No final de semana foi realizada a Conferência Nacional Eleitoral do nosso MST (FIT-U) com os camaradas do Partido Obrero. Em ambos os eventos, como já publicamos no último sábado, foram votadas propostas de pré-candidaturas, a começar pela fórmula Solano-Ripoll e um grande plenário de esquerda onde tudo pudesse ser debatido e decidido: política, programa e candidaturas. Para este grande evento, também apresentamos as candidaturas de Buenos Aires de Alejandro Bodart ao Governo de Buenos Aires, do deputado Néstor Pitrola e da senadora Romina Del Pla. Em CABA, Cele Fierro para legisladora, Vanina Biasi, chefa de Governo, e Jessi Gentile deputada.
Por Sergio Garcia
A convocatória unitária marca uma política e um método próprio: propomos que toda a militância da FIT-U, também organizações e figuras públicas parceiras e simpatizantes da frente, possam debater e deliberar com seu voto, em plenária ampla, sobre todos os assuntos.
Isso está especificado no texto comum do MST e do PO: “Acordamos em convocar uma plenária para deliberação e resolução da esquerda e do ativismo que luta em todo o país para deliberar sobre a política, o programa e as candidaturas da esquerda e acordar uma intervenção conjunta para promover as lutas populares. De ambas as forças, destacamos o apelo a todas as forças da FIT-U, às organizações populares e as figuras públicas sociais e intelectuais que apoiam a nossa frente, para participarem da plenária, para promoverem uma apresentação comum da esquerda contra os blocos patronais, responsável pela catástrofe que vive o país, propomos constituir uma lista comum para as eleições com base na defesa da Frente Unitária de Esquerda como polo de independência de classe para lutar por um governo operário e pelo socialismo. Conscientes de que a Frente de Esquerda deve superar a condição de frente meramente eleitoral para se tornar um canal de mobilização política dos milhares de companheiros e companheiras, que enfrentam o ajuste e se mobilizam nos bairros, os sindicatos, a juventude e todos os movimentos de luta”.
As razões de um importante acordo político
O acordo alcançado com o Partido Obrero foi discutido em profundidade em nossa conferência, com a participação de um grande número de delegados presenciais e virtualmente outros de muitas províncias. O voto unânime favorável ao acordo foi a expressão concreta do entendimento político do momento de crise que a FIT-U vive e da necessidade de fortalecer uma trajetória política que apresente uma saída dessa situação e coloque a esquerda anticapitalista e socialista em melhores condições num momento de crise que mergulhará em maiores confrontos sociais e políticos e a uma tentativa de qualquer um dos candidatos capitalistas de cercear os direitos sociais e democráticos. A esquerda e a nossa frente deve estar mais fortes para esses desafios.
Para essas tarefas, entendemos que é muito positivo unir forças com base em acordos políticos, programáticos e de orientação política sobre o que nossa frente deve fazer. Mesmo com partidos de diferentes concepções e avaliações dos anos anteriores, na chegamos ao entendimento de que esse modelo de FIT-U, meramente eleitoral, é incapaz de atuar em unidade nas lutas ou de convocar o ativismo e nosso apoiadores para ser uma parte ativa. Essa situação deve ser modificada.
Juntamente com o entendimento comum do momento que a frente atravessa, o acordo inclui críticas à política dos camaradas do PTS, que deram um salto político perigoso e regressivo, onde combinam uma forte adaptação eleitoralista, uma rejeição reacionária da luta do movimento piqueteiro independente e uma tentativa hegemônica que não condiz com sua fragilidade estrutural como organização política.
O caminho equivocado do PTS
Estamos nos referindo a uma forte adaptação eleitoral, que não é nova, mas é cada vez mais presente, e a cada debate se aprofunda. Isso os leva, no desespero de somar mais alguns votos, a negar a responsabilidade de CFK sobre os atos de corrupção de seu governo anterior. É evidente que a justiça, parceira do macrismo, deve ser duramente criticada e nada que venha desta pode ser apoiada. Mas o PTS vai para o outro lado, afirmando que não há provas, colocando-se no equivocado papel de advogado do governo do PJ, quando é mais que evidente a corrupção estrutural e concreta do governo, tão evidente quanto a existente, até no governo Macri. Além disso, o PTS não pode esquecer que a corrupção nos negócios do Estado é uma realidade estrutural do sistema capitalista e de seus governos, aqui e no mundo. Isso inclui a época do governo de CFK.
O eleitoralismo também é perceptível no debate sobre a conformação das listas. Sempre que se manifestou sobre o assunto, o PTS diz que sua fórmula Bregman-Del Caño é a mais bem posicionada nas pesquisas e, de qualquer forma, tudo deve ser resolvido nas PASO. Em outras palavras, toda a estratégia da esquerda revolucionária se reduz a consultas presenciais ou telefônicas, opinião dos eleitores em geral, o resto não importa. Aqueles que defendem prioritariamente a opinião de pessoas de diferentes classes sociais e formações políticas, por se tratar de uma pesquisa ou de uma eleição, ao mesmo tempo, negam aos trabalhadores desempregados em luta o direito de opinar e decidir a política de nossa frente.
