Toda ação importante do movimento de massas implica necessariamente, para os revolucionários, na responsabilidade de fazer um balanço profundo. Os eventos de enorme magnitude, como foi a mobilização em massa deste 24M e a orientação completamente errada de um setor da esquerda, merecem uma análise profunda que permita aos lutadores, que seguem o ritmo da luta de classes na Argentina, e a atuação da esquerda anticapitalista tirar o maior número possível de conclusões.
Três fatos foram combinados para que uma mobilização unitária de todos os organismos de D.H. do país após 20 anos de divisões: a reprovação crescente do governo ultra-direitista de Milei, a crise e feudalização que sofre o peronismo e o papel do MST, seção argentina da LIS. A unidade e o conteúdo independente de qualquer governo e setor burguês do ato foi comemorado pelo ativismo e pelas multidões que se mobilizaram. Mas, infelizmente, um setor da esquerda não apenas se marginalizou dessa ação de massas progressiva, mas trabalhou, sem sucesso, para enfraquecê-la. Referimo-nos ao PTS/FT, ao PO, IS/UIT e ao MAS/SoB.
A importância internacional do debate é que esses setores aplicam a mesma lógica sectária/oportunista em todos os países onde têm colaterais.
Sem mais delongas, a seguir reproduzimos o último artigo de polêmica com o PTS/FT e após os links de outros materiais que o MST elaborou a respeito.
Balanço do 24M. Essência sectária e mentiras do PTS
Por: Guillermo Pacagnini
Em uma nota assinada por Guillo Pistonesi, o PTS lança um ataque infundado contra o MST através de toda uma série de mentiras e invenções. Evidentemente abalado pelas fortes críticas que vem recebendo por ter se colocado contra a convocação de uma jornada unitária histórica, agora tenta disfarçar seu grosseiro erro político com um relato fantasioso sobre o que aconteceu. Por isso vamos explicar uma por uma essas mentiras e sobretudo voltar a mostrar como o PTS virou as costas para uma mobilização muito progressiva e unitária, algo que ficará marcado e que é imperdoável em um país com tanta história contra o genocídio e que está no meio de uma luta crucial contra o governo de Milei.
Em primeiro lugar, além de todas as falsidades que permeiam o texto do PTS, o fundamental é que em toda a sua política eles omitiram a realidade do que aconteceu no 24M na Praça de Maio. Guillo Pistonesi diz em seu texto que “de forma inusitada, o MST propôs que o EMVJ deveria entrar para participar do ato da mesa de organismos“. Falso do começo ao fim.
A realidade é que pela primeira vez em 19 anos ocorreu um ato comum de unidade de todos os organismos de direitos humanos. Isso foi um feito altamente progressivo para a luta dos direitos humanos em nosso país e para a luta contra o governo e o regime de Milei. Não houve nem um ato da mesa de organismos, nem do PJ, nem a favor desse partido, nem nenhuma das fábulas que o PTS pretende inventar para tapar sua política altamente sectária de ter se colocado contra essa enorme unidade conquistada na rua.
Essa unidade, da mobilização e do ato central, foi a unidade de todos os principais organismos de direitos humanos, o que se evidenciou em todas as reuniões comuns anteriores e se viu na convocação comum que voltamos a mostrar aqui com o flyer divulgado nos dias anteriores. Foi visto em quem foram os únicos integrantes do palco na Praça de Maio: integrantes desses organismos do EMVJ e da Mesa. E foi visto no caráter do documento lido, que era muito correto e positivo. Foi precisamente essa unidade que marcou toda a jornada, garantiu uma mobilização enorme e emocionante, com força e com o apoio de milhões que ou participaram diretamente da marcha e do ato na Praça de Maio ou o seguiram com muito apoio e simpatia

Essa unidade se expressou na leitura do documento através das palavras de nossa querida mãe Elia Espen e Pérez Esquivel, pelo EMVJ, e de Tati Almeida e Estela de Carlotto pela mesa de organismos. Parece correto para os companheiros do PTS realmente concordar em se opor a isso? Sua posição é uma vergonha e um desprezo pelas décadas de luta contra a impunidade, luta que neste 2025, felizmente, voltou a ser dada em unidade na rua e em unidade na diversidade em um ato unitário de todos e todas as referências e organismos mais importantes e genuínos.
Querendo dar um golpe duro, mas também sem sucesso, Pistonesi se pergunta se o MST voltará aos seus velhos hábitos ruins, se voltará à sua história ou se continuará fortalecendo uma opção de independência de classe. Na verdade, se algo ficou claro no 24M é que o MST levou adiante a política que nos identificou em toda nossa história, desde a luta contra a ditadura até hoje: lutar nas ruas pela maior unidade possível por justiça, memória e contra o governo atual. Fazer isso respeitando os organismos genuínos e seus referentes. Fazer isso a partir da coluna da maioria do EMVJ com sua própria independência política e de uma enorme coluna do MST cobrindo uma parte da praça com nossos cantos, nossas figuras e nosso programa anticapitalista, socialista e de independência de classe.
