Turquia: Entrevista com Fatih Mehmet Macoglu “O povo tem o direito de governar”

Dersim é um distrito no leste curdo da Turquia. Fatih Mehmet Macoglu é prefeito do subdistrito de Dersim, Ovacik, e candidato a prefeitura de Dersim nas próximas eleições de 31 de março. As políticas que implementou, como o transporte gratuito, as assembleias de bairros e as cooperativas agrícolas, o fizeram conhecido nacionalmente e internacionalmente como o “prefeito comunista”.

A eleição está fortemente disputada entre a candidatura de Macoglu – apoiada por seu partido de procedência Maoista, a Federação das Assembleias Socialistas (SMF), o Partido Comunista Turco (TKP), e outros grupos de esquerda – e o Partido Democrático do Povo (HDP) dirigido pelo nacionalismo curdo. Enquanto a maioria dos curdos são mulçumanos sunitas e a maioria dos mulçumanos alevi são turcos, em Dersim a maioria da população é curda alevi, e tem uma larga história de resistência contra o império otomano e a república da Turquia. Macoglu aplicou sua base de apoio a partir de atravessar as divisões de identidades étnicas, culturais e religiosas como uma proposta de classe, baseada nas necessidades dos trabalhadores e do povo pobre.

Anticapitalistas em Rede participou de uma delegação do Partido Socialista dos Trabalhadores (SEP Turquia) que viajou à Dersim em apoio crítico a campanha de Macoglu. Entrevistamos o candidato, cuja reportagem reproduzimos:

Como você avalia sua gestão em Ovacik? O que conquistaram e quais os desafios que tem por diante?

Não apenas conquistamos algo extraordinário aqui. Dizíamos que a educação, a saúde, a comida tinham que ser gratuitas e que as identidades culturais devem ser protegidas, enquanto o imperialismo dizia exatamente o contrário. Foi dito que tudo deve ser privatizado e que isso é normal. O capitalismo oprime as minorias e o povo; impõe línguas e culturas, e dizem que os socialistas que defendem os oprimidos são utópicos. Ovacik demonstrou que outro tipo de vida é possível. A experiência de Ovacik demostra que a juventude, as mulheres, os trabalhadores e os camponeses podem governar. Não se trata apenas das cooperativas agrícolas; as próprias pessoas organizaram os processos de produção. Levam adiante uma agricultura ecológica, protegendo a natureza. Os socialistas defendemos que o povo trabalhador deve autogovernar-se através de suas próprias organizações. Diferentemente do modelo capitalista, o povo pode aproveitar sua produção.

Acreditamos que o modelo socialista deve se organizar em todos os lados contra a exploração capitalista. O humilde projeto que temos estado realizando em Ovacik tenta conquistar isso em nível local. Agora sou candidato para a municipalidade de Dersim. Queremos estender esta experiência, não só para Dersim, mas para todo o país. O que fazemos aqui tem o apoio das pessoas, mas os capitalistas e o governo estão incomodados com isso. Então tentam manipular a campanha eleitoral em Dersim. Estão incomodados porque sabem que as pessoas de Dersim é de esquerda e tem o poder para ganhar. Os poder, as mulheres, vas demostrar que um mundo de iguais é possível. Estamos lutando por isso; acreditamos que nossa experiência aqui inspira esperança em todo o país, que está sob uma ditadura unipessoal.

Quais propostas tem para Dersim? O que pensa que podem conquistar se ganharem?

Dersim é uma pequena província na Turquia, que é apenas uma parte do mundo. Devemos analisar a situação concreta de nossa região, e atual com base nas necessidades, estrutura econômica e demandas da província. Ovacik é um projeto específico da região, e não podemos propor o mesmo para todos os lados. Dersim tem capacidade agrícola, pecuária e turística; tem uma cultura diferente, marcada por sua população alevi. As mulheres, a juventude e outros setores oprimidos da sociedade devem ser priorizados. Isso não é difícil. O essencial de nossos projetos está nas assembleias populares que organizamos. Uma cidade governada por assembleias populares é possível quando as pessoas exigem. Acredito que isso é o mais importante.

Como sentem a campanha?

Temos uma popularidade importante. Temos que visitar mais de 10 mil casas. Começamos a organizar reuniões em casas todos os dias com dezenas de pessoas. Fazem perguntas e pleiteiam propostas ativamente nas reuniões. Discutem questões urbanas, problemas econômicos, o desemprego. O nível de participação nas reuniões vem aumentando a cada dia. A campanha eleitoral se transformou em uma disputa entre dois partidos (HDP e TKP). Há 20 dias, a campanha começou com quatro; agora nossa popularidade e peso político tem feito que os outros não disputem com possibilidades. Acho que vamos ganhar.

Como analisa a situação política na Turquia? Que perspectiva tem a esquerda socialista?

O capitalismo fracassou em todos os lugares; não pode governar; está em crise por todos os lados. Os socialistas temos que nos unir e aproveitar esta crise. Deveríamos nos fortalecer nas massas. Isso é uma oportunidade, abre a porta para políticas que podem unir aos oprimidos, as mulheres, os pobres, a juventude e os distintos setores da sociedade. A única coisa que o capitalismo pode fazer é oprimir aos povos, organizar guerras, manipular a crise política. Isto vale para todos os lugares: Argentina, Uruguai, Colômbia, Síria, Iraque, Palestina, e também na Turquia. A Turquia é apenas parte do mundo. O povo tem direito de governar este distrito, está província, este país e o mundo. Todos os comunistas, socialistas e democratas do mundo deveríamos colaborar. Nossa esperança não se limita a nossa experiência local, é para todos os povos do mundo.