Neste ponto, o PTS cruzou uma linha. Um artigo de Guillo Pistonesi é taxativo: “naturalmente não concordamos em convocar um ‘congresso’ ou ‘assembleia’ onde devemos nos submeter ao voto de camaradas de luta que não concordam necessariamente com a orientação política da FIT-U, nosso programa e candidaturas”. Mas, inusitadamente, também afirma: “nessas condições da luta de classes, nas PASO, que o PO decidiu usar contra Myriam Bregman e o PTS e é um recurso que já usamos em outras ocasiões (embora seguimos rejeitando o piso limitados), aqueles que conscientemente decidiram apoiar o programa da nossa Frente, votarão nas listas da FIT-U”. Em resumo, não é comum para o PTS que milhares de trabalhadores debatam e decidam as políticas e candidaturas da frente em uma grande plenária, lhe parece natural resolver pelo voto nas PASO, ou seja, por meio de um instrumento eleitoral democrático burguês onde votam pessoas de diferentes classes e ideias políticas. Uma forte adaptação ao regime.
A declaração volta a cruzar os limites, ao expressar uma concepção reacionária em relação ao movimento de luta piqueteiro, negando o direito de decidir e de fazer parte da frente. Expressa uma concepção de classe média que critica de fora o que é realmente vivido e discutido nos massivos bairros populares de nosso país. E conclui repetindo os argumentos de Tolosa Paz, La Nación e outros direitistas sobre a questão piqueteiro, argumentos usados pela grande mídia para instalar a ideia de que os desempregados são pessoas usadas e forçadas para a ação de luta. É por isso que, não por acaso, em um tweet recente, Raúl Godoy, dirigente do PTS, escreve em letras maiúsculas as palavras “VOLUNTÁRIO e CONSCIENTE”, com as quais insulta o movimento de luta piqueteiro. Nessa situação, o mínimo que se deve fazer é pedir desculpar por tal expressão antioperária. A mesma concepção usada para atacar as novas direções de esquerda que compõem os demais partidos da frente, tentando enfraquecer as organizações operárias que a esquerda vem recuperando das mãos da burocracia.
Por toda essa política equivocada e pelo pretenso hegemonismo de querer uma fórmula composta apenas por seu partido, o PTS é responsável pela possível divisão nas PASO. Ainda há tempo para refletir e voltar a um caminho unificada e uma política justa. Pelas últimas declarações, isso está longe.
IS e suas incoerências
Enquanto aconteciam esses debates entre às três principais forças da FIT-U, surgiu uma declaração da Izquierda Socialista (IS) rejeitando a fórmula Solano-Ripoll. De forma incomum, aqueles que há um ano propunham uma fórmula (Bregman-Solano) agora criticam que os outros partidos proponham fórmulas e políticas diferentes. Será que só a IS pode propor fórmulas nesse debate?
O que a direção da IS não vê é que sua proposta estava errada e destinada ao fracasso de antemão: nem o PTS, nem o PO, nem o MST aceitaram, porque há muitas outras coisas em debate. Devem sair de seu raciocínio eleitoralista e constatar que não se discute uma fórmula em si, mas todo um projeto de frente e uma política. As diferentes fórmulas e listas propostas são expressão de um todo. Com perspectiva conservadora, a IS não quer que nada mude e tudo permaneça igual, pedindo para “respeitar os acordos anteriores”, que só existem na imaginação. A realidade indica que tudo muda e nada será como antes, por isso devem decidir em qual projeto da FIT-U estarão. Poderiam colaborar unindo-se a nossa luta política pelo futuro da frente. Mas até agora nada.
Especificamente, há duas fórmulas em debate: Solano-Ripoll, uma fórmula unitária colocada à disposição de uma grande plenária com toda a militância da FIT-U para debater e decidir tudo; ou a fórmula fechada e unipartidária do PTS com Bregman-Del Caño, decidida apenas dentro de seu partido. Qual vão apoiar? Também rejeitam uma grande plenária para decidir onde podem adicionar suas propostas? Esperamos que não caiam, por algum pequeno cálculo eleitoral, na fórmula unipartidária, algo contrário a tudo o que disseram e que os colocaria como meros partidários do PTS.
Debater, decidir em plenária e fortalece a FIT-U
Nosso objetivo é fortalecer a frente e a esquerda. Se avizinha um período de enormes desafios, lutas, enfrentamentos sociais e oportunidades políticas. É por isso a importância de decidir e debater tudo coletivamente e em massa. É por isso a importância de fortalecer, na frente, as propostas de deixar de ser apenas uma frente eleitoral, algo que atrasa as verdadeiras tarefas e incentiva a ação política comum e a mobilização de milhares de trabalhadores e juventude com a FIT-U.
Conforme afirmamos no comunicado comum com o Partido Obrero, todos os nossos pré-candidatos estão a serviço do debate numa grande plenária, um evento onde seria melhor a participação de todos, uma política comum e, a partir daí, decidir uma lista unitária. Por isso nossa proposta é que todos os partidos da FIT-U participem e cada um venha com suas propostas políticas e candidaturas, para somar ao debate e às resoluções que forem tomadas.
Devemos deixar de lado os argumentos eleitorais que enfraquecem a ação unificada da FIT-U. Se, até hoje, não há acordo, nada melhor do que utilizar o método da classe trabalhadora: assembleia, reunida em plenária, onde todos podem debater, propor e decidir. É disso que estamos falando, do mecanismo mais democrático e representativo que nós, socialistas, podemos ter. Pelo mesmo motivo, convidamos as organizações populares que apoiam a FIT-U, lideranças sociais, trabalhadores, piqueteiros, lutadores socioambientais e de gênero, e parceiros intelectuais de nossa frente, a fazerem parte desta grande plenária para decidir junto com a militância da FIT-U. Tudo como parte de uma primeira instância para uma grande campanha eleitoral onde temos que ser milhares e milhares defendendo um programa anticapitalista e socialista.