Por: Alternativa Socialista Perú – LIS
O país atravessa uma de suas piores crises políticas e sociais. A destituição presidencial de Dina Boluarte por “incapacidade moral permanente” não representa uma vitória completa do povo, mas sim uma manobra do próprio regime para se recompor em meio ao colapso geral. As greves do transporte, o tiroteio em um show da banda Agua Marina e o aumento incontrolável das extorsões e assassinatos expuseram um Estado que já não consegue garantir nem a segurança nem a vida. A violência, a corrupção e o medo se tornaram parte do cotidiano do Peru.
Nesse cenário, os mesmos partidos que blindaram Dina — Fuerza Popular, Alianza para el Progreso, Avanza País, entre outros — impulsionaram quatro moções de destituição. Não o fizeram por convicção democrática nem por empatia com as vítimas desse regime, mas por puro cálculo político, já que foi graças a eles que Dina pôde permanecer tanto tempo no poder. Não esqueçamos que, durante seu governo, mais de 50 pessoas foram assassinadas pela repressão estatal: camponeses, estudantes, mulheres, jovens dos bairros populares. Esses crimes seguem impunes e, hoje, os responsáveis — parlamentares, ministros, partidos e Forças Armadas — continuam ocupando cargos e repartindo cotas de poder.
O fato de o denunciado por estupro José Jeri assumir a presidência não é apenas uma afronta moral ao povo, mas uma demonstração cínica da natureza misógina, patriarcal e podre desse Estado. É um insulto às milhares de mulheres que saíram às ruas contra a violência machista, às vítimas de abuso que jamais encontraram justiça e a todo o movimento feminista, que tem sido um dos pilares da resistência popular. Essa nomeação reflete com crueza que o Congresso, dominado por setores ultraconservadores, fujimoristas e neoliberais, não busca estabilidade nem justiça: busca impunidade e controle.
Também não pode passar despercebido que Fernando Rospigliosi, ex-ministro do Interior e velho operador dos aparatos repressivos, tenha assumido a presidência interina do Congresso. Rospigliosi, símbolo do autoritarismo e da perseguição aos movimentos sociais, representa a continuidade do modelo de Estado policial que se consolidou desde a queda de Castillo. Sob seu comando, pode-se prever uma escalada da repressão, da censura e da criminalização do protesto. Sua presença não é casual: é um aviso do regime ao povo, uma tentativa de impor disciplina com gás lacrimogêneo, balas de borracha e prisões àqueles que ousarem desafiar a ordem estabelecida.
No entanto, a história mostra que a repressão não detém a luta — a multiplica. E essa força já está em movimento. Para a quarta-feira, 15 de outubro, a chamada Geração Z, junto com estudantes universitários, sindicatos de base, organizações populares e diversos coletivos, convocaram uma Greve Nacional que promete se transformar em um ponto de inflexão na luta de massas. A juventude, que já protagonizou as mobilizações de setembro, volta a acender a chama da resistência. Não se trata apenas de um protesto contra o novo governo ilegítimo, mas de uma rebelião contra todo o regime — contra a corrupção, o autoritarismo e o abandono sistemático do povo trabalhador.
A essa onda de mobilização se soma a Marcha do Sacrifício do prefeito de Pataz, que percorre quilômetros junto a centenas de moradores para exigir atenção diante do abandono, da violência do crime organizado e da devastação provocada pela mineração. Sua caminhada, carregada de dignidade, sintetiza o drama nacional: enquanto os povos andinos são sufocados pela pobreza e pelas máfias, em Lima os mesmos corruptos de sempre repartem o poder. Essa convergência entre as lutas locais e a mobilização nacional da juventude pode abrir um cenário de ruptura com a passividade e o medo.
Nem Dina nem Jeri: fora todos
Essa destituição não foi contra a delinquência nem contra a impunidade. Foi uma manobra do próprio sistema para rearranjar seu poder, para continuar governando sob as mesmas regras do regime de 1993 — o que impõe desigualdade, precariedade e saque. Os partidos que ontem derrubaram Dina não representam o povo: representam os grupos econômicos, os militares impunes, os empresários que lucram com o medo.
Por isso, não basta se indignar. Não basta dizer “fora todos” se não organizarmos uma força desde baixo que o torne possível. A saída não virá desse Congresso nem de novas eleições manipuladas. Virá da unidade na ação: dos sindicatos, das organizações de mulheres, da juventude e dos povos que resistiram à repressão e seguem de pé.
O país não aguenta mais. Cada dia que passa sob esse regime é mais um dia de morte, corrupção e miséria. Por isso, convocamos à greve geral neste 15 de outubro: só com mobilização, organização e unidade das lutas poderemos quebrar este sistema. Que o medo mude de lado, que o povo volte a ser protagonista de seu destino.
- Por um Peru livre de corruptos, assassinos e opressores!
- Pela unidade dos trabalhadores, da juventude e dos povos para conquistar uma nova sociedade!
- 15 de outubro: greve geral!




