Argentina numa crise política, econômica e social cada vez mais profunda: Fora ajustadores, corruptos e os que vivem de propinas!

Pelo Comitê Executivo do MST (FIT-U)

O governo de Javier Milei, que chegou ao poder vendendo a falsa imagem de suposta “luta contra a casta”, hoje mostra sua verdadeira face: a de uma gestão profundamente corrupta e subornada, a serviço dos interesses mais concentrados do capital financeiro e disposta a aplicar um ajuste selvagem contra o povo trabalhador. O escândalo da Agência Nacional de Deficiência (ANDIS) não é um fato isolado, mas a expressão mais clara da podridão que caracteriza este governo ultra-neoliberal e seu regime político cada vez mais autoritário. Longe de romper com o modelo dos políticos corruptos, Milei, “a chefe” Karina, os Menem e seus sócios o aperfeiçoaram, levando o suborno e a negociação a níveis obscenos, chegando a roubar os setores mais vulneráveis, como o das pessoas com deficiência.

Este caso gigantesco de corrupção do poder do Estado libertário, somado à profunda crise econômica e social e à série de derrotas políticas no Parlamento, mostra que estamos passando pelo momento de maior crise e fraqueza do governo e pela absoluta inviabilidade de seu projeto reacionário, que hoje afeta a maioria dos trabalhadores, os setores populares e a juventude.

Desde o MST, membro da FIT-U, denunciamos toda essa trama corrupta e exigimos uma investigação profunda e independente, conformando uma comissão com personalidades inatacáveis e sem qualquer tipo de relação com o poder político vigente. Diante de fatos de corrupção profundos e recorrentes, é necessária uma espécie de CONADEP da corrupção, para que tudo venha à tona, que os responsáveis sejam punidos e todos os envolvidos sejam afastados. Diante deste novo caso de corrupção e por tantas outras questões, convocamos a mais ampla mobilização e unidade dos trabalhadores, da juventude e dos setores populares para ganhar as ruas e pôr fim a este regime de fome e rendição.

O caso ANDIS: a corrupção como política de Estado

As mais de 20 gravações vazadas do ex-funcionário Diego Spagnuolo revelaram uma rede institucionalizada de corrupção que chega ao coração da Casa Rosada. As gravações revelam um sistema de retornos de 3% na venda de medicamentos para a ANDIS, cuja principal destinatária era Karina Milei, irmã do presidente e secretária-geral da Presidência, a “chefe” segundo seu irmão. Ao seu lado, Eduardo “Lule” Menem, operador-chave do governo e braço direito de Karina, também aparece como beneficiário desse esquema criminoso.

A empresa protagonista dessa trama, a Droguería Suizo Argentina, não se limitou à ANDIS, tem uma extensa rede de contratos com o Estado e acordos multimilionários com os ministérios da Defesa e da Segurança, o que estende as suspeitas de corrupção a grande parte do gabinete.

Estamos diante de um modus operandi típico do capitalismo decadente. Com empresários acostumados ao desenvolvimento de negócios espúrios permanentes, atuando como fornecedores do Estado capitalista, que sob governos anteriores e agora neste, atua por meio de funcionários que atuam como lobistas, com porcentagens e retornos suculentos no final do caminho. Toda uma estrutura e política de Estado do governo neoliberal.

Diante de um escândalo dessa magnitude, a reação do governo tem sido um silêncio cúmplice e um encobrimento descarado. O ministro da Saúde, Mario Lugones, e o interventor da ANDIS, Alejandro Vilches, faltaram à convocação da Comissão de Deficiência da Câmara dos Deputados. Martín Menem tenta uma defesa indignante e Guillermo Francos foi ao Congresso para falar sem dar resposta a nada disso. Longe de dar explicações, Javier Milei, evidentemente enfraquecido e nervoso com toda essa situação, cometeu um “sincericídio” em um ato em Junín, protagonizando um lapso revelador: “Estamos roubando os roubos de vocês”. Essa frase, longe de ser um simples “deslize”, é uma confissão simbólica que expressa a lógica deste governo: eles não vieram para acabar com os esquemas, mas para roubar tudo.

Não é apenas uma maçã podre, é toda a cesta

O caso revelado pelas gravações de Spagnuolo não é o único crime que mancha este governo:

