O bloco imperialista toma novas medidas repressivas e anti-humanas para impedir a migração. É necessário um movimento unitário em defesa dos migrantes.
Por Rubén Tzanoff
Ano após ano, milhares de pessoas são forçadas a deixar suas casas para tentar ajudar suas famílias no exterior e, talvez, voltar após alguns anos. Mais do que um sonho, em muitos casos é uma questão de vida ou morte, pois fogem das guerras, do autoritarismo, da fome e da extrema pobreza.
Um drama antes, durante e depois
Os migrantes passam vários dias escondidos em prédios clandestinos esperando a ordem de partir, fazem viagens lotadas em transportes fechados, atravessam desertos e fronteiras até um porto onde seguem pelo mar como clandestinos ou num pequeno barco com dezenas de pessoas. Nada é gratuito. Famílias vendem suas vacas, pequenos pedaços de terra ou gastam as economias de uma vida inteira para pagar uma arriscada viagem ao velho continente. Porque tanta pobreza?
A pilhagem, uma lógica imperialista
Décadas de roubo colonial europeu geraram séculos de pobreza. A pilhagem continua tendo como protagonistas velhos e novos imperialismos. Os pescadores da África Ocidental estão morrendo de fome com base em acordos desvantajosos com a UE que permitem que quase 200 navios de bandeira internacional e 40 fábricas de origem chinesa pesquem na Mauritânia, no Senegal e na Gâmbia. É impossível não mencionar o sofrimento do povo saharaui vendo suas riquezas saqueadas pelas ambições do Marrocos, Espanha e outras potências. É um fato que, além disso, a devastação econômica provocada pela crise capitalista, a pandemia e o aumento dos preços dos alimentos e dos combustíveis com guerra na Ucrânia, estão levando muitas pessoas a arriscar a vida em navegações precárias com destino às Ilhas Canárias, a Itália ou outro destino europeu onde não serão bem recebidos.
Repressão disfarçada de cooperação
Os governos da UE e o Parlamento estão negociando o Pacto de Migração e Asilo de forma a evitar refugiados como ocorreu em 2015 e 2016. A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, afirmou que “em tempos de incertezas geopolíticas, é importante aprofundar a cooperação com nossos parceiros estratégicos”. Ou seja, reforçar as fronteiras com mais repressão por meio de acordos com países de origem e trânsito para impedir o fluxo de pessoas das costas da Tunísia, do Paquistão, Afeganistão ou Níger, após o golpe. Essa modalidade já existe há muito tempo.
Antecedentes e novos sócios
A Espanha acordou com o Marrocos para fechar a rota às Ilhas Canárias. A Turquia recebeu mais de 3 milhões em troca de maior vigilância nas costas e de acolhimento de mais de 1 milhão de refugiados, de maioria síria. Marrocos recebeu 152 milhões de euros e uma ajuda de 500 milhões até 2027. A UE procura novos parceiros como o Egito, país com o qual já assinou um acordo de 111 milhões de euros, além de outros 80 milhões concedidos em outubro, para gerir as fronteiras. Também negocia com a Tunísia, onde já viajou Von der Leyen e a “eurocética” primeira-ministra italiana, Georgia Meloni, com um plano que oferece 150 milhões de euros em mãos, mais de 300 milhões para diferentes projetos, e 105 milhões para o controle das fronteiras. Com a possibilidade de aumentar mais 900 milhões na condição de acordar reformas com o FMI que gerarão mais ajustes e endividamento.
Por um grande movimento unitário em defesa dos migrantes
A crise migratória existe e é grave. Para enfrentá-la, é preciso constituir um grande movimento unitário em defesa dos migrantes, para que as reivindicações dispersas sejam coordenadas e fortalecidas. Os responsáveis políticos e materiais pela repressão nas fronteiras e abandono de pessoas no mar devem ser punidos. Os direitos sociais e democráticos de todos os migrantes devem ser respeitados. A construção da “Fortaleza Europa” e o saque das multinacionais devem acabar.
Mobilização pela vida
A esquerda, o progressismo, os movimentos operários, sociais e feministas têm o desafio de construir a mobilização em apoio aos migrantes contra o racismo e as nefastas intenções da direita e da ultradireita que o reformismo deixa viver livremente. A saída envolve derrotar o capitalismo imperialista e construir um mundo sem fronteiras, sem exploradores ou opressores, algo que só pode vir com a implementação de um sistema socialista.