Por isso as perguntas que têm que ser feitas são outras e precisam ser respondidas pelo PTS: Vai continuar com seus esforços de marginalizar a Frente de Esquerda diante de eventos históricos como o 24M? Pretende difamar o nome da FIT-U colocando-o contra a unidade dos órgãos genuínos de direitos humanos de nosso país? Vai continuar assimilando-se a política sectária histórica do PO que desde o primeiro dia disse que tinha que ser feita duas marchas diferentes? Vai continuar mentindo dizendo que o EMVJ marchou do Congresso, quando se viu com nitidez que a maioria absoluta do EMVJ participou do ato unitário na Praça de Maio? O PTS vai refletir após tal erro político ou vai continuar com suas atitudes sectárias, que no fundo são altamente oportunistas? Nós que orgulhosamente temos uma política anticapitalista, socialista e revolucionária nos perguntamos essas coisas. Porque é esse rumo sectário que enfraquece a Frente de Esquerda e não as posições do MST.
Na realidade, depois de dar várias piruetas e mudanças de posição, que demonstraram uma leitura muito equivocada da realidade por parte da direção deste partido, acabaram adotando uma posição divisionista. Para o PTS nada mudou e tinha que se agir como nos últimos 20 anos. Assim como desde 2006 o PJ foi responsável por dividir a luta pelos direitos humanos e os organismos, agora foi o PTS com seus parceiros que, com uma enorme miopia política, tentaram dividir, sem conseguir. Sua essência sectária não lhes permite ver as enormes mudanças produzidas pelo contexto político antimilei e pela crise do peronismo, que não pode fazer nada. Essas duas razões, mais a posição correta da maioria absoluta do EMVJ, permitiram uma unidade na diversidade altamente positiva e a mudança do caráter do ato unitário e a mobilização em massa.
Em seu sectarismo, o PTS não entende nada do que aconteceu. E pretende cobrir sua própria incapacidade política divisionista com mentiras. Em diferentes lugares chegaram inclusive a dizer que a maioria do EMVJ, que ia ao ato unitário, estava indo participar de um ato do PJ, de Milani, de Berni. Toda uma série de irrealidades que só confirmaram sua rejeição sectária em ver as mudanças que estavam ocorrendo com a mesa de organismos, priorizando a unidade com o EMVJ e deixando o PJ fora da organização do evento, fora do palco, sem suas bandeiras no centro da praça e nem mesmo enviar apoio para o ato. Por isso, em vez de inventar campanhas contra o MST, os companheiros do PTS teriam que explicar por que se opuseram e se arriscaram a querer dividir tal ação unitária e independente com todos os organismos de direitos humanos à frente. Divisão que reiteramos que não conseguiram, falhando na tentativa.
Mentiras em série
Esclarecido o debate político central, não podemos deixar de nos referir a uma série de fatos mentirosos que o PTS relata de forma inusitada. Diz que “a proposta de ‘uma marcha, um lugar, dois documentos’ foi levada pelo EMVJ para a mesa dos organismos“. FALSO. Essa proposta foi descartada desde o início no próprio EMVJ. Por isso, essa possibilidade nunca fez parte de um debate real com a mesa de organismos e rapidamente começaram a discutir outras possibilidades de acordo.
Não satisfeitos com tudo o que falsificam em seu texto, insistem: “Posteriormente o plenário do EMVJ propôs que se lessem algumas consignas contra o governo de Milei e aqueles que o sustentam e que cada espaço lesse seu documento e consignas durante a marcha“. FALSO. O EMVJ nunca propôs como segunda proposta que algumas consignas fossem lidos e cada espaço lesse seu próprio documento “durante a marcha”. O debate se concentrou na elaboração de um texto comum e que o ato fosse desde o palco apenas dos integrantes dos organismos, como realmente aconteceu.
Para completar suas fábulas, o texto do PTS também diz que: “A mesa de organismos então fez uma ‘proposta’ (ultimato) na qual eles colocaram que se iria ler um documento ‘único’ que iria falar por suas omissões notórias e deliberadas. Pegar ou deixar era a chantagem“. FALSO. O EMVJ nunca recebeu nenhum ultimato ou chantagem de ninguém, quando nem mesmo, como aconteceu em anos anteriores, a mesa de organismos lançou sua própria convocação, mas sempre estiveram abertos para discutir uma proposta unitária de consignas, formato e confluência na Praça das duas colunas e receberam as propostas de texto que fizemos a partir do EMVJ.