  • Caso $LIBRA: Milei e Karina estão diretamente envolvidos em um esquema de criptomoedas, no qual teriam cobrado por facilitar reuniões para um projeto de criptomoeda. O governo e seus aliados tenta continuamente bloquear qualquer avanço nesta investigação. O exemplo mais claro foram todos esses meses em que bloquearam o trabalho da comissão investigadora formada pela Câmara dos Deputados.
  • Compra de candidaturas. Antes mesmo de serem eleitos, surgiram várias denúncias de cobrança de propinas para aceitar pessoas em suas listas, nas quais, não por acaso, também aparece envolvida a “chefe” e arrecadadora Karina.
  • Recente invasão da sede da PAMI em Resistencia. Por denúncias de pedidos de dinheiro a funcionários nacionais e desvios de milhões de fundos para um familiar do presidente provincial da La Libertad Avanza.
  • Descontrole absoluto e via livre para a fuga de divisas. Um mecanismo que certamente esconde favores, retornos e todo tipo de manobras entre grandes corporações e bancos e funcionários do Estado que fingem não ver, enquanto levam bilhões de dólares para fora do país.
  • A fraude da dívida como corrupção estrutural. Este governo se juntou para pagar e nos amarrar ao maior golpe das últimas décadas que temos suportado e que todos os governos aceitaram, colocando-se a favor de um negócio milionário contra nosso país. Tanto o mecanismo usurário e fraudulento da dívida externa quanto os negócios com as privatizadas são a essência desse capitalismo corrupto e entreguista, do qual o atual governo é administrador.

Retroalimentação da crise política, econômica e social

O escândalo de corrupção eclodiu no pior momento para a frágil engenharia econômica do indesejável Luis Caputo. Os mercados, sempre “sensíveis” à instabilidade política, responderam com nervosismo: o dólar livre voltou a subir, assim como o risco-país, e os títulos em moeda norte-americana caíram.

A economia navega à beira do abismo, devido ao próprio plano do governo:

  • Taxas de juros insustentáveis e reservas recordes: para tentar frear um pouco a fuga de capitais que vinha alimentando e conter o dólar, o BCRA elevou as reservas bancárias para 53,5%, uma medida extrema que restringe o crédito e aprofunda a recessão. A atividade produtiva se contrai, o consumo despenca e os salários afundam.
  • A armadilha da dívida bilionária: o Tesouro deve enfrentar vencimentos de 8 trilhões de pesos. O governo tenta forçar os bancos a comprar sua dívida para evitar um “default” que provocaria uma desvalorização e uma explosão inflacionária. Todo esse esquema é tão frágil que sacrifica a economia real em benefício da especulação financeira.
  • A miragem da “inflação baixa”: o difícil controle do dólar e a relativa baixa da inflação são sustentados à custa de uma recessão brutal que destrói empregos e aumenta a pobreza. Já começam a não poder mostrá-lo como um suposto “sucesso”, e começa a se tornar algo efêmero e fictício, cujas consequências fundamentais são pagas pelo povo que sofre na economia real, tendo que viver com salários que não dão para nada.

Toda essa situação é gerada por um plano econômico ordenado para pagar uma dívida externa fraudulenta e milionária com o FMI, que, por sua vez, exige mudanças estruturais a serviço dos grandes capitais imperialistas. A necessidade de acumular dólares e aumentar as reservas é para garantir esses pagamentos que, em 2026, serão ainda maiores. Assim, vemos como se tensiona e entra em crise um plano econômico que tem esse objetivo, ao mesmo tempo em que retira impostos das grandes corporações e dos mais ricos, para que continuem acumulando lucros milionários.

O ajuste e a corrupção são as duas faces da mesma e sinistra moeda libertária. E há um processo permanente de retroalimentação entre as crises política e econômica, com sua consequente repercussão também no plano social e o aumento do descontentamento. Cada vez mais aparecem manifestações dessa situação de crescente mal-estar social, que se evidencia em lutas, reivindicações sociais e em claras tendências sociais de uma maioria crítica ao governo. Os acontecimentos desta quarta-feira em Lomas de Zamora, com um governo fugindo de seu próprio ato e Espert escapando de moto, são apenas um sintoma evidente, uma foto da profunda crise social deste momento, que antecipa o filme que está por vir e uma perspectiva de maiores confrontos nas ruas.

Derrotas políticas e luta nas ruas

Isolado e encurralado, o governo vem sofrendo importantes reveses no Congresso. Não conseguiu evitar sofrer importantes derrotas parlamentares, como a aprovação da Emergência em Deficiência (derrogando o veto de Milei) e o Financiamento Universitário, apesar de este último estar sob ameaça de veto. No Senado, a revogação dos decretos de Sturzenegger que desmantelavam órgãos-chave como o INTI e o INTA foi rejeitada de forma retumbante, e a Emergência Pediátrica foi sancionada, o que fortalece a luta do Garrahan. Todas essas vitórias são resultado direto da mobilização e da pressão social desses setores. Ao mesmo tempo, o governo não está em uma situação pior nessa área graças aos seus aliados políticos (PRO, UCR e parte do PJ) que, em algumas ocasiões, continuam ajudando-o no Congresso. Por exemplo, conseguiram manter o veto ao aumento das aposentadorias. No entanto, essa reivindicação não terminou e continua em frente graças à mobilização persistente dos aposentados todas as quartas-feiras.

