Por: Marea Socialista
Marea Socialista, organização de esquerda revolucionária e anticapitalista, contrária ao governo autoritário de Maduro–militares–PSUV, repudia o ataque sofrido pelo Comitê de Defesa da Verdade, integrado por mães de jovens presos por reivindicar direitos eleitorais. O fato ocorreu em 5 de agosto de 2025, quando protestavam diante do TSJ pela situação de seus filhos, encarcerados após operações repressivas do governo contra o povo que questionava os resultados oficiais das eleições presidenciais de 28 de julho de 2024.
As mães pediam para ser atendidas por magistrados do TSJ a respeito do assunto, mas estes não se dignaram a recebê-las. Assim, cerca de 50 mães permaneceram em vigília nas imediações do tribunal, quando foram atacadas por várias dezenas de indivíduos parapoliciais, conhecidos como “coletivos”, que, armados com pistolas e objetos contundentes, agrediram as mães e as pessoas que solidariamente as acompanhavam — muitas delas pertencentes a movimentos de direitos humanos, organizações progressistas ou de esquerda que não apoiam o governo Maduro.
Os “coletivos” chegaram e começaram a agir logo após a Polícia Nacional Bolivariana (PNB) e o Grupo de Ações Especiais (GAES) abrirem caminho com sua retirada da área, enquanto a Guarda Nacional, que supostamente “resguardava” as instalações do TSJ, também não cumpriu sua obrigação de proteger para evitar o atropelo. Brandindo armas de fogo e instrumentos para golpear, a maioria encapuzada, tanto em motos como a pé, dezenas de atacantes fascistoides investiram contra as manifestantes, roubando celulares, bolsas, documentos, chaves de casa e até derrubando barracas onde estavam crianças das famílias protestantes.
Os agressores não se contiveram no ensaio de crueldade, atacando também pessoas especialmente vulneráveis, como gestantes e mães com bebês, chegando a arrastar pelo chão aquelas que se negaram a entregar seus pertences aos facínoras.
Junto com as mães do comitê, também foram agredidos apoiadores solidários, pertencentes a organizações como SURGENTES, membros do Bureau Político do Partido Comunista da Venezuela (PCV–Dignidad), da Liga de Trabalhadores Socialistas (LTS) e da Marea Socialista.
As mães do Comitê e seus acompanhantes solidários foram forçados, a empurrões, a se afastar do TSJ por várias quadras, descendo a Avenida Baralt, sem que o “ordenamento público” aparecesse para socorrê-los e deter a agressão coletiva e impune dos “coletivos” armados em plena rua.

Rompendo com seu habitual silêncio sobre este tipo de caso, a Defensoria do Povo condenou a agressão e instou as vítimas a formalizar a denúncia para apurar responsabilidades. Ao Ministério Público cabe o rápido início de uma investigação e a adoção de medidas preventivas diante desses fatos — algo que organizações de direitos humanos, políticas e sociais estão exigindo. Mas as mães do comitê já denunciaram que instituições como o CICPC começaram a “jogá-las de um lado para o outro” dizendo que “não é nossa competência”.
Embora seja correto exigir essas providências, estamos cientes de que se trata de pedir a instituições de um regime violador de direitos que atuem contra seus próprios abusos. É evidente que apenas a organização, a unidade e o desenvolvimento da luta podem frear a repressão.
Neste caso, foram violados um conjunto de direitos, como: 1) O direito à justiça e a recorrer a instrumentos eficazes de defesa; 2) O direito à liberdade de reunião e de manifestação ou protesto pacífico; 3) O direito à integridade pessoal, física, psíquica e moral, inclusive de pessoas vulneráveis, como gestantes e mães com bebês, entre outros manifestantes pacíficos submetidos a tratamento cruel, desumano e degradante; 5) Cometeram-se crimes de roubo e ameaça de morte, com armas em punho; 6) Utilizou-se ou permitiu-se a atuação de grupos parapoliciais para exercer a repressão, o que implica responsabilidade do Estado por ação ou omissão, dada a evidente cumplicidade ou negligência deliberada, com a retirada e não intervenção da polícia para garantir a integridade das pessoas atacadas.
