A crise política e econômica global leva a burguesia a descarregar os planos de ajuste neoliberais nas costas dos trabalhadores em todo mundo. Resultantes da polarização política e da desilusão com forças de centro e de esquerda, ganham força alternativas à direita e governos de extrema-direita, como Bolsonaro no Brasil. Também ganha força a necessidade de resistir ao autoritarismo e ao neoliberalismo de choque que as soluções conservadoras estão propondo.
O eixo dessa articulação direitista, que mistura protecionismo nacionalista e ultraneoliberalismo, no mundo é o governo de Trump, nos Estados Unidos, que busca aplicar seu mesmo modelo, com sanha predatória no continente latino-americano. Com a vitória de Bolsonaro, essa ofensiva colonizadora ganhou um enclave no maior país da América do Sul – dados os vínculos carnais de Bolsonaro com Trump e o tea party (a direita do Partido Republicano). Bolsonaro opera na região para fazer valer tais interesses e abrir mais frentes de guerra social contra o povo. Por isso, se jogou no apoio a Maurício Macri dentro do processo de disputa argentino (embora valha a ressalva que Macri, conservador e neoliberal, não é protofascista como seu aliado brasileiro).
A Argentina é alvo de uma escandalosa ingerência externa em sua economia, cada vez mais dependente dos ditames do Fundo Monetário Internacional. Os novos empréstimos contraídos este ano, para supostamente salvar o país da crise cambial, colocaram ainda mais em risco a soberania econômica. O desemprego, a fome e a inflação alertam para uma situação social tão grave quanto a da histórica crise de 2001.
Simultaneamente, contudo, cresce a resistência tanto aos planos econômicos quanto aos planos políticos que destroem a soberania dos Estados, os direitos dos trabalhadores e mesmo os patrimônios naturais da humanidade. A luta contra o autoritarismo e o neoliberalismo ganha corpo internacionalmente, como bem demonstrou a greve internacional pelo clima. O aguerrido movimento social argentino protagonizou fortes jornadas contra Macri, como na luta de 14/18 de dezembro de 2017, contra a reforma da previdência.
Assim, a resistência na Argentina expressou-se no voto castigo contra Macri nas primárias obrigatórias (PASO). O governo argentino teve abreviado o seu mandato, perspectiva que deve ser confirmada já no primeiro turno, em 27 de outubro.
Nesse cenário, foi importante e expressiva a superação do “piso proscritivo” (cláusula de barreira) por parte da Frente de Esquerda dos Trabalhadores – Unidade (FIT-U), que alcançou a marca de 3% dos votos nas eleições primárias. Apesar da pressão pelo chamado voto útil na chapa de Alberto Fernández e Cristina Fernández Kirchner, os votos conquistados pela chapa da esquerda socialista são um patrimônio da esquerda latino-americana, graças a seu programa de independência dos explorados e de sua estratégia radicada na luta de classes. A Frente de Esquerda – Unidade ampliou-se neste ano, com o ingresso do MST e a abertura de suas listas eleitorais a outros grupos populares e lutadores (a FIT é formada originalmente pelo PTS, PO e IS), embora não tenha sido possível unir todas as forças da esquerda socialista na Argentina.
Contraditoriamente à força do movimento social argentino, a esquerda no país vizinho, com muita história e tradição, ainda não conseguiu construir uma alternativa de massas ao macrismo. Por isso, o velho peronismo, unindo-se ao kirchnerismo, ainda é visto por grande parte da população como uma oposição viável ao modelo neoliberal. Líder nas pesquisas, Alberto Fernández já sinaliza que vai manter aspectos essenciais da política econômica de Macri, como a desvalorização cambial e o pagamento da dívida.
Como não acreditamos que Fernández seja uma alternativa capaz de reverter a grave crise que vive a Argentina, apoiamos a chapa da FIT-U, lutando para que ela se afirme e se amplie.
Enviamos nossa mensagem de esperança e apoio para nossos camaradas argentinos. A existência de uma alternativa eleitoral – com Nicolás Del Caño e Romina del Plá-, que expressa um programa de ruptura com o FMI, é um passo decisivo para as batalhas que virão.
Assinam:
Movimento Esquerda Socialista (MES)
Liberdade, Socialismo e Revolução (LSR)
Insurgência
Resistência
Coletivo Primeiro de Maio
Comuna
Trabalhadores na Luta Socialista (TLS)
Luta Socialista
Subverta
Construção Socialista(CS)
Ação Popular Socialista (APS)
Atualidade da Revolução(AR)
David Miranda (deputado federal, PSOL-RJ)
Fernanda Melchionna (deputada federal, PSOL-RS)
Sâmia Bomfim (deputada federal, PSOL-SP)
Luciana Genro (deputada estadual no RS, Diretório Nacional do PSOL)
Renato Rosseno(deputado estadual, PSOL- CE)
Dani Monteiro (deputada estadual, PSOL- RJ)
Sandro Pimentel (deputado estadual, PSOL-RN)
Roberto Robaina (vereador em Porto Alegre-RS, Diretório Nacional do PSOL)
Pedro Fuentes (dirigente nacional do MES/PSOL)
Israel Dutra (Secretário de Relações Internacionais do PSOL)
Mariana Riscali (Executiva Nacional do PSOL)
Bernadete Menezes (Secretaria de Relações Institucionais do PSOL)
Mário Azeredo (Diretório Nacional do PSOL)
Leandro Recife(Secretário-geral do PSOL)
Marcio Silva Sousa(Executiva Nacional do PSOL)
Rogério Ferreira(Executiva Nacional do PSOL)
Douglas Diniz(Executiva Nacional do PSOL)
São Paulo, 06 de outubro de 2019