Tudo isso acontece apesar da traição das cúpulas sindicais. A direção da CGT, ausente nas ruas como de costume, vem se dedicando a negociar com o governo as reformas trabalhistas e previdenciárias exigidas pelo FMI, traindo os interesses da classe trabalhadora e deixando sozinhas todas as reivindicações genuínas. O que volta a manifestar a necessidade de nos livrarmos dessa velha e podre burocracia sindical, de impulsionar novas direções classistas e combativas, de coordenar por baixo cada luta e exigir a greve geral e o plano de luta que é necessário. De aproveitar realmente cada sindicato ou espaço sindical recuperado. E de impulsionar autoconvocatórias onde elas ocorrem de forma genuína, como vem acontecendo na enorme luta do Garrahan, onde, através de um Comitê de Luta votado em assembleia, trabalham em unidade a diretoria da APyT, a Junta Interna da Ate e os autoconvocados.

Derrotar Milei sem voltar ao passado: nossas propostas de saída

O governo de Milei está mergulhado na crise mais profunda desde seu início. É um governo fraco e de perspectiva incerta, que só se sustenta pelo apoio temporário dos grandes capitais e pela cumplicidade de uma oposição patronal que lhe proporcionou as leis de ajuste. Neste contexto, a campanha eleitoral começa com muita incerteza.

A saída passa por lutar com todas as forças para derrotar todo o seu projeto econômico, político e social, e conseguir que todos os ajustadores e corruptos se vão. Impulsionando mais do que nunca a mobilização unitária por todas as nossas reivindicações e para derrotar em conjunto todo o plano econômico e o projeto de Milei. Uma mobilização massiva que também proponha a punição de todos os corruptos e subornadores.

A crise traz movimentos políticos e um setor de governadores se distancia e busca aparecer como alternativa burguesa. Mas a saída não passa por confiar nesses chefes provinciais que até ontem votavam tudo a favor do governo e em suas províncias fazem ajustes e reprimem. Menos ainda se pode apoiar o PJ, que demonstrou que não serve nem como governo nem como oposição. Ele faz ajustes quando está no poder e, por isso, decepciona milhões, e não faz nada agora para realmente frear Milei. Na verdade, alguns de seus deputados e senadores endossaram leis e projetos libertários, ao mesmo tempo em que se recusaram a impulsionar uma verdadeira mobilização até derrotar Milei, enquanto só pensam em suas listas eleitorais e em suas disputas internas.

Esta situação não pode mais ser suportada. Temos que derrotar agora, com a mobilização, este governo que não pode continuar como se nada tivesse acontecido por vários anos mais. A única saída democrática é acabar com este governo e abrir um processo constituinte, onde o povo decida democraticamente sobre todas as grandes questões econômicas e sociais e obtenha respostas para suas necessidades urgentes. A saída que também é necessária é fortalecer uma verdadeira alternativa anticapitalista e socialista, que tenha um programa claro e consistente.

Defendemos ruptura com o FMI e pelo não pagamento da dívida externa, porque as fraudes não se pagam e é preciso priorizar todas as necessidades sociais do povo. Defendemos a nacionalização dos bancos e do comércio exterior, para controlar tudo o que temos e decidir tudo o que entra e sai do país. É preciso acabar com os esquemas das privatizadas e das corporações extrativas, em defesa de nossos bens comuns e dos serviços essenciais da população. Propomos cobrar impostos pesados dos ricos para dar salários, aposentadorias e aumentos nos orçamentos da saúde e da educação pública. E diante dessa corrupção entrelaçada entre funcionários, laboratórios e drogarias, impulsionamos a estatização sob controle operário e social de todo esse complexo e a produção pública de medicamentos. Fortalecemos uma alternativa que luta por um governo dos trabalhadores e pelo socialismo e que impulsiona um internacionalismo genuíno em solidariedade ao povo palestino e à denúncia do genocídio sionista em Gaza.

Nas próximas eleições, essa alternativa é a FIT-U, da qual fazemos parte desde o MST. Sua presença no Congresso, nas Legislaturas e nos Conselhos Deliberativos é totalmente necessária. Porque precisamos de mais deputados e deputadas que estejam sempre do mesmo lado e não mudem de opinião. Por isso, também convocamos aqueles que, decepcionados, estão pensando em não votar, para que punam de verdade aqueles que governam, fortalecendo uma alternativa anticapitalista e social.

Por todas essas razões, além de impulsionar a luta contra esse governo e fortalecer o FIT-U nas eleições, é imprescindível somar-se, ativar-se e ser protagonista do conjunto de lutas em curso. Também continuar propondo que nossa frente convoque a maior participação de milhares de trabalhadores e jovens, algo que é urgente e muito necessário. Para impulsionar tudo isso, convidamos a se juntar ao MST FIT-U, para trabalharmos juntos fortalecendo nossa ferramenta política e nos prepararmos para tudo o que está por vir.