Por Partido Comunista dos Trabalhadores (PCL Itália)
Todos os meios celebram o plano entre Trump e Netanyahu para Gaza como um grande plano de paz para a Palestina e o Oriente Médio. Mas, na realidade, trata-se de um verdadeiro plano neocolonial. Um plano a serviço das necessidades do Estado sionista e do imperialismo.
O carrasco Netanyahu pretende colher os frutos do genocídio: a rendição e o desarmamento da resistência palestina; atuar sem restrições na Cisjordânia, que o plano omite mencionar deliberadamente; e um governo de Gaza controlado diretamente por Trump e Blair, garantindo a Israel os interesses imperialistas na região e os apetites imobiliários.
Netanyahu aponta para uma força internacional de “estabilização” em Gaza que colabore com Israel, com o objetivo de aniquilar qualquer resistência possível, presente ou futura. Uma presença direta complementar ao exército israelense “até que Gaza esteja adequadamente protegida de qualquer ameaça terrorista”, ou seja, uma presença militar praticamente permanente, como cláusula de segurança.
Trump, por sua vez, trabalha para reunir a maioria dos governos árabes em torno de Israel a fim de relançar e expandir os Acordos de Abraão. A exigência de desculpas de Israel ao Catar faz parte da operação. Os regimes árabes estão abertamente envolvidos no plano como guardiões da rendição do Hamas e da “segurança” de Israel, começando pelo Egito e pela Jordânia.
Nesse contexto, até mesmo o Irã foi mencionado como um possível parceiro futuro e adicional em um importante acordo regional, obviamente em troca de sua rendição aos ditames sionistas e imperialistas.
Quanto à Autoridade Palestina, a ela se reserva um papel hipotético e futuro, caso demonstre uma capacidade indefinida de autorreforma de longo prazo. Na prática, isso equivale à sua humilhante marginalização.
A manobra de Trump é ambiciosa. Busca uma nova relação de forças no Oriente Médio que lhe permita concentrar-se no Pacífico. A extensão dos Acordos de Abraão é fundamental para esse objetivo. O avanço militar de Israel em todas as frentes ameaçou comprometer o plano estadunidense, dificultando a reconciliação entre Israel e os países árabes. O plano atual visa superar esse problema com uma lógica inversa. É precisamente a onipotência militar de Israel na região, sustentada em parte pelo apoio dos EUA, o fator identificado como centro de gravidade necessário para o novo equilíbrio regional.
A capitulação da burguesia árabe não poderia ser mais descarada. O fato de até mesmo a Autoridade Palestina estar incentivando um plano que sequer reconhece a própria Autoridade Palestina é a medida mais clara de sua corrupção política.
As potências imperialistas europeias se alinham uma a uma ao plano Trump-Netanyahu. Nos meses anteriores, o impasse político da operação de Trump e a pressão de uma opinião pública europeia fortemente pró-Palestina haviam levado vários governos europeus a imitar o virtual “reconhecimento” do Estado da Palestina. Essa foi uma operação hipócrita e cosmética dos mesmos governos que continuaram — e continuam — armando e financiando Israel.
E, no entanto, foi uma operação que buscava explorar as contradições da política de Trump para tentar estabelecer sua própria relação com as monarquias do Golfo, em certa medida competindo com a relação dos Estados Unidos. O plano Macron-Saudita, em particular, seguiu essa direção. Mas agora que Trump recuperou o controle da situação, os países imperialistas europeus lhe cedem passagem. O fato de o plano de Trump não contemplar um Estado palestino, a não ser como uma “aspiração” dos palestinos (aspiração que não se pode negar a ninguém), não constitui problema para os governos da União Europeia. O equilíbrio de forças entre a UE e os EUA, e a cumplicidade da UE com Israel, não podem deixar de implicar que a UE se alinhe com os EUA, com muito tributo e apreço.
O povo palestino segue sendo a vítima designada do grande jogo imperialista e sionista. Nada mudou para ele. A guerra de Israel continua nestas horas com seu saldo de morte e terror. Em Gaza e na Cisjordânia. As organizações palestinas sequer foram consultadas sobre um plano que prevê sua destruição. Os palestinos de Gaza não terão voz no governo colonial escolhido para eles. O plano Trump-Netanyahu prevê um processo de diálogo destinado a mudar a mentalidade dos palestinos. Ou seja, erradicar neles a ideia simples e fundamental de serem uma nação oprimida e a ideia de resistência. Essa é a ambição eterna de toda ocupação colonial.
Mas esse plano fracassará. Quaisquer que sejam os resultados militares imediatos da chantagem terrorista do Estado sionista e do imperialismo, podemos dizer com absoluta certeza que o povo palestino não dispersará nem sua causa nem sua memória. Tudo será lembrado, nada será perdoado, especialmente depois de dois anos de guerra genocida. A resistência palestina baterá à porta uma e outra vez no futuro. Esperamos que o faça com uma nova direção e um novo programa de revolução.
Não aos protetorados coloniais na Palestina! Por uma Palestina livre do sionismo e do imperialismo! Por uma Palestina única, democrática, laica e socialista em um Oriente Médio socialista!




