![asamblea-legislativa_1306491475_760x520](https://lis-isl.org/wp-content/uploads/2025/01/asamblea-legislativa_1306491475_760x520-678x381.webp)
Por David Morera
O estilo de governo brigão e valentão do presidente Chaves, sem dúvida lhe deu créditos em um setor da população, que assim vê refletida sua frustração e raiva. Não só se identificam com suas grosserias de gamonal, mas, por outro lado, obedecem ao descrédito do bipartidarismo tradicional (PLN-PUSC) e a profunda decepção com as duas administrações “progressistas” consecutivas do PAC, especialmente a mais nefasta: o governo de Carlos Alvarado, que acaba pulverizando eleitoralmente o PAC e deixa a mesa servida a Chaves com a implementação de contra-reformas neoliberais chave; como o congelamento salarial e orçamentário do setor público, via a Lei Marco de Emprego Público e a Regra Fiscal; ao mesmo tempo impôs um Combo Fiscal muito regressivo e como se não fosse suficiente, a Lei Anti-Greves (Lei Procesal Laboral). Deve-se lembrar que, desde a luta contra o TLC, a Frente Ampla incentivou a aliança com o PAC e na administração Alvarado foi inclusive participando diretamente com Patricia Mora como ministra da Condição da Mulher.
O giro à direita da frente ampla
Nas últimas eleições municipais, demos um apoio crítico às candidaturas da Frente Ampla, com um critério fundamental: embora seja um partido reformista, era o único nessa disputa eleitoral que não constituía uma opção burguesa para o eleitorado. Nós aplicamos essa tática eleitoral, apesar de nossas sérias discrepâncias estratégicas. No PRT caracterizamos a FA como uma versão neo social-democrata, aberta permanentemente a alianças com setores burgueses, supostamente progressistas.
No entanto, como a FA não havia incentivado essas alianças na época, no dia 20 de dezembro de 2023, nosso Comitê Executivo declarou na Bandeira Vermelha: “(…) Na atual conjuntura é fundamental buscar a mais ampla unidade de ação no que corresponde às coincidências que temos para enfrentar a ofensiva neoliberal que encabeça o governo nefasto de Chaves e em geral contra todos os partidos burgueses, que por mais demagogia eleitoral que façam para se diferenciarem, coincidem na agenda antipopular do governo”.
Ressaltamos que tínhamos importantes coincidências com a FA em aspectos relacionados à resistência à ofensiva do governo de Chaves: defesa da CCSS, contra o dia 4 x 3 (12 horas diárias) e saudávamos o projeto da FA pela dissolução da Direção de Inteligência e Segurança (DIS). Porém, seguidas vezes também apontávamos com toda clareza: “(…) Manifestamos que é um apoio crítico, porque nosso chamado a votar pela FA não elimina o fato de que discordamos em aspectos estratégicos e programáticos de fundo que fazem nossa postura radicalmente anticapitalista. Por exemplo, nós chamamos para examinar na FA o apoio aos orçamentos, que incluem, em alguns casos, cortes para esses mesmos serviços públicos ou aumentos de recursos para as forças repressivas. Também chamamos os companheiros e as companheiras da Frente Ampla a não apoiarem com seus votos na Assembleia Legislativa a continuidade da dívida externa com o FMI, Banco Mundial, BID ou BCIE. Por nossa parte, pronunciamo-nos pelo não pagamento da dívida externa, pois é uma fraude imposta pelos organismos financeiros imperialistas, projetada para sugar recursos e deteriorar os serviços públicos. Com a FA estivemos na batalha comum contra o TLC com os Estados Unidos, nós chamamos a impulsionar a ruptura com esse tratado colonialista, que permitiu o aprofundamento sem precedentes do ataque neoliberal ao nosso povo. Por fim, também é preciso enfatizar a urgente necessidade de dar terra para quem trabalha, promovendo uma reforma agrária profunda, interrompendo a expansão de latifúndios e agroindústrias que exploram demais os trabalhadores agrícolas nacionais e migrantes e destroem o meio ambiente, como pinhais e bananeiras.”