Indo para outras falsidades, o PTS insiste: “O MST, acompanhado por outras organizações como a Associação de Ex-Detentos Desaparecidos e a Correpi, optaram pelo primeiro e assinaram um acordo pelas costas do EMVJ“. FALSO. Apenas observando as assinaturas da convocação para o evento central na Praça de Maio, se vê com absoluta nitidez que todos os organismos de direitos humanos genuínos do EMVJ e a grande maioria das organizações e coletivos do EMVJ assumiram a convocação comum. E também lutamos do começo ao fim pela unidade na diversidade. Ou seja, um documento próprio do EMVJ que difundimos antes, durante e depois do ato e, ao mesmo tempo, fazendo todos os esforços para ir a um ato unitário explorando essa possibilidade em torno de um texto com um sistema correto de consignas e acordado entre os dois espaços.
Depois de todo o evidenciado pelos milhares de presentes e por milhões que o viram em todos os canais de TV e nas redes sociais, com uma enorme frente comum e coluna do EMVJ na Praça de Maio, o PTS escreve outra mentira em grande escala: “junto ao resto dos partidos da FIT e numerosas organizações do EMVJ, mantivemos a convocação no Congresso e marchamos em uma coluna independente com 80% daqueles que nos mobilizamos com o Encontro“. A frase não resiste à menor das análises sérias. O PTS não se pergunta porque nenhum dos organismos genuínos de direitos humanos do EMVJ estavam em sua coluna? Nós explicamos: porque eles estavam na verdadeira coluna do EMVJ na marcha e ato unitário na Praça de Maio. Como mais uma vez evidenciam as imagens e o flyer anterior convocando ao ato unitário, que aqui voltamos a reproduzir.

A verdade dos fatos é que logo antes do 24M decidiram quebrar o trabalhoso acordo que havia sido alcançado em comum para manter a unidade do Encontro. Havia sido acordado um cronograma para ler o documento elaborado em comum na Praça do Congresso, sem nenhuma “mordaça” e uma marcha com frente comum até a Praça e inclusive tinham dito que iriam entrar na Praça. E eles mudaram rapidamente, juntando-se à política sectária e divisionista do PO e NMAS, mudando o horário de saída e recusando-se a ler o documento onde havia sido acordado.
Apesar de não ter havido consenso majoritário, as organizações do EMVJ que formamos uma coluna comum para marchar à Praça não nos autoproclamamos e publicamos convocatórias como organizações integrantes do EMVJ. Pelo contrário, em uma atitude burocrática e uma manobra de deslealdade completa, desafiando a tradição dos revolucionários, o PTS junto ao setor minoritário que quebrou a unidade usurparam a bandeira, as redes e o logotipo do EMVJ e difundiram falsamente que ocorreu outro ato “do EMVJ”. Com cinismo e impotência tentaram confundir diante do tapa na cara que a realidade lhes batia.
Sem unidade de ação, nem diabo nem avó
Indo para um último debate com o texto de Pistonesi marcamos que diz o seguinte: “O PTS é parte de uma corrente socialista revolucionária que participa e promove toda ampla unidade de ação para atingir o inimigo frente a vários ataques, unidade ‘até com o diabo e sua avó’“. Aqui já entramos no terreno da esquizofrenia. Porque o PTS escreve isso depois de se colocar contra o ato das mães, as avós e de todos os genuínos organismos de direitos humanos do EMVJ. Ou seja, levou adiante uma política que não tem nada de unidade de ação, nem de socialista e revolucionária e se emparelhou no pior da política de grupos tão marginais e sectários como o NMAS e Política Operária.
Infelizmente, esse foi o máximo que o PTS conseguiu no 24M. Evidentemente tem uma maneira particular de entender a unidade de ação. Uma visão propagandista que não serve nem para empurrar a mobilização nem para desenvolver a ferramenta política de esquerda necessária. Por isso agiram declamando a unidade, mas quando chegou a hora, se dividiram e se mantiveram à margem de um dos mais massivos, importantes e progressivos atos contra Milei. Justamente feitos de unidade como o 2×1, Maldonado e a marcha pela liberdade dos presos da Lei Bases que eles mesmos mencionam, foram possíveis pela unidade na diversidade, da qual agora, quando mais se precisa, renegam. Eles citam Trotsky, mas fazem o oposto.
A política reacionária e o regime autoritário implementados por Milei no quadro de ascensão da extrema direita como fenômeno mundial e, acima de tudo, à luz das mudanças que a posse de Trump traz para o mundo, justificam a necessidade de explorar a maior unidade na ação para mobilizar. Sempre com uma política independente e de disputa a todas as direções burguesas, reformistas e burocráticas. Isso fizemos mais uma vez este 24M, enquanto o PTS em forma sectária e ao mesmo tempo oportunista, se recusou a dar essa disputa no único lugar que tinha que dar: na Praça de Maio.
24 de Março na Argentina: Multidão histórica, novidades e debates https://lis-isl.org/es/2025/03/24-de-marzo-en-argentina-multitud-historica-novedades-y-debates/
24 de março. Conclusões de um dia histórico: