A estratégia da burguesia crioula executada pelo governo de extrema direita de Mulino para garantir o plano de ajuste econômico
Por Carlos Ernesto Guevara Villar, advogado
A oligarquia e a burguesia panamenha, com um governo capitulador pró-EUA, desenvolvem uma política sistemática de perseguição, repressão policial e judicialização contra dirigentes e membros do movimento operário e popular. Essa política é direcionada, em particular, ao SUNTRACS, ASOPROF, AEVE, comunidades indígenas e estudantes universitários críticos e independentes. Durante a recente greve, a reitoria da universidade contribuiu para a desmobilização, forneceu informações às autoridades competentes e promoveu normas de caráter repressivo para impedir os protestos no campus, em flagrante violação da autonomia universitária. É especialmente repreensível que o reitor ceda essa autonomia de forma tão flagrante.
O presidente Mulino, que assumiu o cargo com apenas 34% dos votos como substituto de Ricardo Martinelli, exibe um estilo político marcadamente autoritário, próprio de um regime de direita. Ele instrumentalizou os três poderes do Estado — todos corruptos e clientelistas — para impor uma legislação regressiva, como a Lei 462, que reformou o sistema de previdência social. Essa reforma provocou uma mobilização social de mais de 80 dias, inicialmente dirigida por educadores e trabalhadores da construção civil, à qual se juntaram, de forma espontânea, comunidades originárias de Darién e Bocas del Toro, cansadas da precariedade que as aflige.
Mulino reiterou publicamente que sua lealdade deve-se exclusivamente ao empresariado. Isso se reflete, por exemplo, nas ações administrativas ilegais empreendidas pela IPACOOP contra a cooperativa SUNTRACS: apreensão de bens móveis fora do horário de funcionamento e um processo de liquidação arbitrário conduzido por um advogado sem idoneidade profissional, suspenso até mesmo pela Quarta Câmara da Suprema Corte de Justiça. A essas ações somam-se investigações criminais caracterizadas por contradições e falsidades, desde o caso das fazendas de Bocas del Toro até os processos instaurados contra mais de oitenta trabalhadores da construção civil, que incluem detenções, autoexílios e julgamentos sem provas sólidas.
A repressão se sustenta no aparato militar e no apoio do imperialismo norte-americano, que formaliza sua presença por meio de “memorandos de entendimento” que prejudicam a soberania nacional e facilitam intervenções militares na região sob o pretexto de combater o narcotráfico, como ocorre atualmente na Venezuela. Defendemos a soberania desse país — embora sem apoiar o governo de Maduro — sob a palavra de ordem: Trump, tire as mãos da Venezuela”
A burguesia, por meio de Mulino, procura compensar a queda de seus níveis de acumulação de capital através do uso irrestrito dos três poderes do Estado. Isso ficou demonstrado na defesa das aposentadorias, quando o governo impôs, com sangue e fogo, um plano de ajuste destinado a satisfazer as instituições financeiras internacionais e as corporações transnacionais, incluindo as mineradoras. Esse plano prevê reformas na previdência social, no Código do Trabalho, na gestão da água, no ensino médio e superior, no regime tributário e na exploração mineral. Para concretizá-lo, o regime reforça suas práticas autoritárias e busca enfraquecer — e até mesmo desarticular — o movimento operário e popular, por meio da perseguição, criminalização e judicialização de seus líderes.
O que acontece no Panamá não é um fenômeno isolado, mas parte da política global de um capitalismo imperialista em decadência. Enfrentar essa realidade exige abrir um debate profundo dentro do movimento operário, popular e social, a fim de se preparar para as novas lutas, especialmente contra o extrativismo mineiro, por meio de uma frente unitária e democrática, com um programa de ação claro, aprendendo com os erros do passado e superando o medo da criminalização.
Por isso insistimos: na luta de classes, como na vida, desperdiçar oportunidades custa caro. Essa é uma das lições da recente greve, quando existiam condições para exigir a queda do regime e, no entanto, as direções se limitaram a palavra de ordem imediata da defesa das aposentadorias.
Atualmente, o governo mantém na prisão La Mega Joya e em prisão domiciliar, ou no exílio, dirigentes do SUNTRACS, afastando ilegalmente de seus cargos, sem direito a remuneração, mais de trezentos educadores, muitos deles referências da esquerda, além de deixar um saldo de pessoas processadas, mortas, feridas ou mutiladas em todo o país.
Panamá, 16 de setembro de 2025