Por isso, exigimos e nos propomos a lutar por:
· Investigação dos fatos e explicações do governo pelo ocorrido e pela omissão de socorro em que incorreram os órgãos de segurança pública.
· Atendimento institucional imediato pelo TSJ e qualquer outro órgão competente às demandas de justiça das mães vítimas da agressão de 5 de agosto, que exigem resolver a situação de seus filhos presos.
· Recuperação e devolução dos telefones celulares, documentos de identidade e demais pertences roubados pelas quadrilhas parapoliciais.
· Libertação imediata dos jovens injustamente presos, assim como de todos os ativistas sociais, trabalhadoras/es, sindicais e de direitos humanos e democráticos encarcerados sob falsas acusações, em consequência das recorrentes ondas repressivas dos últimos anos.
· Exigir respeito ao povo que se manifesta em defesa de seus direitos e punição aos responsáveis por sua violação, tanto nos organismos policiais como pela prevenção de novos ataques parapoliciais de “coletivos”.
· Desenvolvimento de uma campanha de denúncia da repressão parapolicial utilizada ou tolerada habitualmente pelo governo; exigência de punição aos responsáveis e dissolução das quadrilhas fascistoides que praticam esta modalidade de repressão antioperária e antipopular. Continuidade da campanha de solidariedade nacional e internacional com os presos por reivindicar direitos democráticos e sociais na Venezuela. A Marea Socialista assume essa tarefa como organização vinculada à Liga Internacional Socialista, que reúne partidos anticapitalistas e antiburocráticos em dezenas de países nos diversos continentes.
Chamamos o ativismo operário e popular, defensor dos direitos democráticos e humanos, a seguir apoiando as mães do Comitê de Defesa da Verdade, valorizando seu exemplo de organização, mobilização e resistência em favor da liberdade e dos direitos de seus filhos — filhos do povo venezuelano.
A repressão a este tipo de reivindicação legítima de setores populares por parte do governo revela sua incapacidade de diálogo e o pavor da burocracia reacionária governante diante da menor mobilização popular; paranoia que expressa uma crise política. Este abuso de força, que busca intimidação permanente, é, no fundo, um sinal de fraqueza.
O governo tenta camuflar suas ações repressivas com a atuação tolerada de “coletivos” violentos para evadir responsabilidades, mas está evidente de onde partem as ordens. Esse comportamento mostra claramente que não se trata de um governo “de esquerda” ou “revolucionário”, como retoricamente ainda tenta se apresentar, pois tanto suas políticas econômicas e sociais quanto suas práticas repressivas constantes revelam sua natureza burocrática, autoritária, antioperária e antipopular, que, evidentemente, é contrarrevolucionária e nada tem a ver com o socialismo. Isso deve ser reconhecido por toda a esquerda internacional para desmascarar o caráter de um governo que age como outra extrema-direita, explorando e oprimindo a classe trabalhadora e o povo venezuelano.
Em conclusão, o ataque contra as mães em vigília diante do TSJ representa uma violação múltipla de direitos humanos, ocorrida em um contexto de repressão generalizada, sistemática e persistente contra o povo e contra dissidências políticas. Frente a isso, é fundamental manter a organização, a denúncia, a articulação unificada na mobilização e favorecer espaços de reflexão e debate democrático no seio do povo, para fortalecer sua consciência política e sua firmeza na defesa dos direitos.
Por fim, aproveitamos este comunicado para divulgar a convocatória para uma mobilização prevista para 14 de agosto, que partirá da Praça Morelos, em Caracas, às 10h, e que será uma atividade sindical e popular, com a participação de trabalhadores/as e ativistas sociais, com três consignas centrais: Basta de repressão! Libertem os presos políticos! Salário igual à cesta básica!
Qualquer agressão semelhante à de 5 de agosto contra essa manifestação pacífica, à qual temos pleno direito, será de inteira responsabilidade do governo.




