Por Alternativa Socialista

Em uma decisão relâmpago, o Congresso da República do Peru destituiu na noite de quinta-feira (9) a presidente Dina Boluarte, após declarar “incapacidade moral permanente” para exercer o cargo, em meio à crescente onda de insegurança cidadã e ao avanço do crime organizado que toma o país.

O plenário do Congresso aprovou as quatro moções de destituição com 122 votos a favor de um total de 130, um número muito superior aos 87 necessários para efetivar a destituição. A mandatária não compareceu à sessão para exercer sua defesa, o que reforçou o isolamento político que já a cercava.

A resolução legislativa declara “a incapacidade moral permanente da presidente da República e a vacância do cargo”, determinando ainda a “aplicação do regime de sucessão” estabelecido na Constituição. Como não há vice-presidentes em exercício, a chefia do Estado recai sobre o presidente do Congresso, José Jerí, líder do partido de direita Somos Peru, que assumiu imediatamente a presidência interina do país.

Entre as principais acusações contra Boluarte estão a responsabilidade política pela morte de mais de 50 pessoas durante a repressão aos protestos sociais de 2022 e 2023, bem como as investigações por suposto recebimento de presentes de luxo, como relógios Rolex não declarados. Ela também é questionada por ter ocultado sua incapacidade física temporária para exercer o cargo enquanto se submetia a cirurgias estéticas, o que teria constituído uma grave falta de transparência no exercício do poder.

Desta forma, o Congresso peruano executa a saída de Dina Boluarte e abre uma nova etapa de instabilidade política, com um governo liderado por José Jerí, cuja legitimidade já é objeto de debate em amplos setores sociais e políticos.

O fim do apoio político a Dina Boluarte no Peru

O apoio político que sustentava Dina Boluarte finalmente desmoronou quando até mesmo os setores que a defendiam começaram a assumir o alto custo de sua impopularidade. Nos últimos meses, o país se viu envolvido em uma espiral de violência, insegurança e crise institucional. Sequestros, extorsões e assassinatos aumentaram de forma alarmante, enquanto os peruanos enfrentavam o desemprego, a inflação e a crescente deterioração de suas condições de vida.

Na quarta-feira, um fato marcou o ponto de inflexão: uma gangue armada atacou um grupo de cumbia em um local do Exército Peruano, um evento que desencadeou a indignação nacional e expôs de forma brutal a perda de controle do Estado diante do crime organizado.

Paralelamente, jovens da chamada Geração Z voltaram às ruas de Lima — como detalhado em artigo anterior — para exigir a renúncia de Boluarte, em confrontos com a polícia e denúncias de repressão excessiva. Essa mobilização da juventude, ativa e desafiadora, selou o isolamento político da mandatária.

Boluarte: a queda de uma presidente sem base social ou política

Desde sua chegada ao poder, Dina Boluarte ficou presa entre a repressão e a desconfiança popular. Seu governo foi caracterizado pela mão de ferro, nenhum diálogo e pelo autoritarismo crescente. A isso se somaram escândalos familiares e pessoais, como a prisão de seu irmão por corrupção e a investigação contra ela pelo uso indevido de bens de luxo, entre eles os polêmicos relógios Rolex.

Nos últimos meses, nem o Congresso nem o Tribunal Constitucional conseguiram sustentá-la. A votação na noite de quinta-feira (9), que declarou sua vacância por incapacidade moral, foi a confirmação de um ciclo político esgotado e o desfecho previsível de um governo que nunca conseguiu construir legitimidade nem responder às demandas urgentes do país.

A convocação para a Greve Nacional na quarta-feira, 15 de outubro, se fortalece e surge como uma resposta direta ao clima de indignação e repulsa que atravessa o país após a destituição de Dina Boluarte e a posse do questionado José Jerí na presidência. Impulsionada inicialmente pelos jovens da chamada Geração Z, a convocação foi rapidamente apoiada por estudantes universitários, sindicatos de trabalhadores, associações de transportadores, organizações camponesas, coletivos e frentes regionais. Sob a palavra de ordem “Fora Todos!”, as mobilizações buscam denunciar a crise política, a corrupção estrutural e a crescente insegurança que assola a população.

Em Lima, estão previstas concentrações na Praça San Martín e nos arredores do Congresso, enquanto nas regiões são anunciados bloqueios, marchas e assembleias populares. Além de um protesto pontual, a greve nacional expressa o despertar de uma nova geração que combina a rebeldia digital com a ação nas ruas, articulando a frustração acumulada de um povo que já não confia nas instituições e exige uma profunda transformação do modelo político e social vigente.

Comemorações e protestos nas ruas

Após a destituição, manifestantes comemoraram em frente ao Congresso e à embaixada do Equador, onde havia rumores de que Boluarte poderia solicitar asilo político. Nas ruas, os cânticos se misturavam com a incerteza. Alguns exigiam eleições antecipadas, enquanto outros pediam uma refundação institucional para frear a crise permanente do país.

Manifestantes comemoraram em frente ao Congresso a destituição de Dina Boluarte. (Foto: Reuters)

Uma história de breves presidentes

Com a posse de José Jeri, o Peru acumula 7 presidentes em 7 anos: Pedro Pablo Kuczynski, Martín Vizcarra, Manuel Merino, Francisco Sagasti, Pedro Castillo, Dina Boluarte e agora José Jeri.

Essa rápida sucessão reflete uma crise estrutural e terminal da institucionalidade burguesa clássica, que não se resolve com mudanças no comando. Três ex-presidentes — Alejandro Toledo, Ollanta Humala e Pedro Castillo — estão presos por corrupção ou abuso de poder.

O que vem por aí, nada previsível

O novo presidente assumiu para propor as velhas receitas dos políticos de direita: recompor a confiança interna, estabilizar a economia e convocar um processo eleitoral em abril de 2026.

Jeri prometeu manter o calendário eleitoral e concentrar sua gestão na luta contra a insegurança e a corrupção. No entanto, a legitimidade de seu governo é claramente questionada pelo descrédito generalizado e será submetida a um teste permanente, enfrentando greves e marchas convocadas com a política de “Fora Todos!”, que também defendemos desde a Alternativa Socialista.


Enquanto isso, a figura de Boluarte permanece como símbolo do desgaste institucional capitalista de um país que não consegue encontrar um rumo. Sua queda marca mais um capítulo na interminável saga de crises presidenciais que há anos abalam o Peru e que mais uma vez nos impõe a obrigação de fazer um apelo à unidade de todos os setores que se dizem anticapitalistas para debater uma saída para esta crise permanente. Desde a Alternativa Socialista, continuaremos lutando pelo chamado a uma Assembleia Constituinte onde os setores populares debatam democraticamente todas as alternativas com a perspectiva de que, de uma vez por todas, governem os que nunca governaram: os trabalhadores e o povo.

  • Fora Todos!
  • Fora Jeri, corrupto e violador!
  • Por uma Assembleia Constituinte livre e soberana, debatida a partir da base pelos trabalhadores, estudantes, camponeses e todo o povo!