Neste 24 de março, aos quase 80 anos, faleceu uma militante histórica do Brasil e do trotskismo. Nossa homenagem e reconhecimento militante, para além de nuances e diferenças.
Por: César Latorre
Do foquismo ao trotskismo
Maria José Lourenço (conhecida por todos nós como Zezé) iniciou sua militância no movimento estudantil no final dos anos 60, resistindo à ditadura instaurada em 1964. Zezé participava da redação do jornal O SOL, orientado pelo MNR, de tendência guerrilheira.
Com o fortalecimento da ditadura nos anos 70, teve que se exilar, assim como muitos outros. Naquela época, o Chile era um destino preferido, devido ao ascenso da luta de classes no país, impulsionado pela vitória eleitoral de Allende. Foi no Chile que Maria José Lourenço entrou em contato com a corrente trotskista, através de figuras como Mario Pedrosa (intelectual e artista brasileiro que havia sido militante da oposição internacional de esquerda liderada por Trotsky), Hugo Blanco (militante peruano da corrente morenista) e Peter Camejo (militante do Socialist Workers Party dos EUA). Estes últimos eram membros da Fração Trotskista Leninista, que na época debatia dentro da Quarta Internacional sobre a desvirtuação guerrilheira à qual Zezé inicialmente aderiu.
Os exilados brasileiros formaram um grupo chamado Ponto de Partida, que em seu documento de fundação fez uma crítica ao guerrilheirismo brasileiro, até então incuestionável dentro da esquerda. A queda de Allende forçou o grupo Ponto de Partida a buscar um novo exílio, e Zezé seguiu para a Argentina, onde teve contato com o PST. Desde a Argentina, Zezé e outros exilados brasileiros fundaram a Liga Operária e começaram a preparar o retorno ao Brasil.
O retorno
Em 1974, a situação política no Brasil demonstrava maior descontentamento e um ambiente mais favorável para o desenvolvimento de uma corrente política. Foi assim que Zezé e os integrantes da Liga Operária empreenderam seu retorno ao Brasil. Atuando na clandestinidade e contando com apenas um pequeno grupo de militantes, Zezé conseguiu, em pouco mais de três anos, consolidar uma corrente com mais de 200 militantes, lançando as bases da mais importante corrente trotskista no país. Ela fundou a Convergência Socialista, da qual derivaram muitas das atuais correntes trotskistas brasileiras.
O desenvolvimento dessa corrente, que havia começado no movimento estudantil, conseguiu se estruturar no movimento operário, com especial presença no ABC paulista. Tanto que a criação de um partido dos trabalhadores, que culminaria na fundação do PT, teve Zezé e sua corrente como importantes impulsionadores.
A queda do Muro de Berlim e a crise da LIT nos anos 90 afastaram Zezé da militância orgânica, mas sem que ela rompesse com o ideal socialista. Como ela mesma se definiu: “Mas sempre, e antes de tudo, militante socialista.”
Independentemente dos caminhos percorridos, sua marca na história do trotskismo no Brasil é inegável e ela permanece como um exemplo de dedicação e sacrifício à causa da revolução.