Pois essa tática eleitoral pontual que demos na véspera das eleições municipais, está absolutamente desatualizada hoje, a partir da virada à direita cada vez mais profunda que experimenta a cúpula da FA e o grosso de sua fração parlamentar. Em vez de radicalizar para a esquerda para enfrentar o ataque chavista, hoje a FA faz tudo o contrário, assim, a longo prazo, favorecendo o deslocamento do cenário político para a direita. A FA, com sua linguagem, suas ações e sua política, dá essa virada, além disso, sob a suposição de ser mais potável ao eleitorado. O mais grave e condenável, em nosso critério, é a acomodação de sua fração parlamentar às pressões intervencionistas do imperialismo ianque, tanto no solo nacional como na política externa, como detalharemos abaixo.
É um fenômeno mundial que assola boa parte do chamado “progressismo” na América Latina, que se torna, para agravar a situação, cada vez mais pró-imperialista ianque. Exemplos claros são Arce no Equador, Boric no Chile e Lula no Brasil. O outro polo, no qual se divide hoje o que foi chamado “progressismo” latino-americano, são Maduro na Venezuela, Ortega na Nicarágua e Díaz Canel em Cuba, que diante do cerco do imperialismo ianque, que busca reconquistar esses países, reforçam seus traços cada vez mais autoritários, anti-operários e antipopulares, são ou se transformam gradativamente em semi colônias dos novos imperialismos que disputam a hegemonia estadunidense: China e Rússia. Esta crise e desmembramento do que outrora foi o bloco progressista, como veremos também em seguida, se reflete no interior da Frente Ampla.
A FA corre para o centro: para enfrentar a direita?
Após as eleições municipais e fazendo cálculos para as eleições nacionais de 2026, em 12 de junho de 2024, o jornal La República informa que o PAC e a Frente Ampla já analisam uma coalizão “progressista” para deter a visão neoliberal e “populista” de Rodrigo Chaves. Sem tirar nenhuma lição do desastre consecutivo dos governos precedentes do PAC, a cúpula da FA aposta em reviver o cadáver político do PAC, sob seu recorrente sonho de aliança policlassista com a burguesia progressista. No artigo citado se indica: “(…) Os dois partidos reconhecem que o presidente Rodrigo Chaves tem um amplo apoio político e por isso, alguém próximo a ele, poderia continuar com sua proposta política que é considerada “antidemocrática, grosseira e populista” por esses dois grupos”. Patricia Mora, presidente da Frente Ampla acrescenta com respeito a seu interlocutor político: “(…) O PAC tem agrupado setores extremamente valiosos do progresso deste país, com os quais travamos a batalha contra o TLC. Há uma história passada em que soubemos nos colocar de acordo e agora devemos nos unir para parar esta investida contra o Estado de direito”.
![](https://lis-isl.org/wp-content/uploads/2025/01/Congreso.jpg)
Para que não restem dúvidas sobre esta virada da FA, na segunda-feira, 20 de janeiro, o mundo.cr informa: “O chefe de fração da Frente Ampla, Antonio Ortega, garantiu que a Frente Ampla correu para o centro do espectro ideológico nacional diante da mais reacionária extrema-direita que representa o presidente da República, Rodrigo Chaves. (…)” Diante da investida de Chaves e o que ele chama de extrema-direita mais reacionária, Antonio Ortega indica que ele: “(…) alguns em honra à verdade que estavam à direita, ao ver essas pessoas desmontando o país para a direita, voltaram para o centro” (…) Então, isso é uma coisa que dizemos entre piadas, nós que estamos na esquerda corremos para o centro e os que estavam à direita correram para o centro e lá nos encontramos novamente, ou estamos nos encontrando”, concluiu.
A FA frente ao imperialismo ianque
Todo o restante pode parecer retórica, mas onde a cúpula da FA e a maioria de sua fração parlamentar cruzou uma linha vermelha é em relação à sua capitulação frente ao imperialismo ianque, o principal executor e opressor dos nossos povos latino-americanos. Vejamos o comportamento de sua fração parlamentar diante da lei de extradição, a permissão de entrada de militares americanos em solo nacional e apoio ao fantoche ianque na Venezuela.
Em 22 de julho de 2024, publicamos na Bandera Roja uma “Carta aberta à Frente Amplio”, na qual instamos o rechaço da trapaceira extradição para os Estados Unidos, por tráfico de drogas e terrorismo, um instrumento intervencionista, violador de nossa soberania nacional. Não só não houve resposta alguma (como é habitual na FA), mas sua fração acabou apoiando esse nefasto projeto, que já é lei. Sob as leis dos Estados Unidos sobre o que cataloga “terrorismo”, não é descartável em nada que se persiga e extradite companheiros e companheiras, por exemplo, pela solidariedade ativa com a resistência palestina, que o imperialismo ianque considera como um todo “terrorista”.
Aprofundando esse curso entreguista, Delfino informa em 3 de dezembro de 2024: “O plenário da Assembleia Legislativa aprovou nesta terça-feira a permissão para atracar, permanência no porto e desembarque das tripulações dos navios do governo dos Estados Unidos que estarão realizando operações antidrogas em apoio ao Serviço Nacional de Guarda Costeira e outras autoridades do país durante todo o 2025. O pedido, que foi processado sob o dossiê 24.735, foi aprovado por 40 votos a favor e 1 contra, sem que nenhum deputado ou grupo parlamentar fizesse uso da palavra. A única que votou contra foi a deputada Rocío Alfaro Molina, da Frente Ampla, que ao contrário de seus companheiros, decidiu manter a posição histórica que teve esse partido de votar contra esse tipo de permissão por tratar-se de embarcações artilhadas. O resto do grupo da FA não justificava a razão pela qual, desta vez, votaram a favor da permissão.”
A gota d’água é o reconhecimento da legitimidade de Edmundo González como presidente da Venezuela, que é aprovada no plenário por seis deputados da FA, salvo a honrosa exceção de Rocío Alfaro. Especialmente embaraçoso foi ver os deputados da FA apertarem a mão e tirar foto junto ao fantoche venezuelano do imperialismo ianque.
Você pode perguntar: “mas o PRT não tem uma posição muito crítica do regime de Maduro?” Isso é verdade. Mas fazemos isso a partir da perspectiva da esquerda anticapitalista e do movimento popular e operário. Se não entendermos que a disputa na Venezuela é travada pelo conflito entre os diferentes imperialismos, perdemos de vista como se desenrola o processo venezuelano. Na Liga Internacional Socialista e sua seção venezuelana: Maré Socialista, nunca pretendemos mudar o regime de Maduro, por um governo entregue ao imperialismo ianque, que representa Edmundo González e sua burguesia “erudita”.
É por isso que, apesar das discrepâncias, saudamos plenamente a postura digna de Rocío Alfaro nos dois casos já mencionados.
Precisamos reagrupar a esquerda anticapitalista
É um segredo aberto que a cúpula da FA em sua mudança para a direita aposta por uma coalizão “anti-Chaves”, sem qualquer sentido de independência da classe trabalhadora, mas muito pelo contrário, adaptando-se programaticamente e politicamente aos seus desejos aliados com acordos mínimos, como tem manifestado Jonathan Acuña, deputado e secretário geral da FA.
Sabemos que há bases de luta e honestas dentro da FA que discordam desse giro cada vez mais oportunista da FA. Há também uma esquerda trotskista, e anticapitalista em geral, muito dispersa e fragmentada.
Para o PRT nesta conjuntura, além dos fogos de artifício eleitorais, é necessário fazer esforços enormes para reagrupar uma nova esquerda anticapitalista, anti-imperialista consistente e combativa, para lutar juntos nas diversas lutas sociais. Esse é o caminho, e não a acomodação e retrocesso frente à ofensiva da direita, em escala nacional e mundial.
![](https://lis-isl.org/wp-content/uploads/2025/01/marcote-imagen-principal-1024x576-1.jpg)