Entrevistamos André Pestana, Coordenador do Sindicato de Tod@s @s Profissionais da Educação (S.TO.P.), que nos falou da origem, das características e dos desafios deste novo sindicato combativo em que as bases decidem tudo democraticamente. Trata-se de uma das experiências mais avançadas de um setor da classe operária europeia.
Por Flor Salgueiro – LIS.
A poucos dias das eleições de 10 de março, os professores do S.TO.P. saíram às ruas, apesar das condições climáticas adversas. Que mensagem queriam transmitir e como avalia a atividade realizada?
Apesar da chuva e do vento intenso, os Profissionais da Educação avisaram ao futuro governo que não deixarão de lutar enquanto não houver um investimento sério na Escola Pública e no reconhecimento de todos os Profissionais da Educação.
O que é o S.TO.P.? quando e em que contexto político e social nasceu?
O S.TO.P. surgiu no início de 2018 durante o governo do Partido Socialista apoiado pelo Partido Comunista e pelo Bloco de Esquerda. Durante este governo tornaram-se ainda mais evidentes os compromissos das direções dos sindicatos tradicionais com os interesses de seus partidos e não com os interesses daqueles que deveriam representar. O S.TO.P. desde o seu início, mostrou que é possível que o sindicalismo volte a mobilizar os trabalhadores e, em particular, que as lutas sejam decididas democraticamente pelos próprios trabalhadores e não por outro tipo de interesses (privados, partidários ou outros).
Em 2023, o S.TO.P. liderou manifestações históricas, pode nos dizer como foram?
O S..O.P., que é de longe o sindicato mais jovem, conseguiu organizar as maiores lutas pela educação em Portugal, por exemplo com cerca de 100 mil pessoas no dia 14 de janeiro e também no dia 28 de janeiro de 2023, porque confiamos nos profissionais da educação. É por isso que incentivamos a criação de centenas de comissões de greve e sindicais democraticamente eleitas nas escolas de todo o país e realizamos encontros nacionais regulares (presenciais e virtuais) com representantes das escolas. Nas comissões de greve aceitamos Profissionais de Educação sindicalizados noutros sindicatos ou não sindicalizados, o critério é serem democraticamente eleitos pelos companheiros da sua escola.
Qual foi a reação das autoridades governamentais?
Como esta luta sem precedentes dos profissionais da educação (impulsionada pelo S.TO.P.) influenciou outras categorias profissionais em Portugal e até da educação na Europa (por exemplo, no Reino Unido), a resposta do governo foi intensa com campanhas de difamação, desinformação e também serviços mínimos ilegais contra as greves.
Como a burocracia sindical se posiciona sobre o S.TO.P.?
Desde o início do S.TO.P., em 2018, a burocracia sindical tem tentado nos destruir com calúnias e ataques permanentes.
Como é a presença territorial do Sindicato?
A nossa implantação está centrada em todo o território de Portugal Continental e, em especial, nas zonas do litoral onde existem mais escolas e onde as lutas se desenvolveram com maior intensidade.
Que modelo sindical pratica o S.TO.P.?
O nosso modelo é tentar unir todos os profissionais da educação na luta (somos os únicos em Portugal a fazer efetivamente) e que as lutas sejam decididas democraticamente pelos próprios trabalhadores, como expliquei. Comprometemo-nos também a nunca assinar qualquer acordo importante com o governo sem primeiro ter o apoio democrático de quem trabalha nas escolas. Em Portugal, somos o único sindicato da Educação que tem mandatos consecutivos finitos para os seus dirigentes. Ou seja, aqui não haverá dirigentes eternos e sabemos que as derrotas e as vitórias de quem trabalha nas escolas serão também as derrotas e as vitórias dos nossos dirigentes.
Vocês se articulam com outros setores de trabalhadores em luta?
A partir do S.TO.P. temos tido reuniões com outros trabalhadores em luta, nomeadamente nos serviços públicos em Portugal, e temos também presentes de forma solidária em manifestações de outras categorias (ex.: médicos, jornalistas e forças de segurança).
Quais os próximos passos e desafios para os professores e o Sindicato?
O desafio que temos, tanto para os professores como para os trabalhadores não docentes das escolas, é a correlação do próximo Parlamento (e consequentemente do Governo) após as eleições nacionais de 10 de março. Com este resultado, saberemos se continuaremos a ter uma morte lenta das escolas e dos serviços públicos ou se teremos um governo ainda mais liberal que tentará provocar uma morte mais rápida das escolas e de todos os serviços públicos essenciais para a população. Depois, avaliaremos coletivamente os passos a dar, incluindo a necessidade de, pelo menos, começar a unir todos os trabalhadores do setor público do país, de uma forma até então não vista, numa grande luta pelos serviços públicos.