as mazelas.
De nossa parte, estivemos envolvidos nas lutas contra o acordo do governo com o FMI de dezembro até hoje. Deixando claro, a partir de uma coordenação unitária convocada e articulada pela FIT-U, que fomos a única voz política alternativa no país, aquela que jogou peso para mobilizar milhares contra o FMI e o acordo de ajuste votado pela Frente de Todos e Juntos por el Cambio.
Com a mesma força, já estamos enfrentando as consequências e a implementação do acordo, apoiando cada luta dos trabalhadores e da juventude, rompendo na Praça de Maio em 24 de março, acompanhando o acampamento piquetero nos dias de hoje, promovendo lutas socioambientais, entre outros processos. Continuaremos na vanguarda de todas as lutas, apoiando e coordenando desde baixo para cima para ajudá-los a vencer.
Com a FIT-U, em uma grande disputa
Agora é preciso implantar uma grande proposta política, social e econômica alternativa, anticapitalista e socialista. E só a partir da esquerda, e em particular da Frente de Esquerda Unidade, podemos promover fortemente uma proposta com um plano alternativo para transformar tudo. Propor que todos os nossos recursos e riquezas sejam disponibilizados para resolver as necessidades sociais, rompendo com o FMI e não pagando aquela farsa que é a dívida externa ilegal e ilegítima. Já que não é solução pagar ao FMI com dinheiro das grandes evasões como propõe o Kirchnerismo. Esses milhões de dólares evadidos têm que voltar ao país para serem usados em planos de emprego decente e na saúde e educação pública. Golpes não são pagos. É inútil se livrar das evasões e dar esses milhões aos vigaristas do FMI que promoveram o evasão.
Não podemos perder de vista que o país está passando por um debate político nacional e, por tudo isso, é que nos propomos a organizar uma grande campanha política de toda a FIT-U para levar nossas propostas políticas e programáticas a todos os cantos do país.
Temos que fazer os maiores esforços para que milhões conheçam nossas propostas básicas e possamos dar um salto como alternativa política para a classe trabalhadora e os setores populares. Nossa luta é para que os trabalhadores governem, e para isso temos que nos transformar em um poder alternativo para milhões.
Nesse sentido, propomos lançar a partir de abril uma campanha de atos e eventos em todo o país, com a presença dos principais referentes nacionais da FIT-U.
Perto de 1º de maio, dia internacional da luta dos trabalhadores, a FIT-U deve liderar e convocar grandes eventos na Plaza de Mayo ou em outro local importante com o qual estejamos de acordo, e o mesmo em todas as províncias do país. Com uma forte divulgação prévia, façamos desse dia uma grande atividade política para todas as nossas propostas de apoio às lutas em curso aqui e em todo o mundo.
Acompanhar essas iniciativas com grandes propostas comuns da FIT-U na rua e nas redes sociais, através de todo tipo de ferramentas impressas e digitais para chegar a milhões de trabalhadores e jovens. Dias de divulgação de mesas em todo o país, visitas a locais de trabalho e estudo, entre outras iniciativas possíveis.
Para avançarmos na necessidade de nossa frente ter um papel de direção e convocação, promovendo fóruns, discussões e intercâmbios sobre temas nacionais como dívida e FMI, inflação e pobreza, direito ao protesto social, entre outros, juntos com normes da esquerda, intelectuais, especialistas e setores relacionados à nossa frente, com os quais temos que manter atividades comuns, juntos milhares de simpatizantes e independentes que esperam e precisam ver a FIT-U promovendo a maior unidade e articulação em torno de programa e com o objetivo de construir mais peso social e político, na disputa contra todos os partidos do sistema.
Junto a todo esse desdobramento político de uma frente que precisa ser muito mais que uma unidade eleitoral, que avance na articulação da FIT-U com políticas comuns de apoio às lutas sociais em curso, de políticas unitárias contra a burocracia em cada local e coordenação das lutas dos empregados, desempregados e jovens. Manter espaços de articulação, junto a setores que, sem estar na nossa frente, realmente querem a unidade de ação das lutas.
Em suma, diante da crise do país e das disputas políticas entre as forças do regime capitalista, façamos o possível para que a FIT-U seja mais visível na luta política e se prepare para disputar em todos os campos da luta política e social.