Porque os Estados Unidos estão reduzindo sua presença no Oriente Médio

[:tr]A convoy of US military vehicles drives near the town of Tal Tamr in the northeastern Syrian Hasakeh province on the border with Turkey, on November 10, 2019. (Photo by Delil SOULEIMAN / AFP) (Photo by DELIL SOULEIMAN/AFP via Getty Images)[:]

Por  V. U. Arslan

“Em termos de colaboração de segurança, os dois países reconheceram que, à luz dos progressos significativos para eliminar a ameaça ISIS, nos próximos meses, os Estados Unidos continuarão a reduzir suas forças no Iraque…” Esta foi a declaração mais importante da recente reunião entre os governos dos Estados Unidos e de Bagdá.

Os Estados Unidos vem buscando reduzir suas tropas no Oriente Médio há muito tempo. Essa mudança de política veio num momento em que o centro econômico do mundo mudou para o leste (Ásia-Pacífico), a luta com a China se tornou um assunto importante, os Estados Unidos se tornaram o maior produtor mundial de petróleo, novas tecnologias reduziram a importância econômica do petróleo e, além disso, os Estados Unidos estão em crise desde 2008. Dessa forma, os EUA estão tentando se retirar dessas regiões de ocupação onerosa no Oriente Médio.

Os Estados Unidos falharam no Oriente Médio e não conseguiram criar um esquema ou uma história de sucesso a seu favor. Hoje, a situação no Oriente Médio é mais sombria do que nunca. A crise econômica está atingindo a região, em sua maioria de países que já são pobres, como um tsunami. A crise climática intensifica a seca e a desertificação, a crise de alimentos e água se aprofunda, as guerras civis continuam, as máquinas de corrupção dos ditadores- senhores da guerra correm a toda velocidade… Sendo assim, os Estados Unidos não querem gastar mais suas forças que só enfraquecem neste pântano, criado principalmente pelo próprio Estados Unidos, que já tem a presença necessária para proteger a segurança de seus aliados como Israel, Arábia Saudita e Emirados do Golfo; tem bases militares em toda a região e continua sendo uma força dissuasora. Além disso, de acordo com a nova perspectiva configurada nos Estados Unidos, seus aliados devem ter condições de se protegerem e, para isso, precisam comprar muitas armas caras estadunidenses.

Os Estados Unidos não estão deixando a região completamente. Mas é um fato que a classe dominante norte-americana vem tentando reduzir suas forças no Oriente Médio desde Obama. Portanto, não é uma decisão estranha do Trump. O Oriente Médio perdeu muito de sua importância estratégica para os Estados Unidos. Os resultados da estratégia de redução das tropas podem ser vistos imediatamente no Afeganistão, Líbia, Iémen e Síria.

Do Iraque para a Líbia, do Afeganistão para a Síria

Os vários grupos xiitas islâmicos que compõem o mecanismo de governo no Iraque e os políticos próximos a eles rejeitam os Estados Unidos. O Irã tem grande influência, e os EUA tem sido alvo de ataques de pequena e grande escala deste país. Além disso, há uma dinâmica de luta social progressiva e forte contra os grupos de poder xiitas islâmicos. A reação contra o Irã dentro do movimento de massa é tremenda. Há sementes de um foco revolucionário neste movimento, embora seus efeitos sejam naturalmente muito limitados nesta fase da luta. Durante o ano passado, mais de mil manifestantes foram mortos a tiros nas ruas, em sua maioria por milícias xiitas. O país vem mergulhando na crise econômica, desemprego, corrupção, má gestão e inépcia. Além disso, as diferentes camarilhas governamentais estão lutando uns contra os outros. Os Estados Unidos também não estão dispostos a permanecer num lugar conturbado com problemas inexoráveis. Sua única preocupação é proteger os rentáveis negócios petrolíferos das empresas estadunidenses.

Mesmo nos momentos mais vulneráveis do governo de Assad na Síria, o governo Obama não estava disposto a participar diretamente da guerra síria. Mesmo quando as linhas vermelhas anunciadas por Obama foram atravessadas, ele não deu aos rebeldes o que eles queriam. O Pentágono sabia que não tinha um parceiro confiável no campo de batalha. No ano passado, vimos que o apoio dado a YPG é frágil. Não seria difícil para as Forças Armadas Turcas tomarem a Rojava se a Rússia não se envolvesse. O comandante do Comando Central dos Estados Unidos (CENTCOM), General McKenzie, disse: “Não sei quanto tempo vamos ficar na Síria. Quando chegar a hora vamos embora, mas é uma decisão política e estamos preparados para executar as ordens. Ele sinalizou uma retirada da Síria. Enquanto as forças de ocupação americanas mantiverem o petróleo da Síria sob controle, o trabalho da Rússia se tornará mais difícil e ambas as alas do governo de Assad terão mais dificuldade por causa do rigoroso embargo. Além disso, vemos que a crise econômica na Síria se transformou em uma crise política. Portanto, os Estados Unidos não deixarão a Síria com tanta pressa, mas é claro que aqueles que fizeram seus cálculos com base na presença militar americana logo se encontrarão em uma situação muito difícil.

A análise de todos os países um a um está além dos limites deste artigo. Mas falemos do Afeganistão e do Iêmen: McKenzie também tinha dito que se o Talibã cumprissem as condições, os EUA retirariam todas as suas tropas do Afeganistão até Maio de 2021. Além disso, os EUA não intervieram diretamente contra os Hutus no Iêmen, apesar de seu parceiro, a Arábia Saudita, estar em apuros.

E a Líbia, rica em petróleo, estava sangrando desde que a coalizão ocidental liderada pelos EUA derrubou Gadhafi. Os Estados Unidos não se aventuraram aqui, nem estiveram diretamente envolvidos com a questão líbia. Mas sem o apoio dos EUA, os imperialistas da UE nunca teriam tentado. Desta vez, a tarefa foi deixada para o ator regional. Ao aproveitar essa oportunidade, Erdogan está realizando seus sonhos neo-Otomanos nos desertos da Líbia.

Novos focos revolucionários brotam

No Oriente Médio, enquanto os invasores estadunidenses reduzem sua presença militar, outros grandes e pequenos jogadores imperialistas que querem preencher esse vazio estão competindo entre si. O movimento de massas, deixado à mercê dos tiranos e exploradores islâmicos locais, não deve ser confundido com os invasores imperialistas ocidentais. A ideia de que “se a América sair será ruim para nós” é um grande erro. Hoje, trabalhadores e jovens estão nas ruas de todo o Oriente Médio e a luta de classes está claramente ganhando força. Vemos os resultados disso no Líbano e no Iraque. A única saída é que essa grande energia seja canalizada através de canais revolucionários. Por outro lado, à medida que o movimento de massas da classe trabalhadora se afasta do antiimperialismo, torna-se mais fácil a manipulação por diferentes forças. As demandas de classe no movimento de massas são combinadas com o desejo de secularismo e democracia. Mas as massas devem entender que o secularismo, a democracia e uma vida digna só podem ser alcançados através do socialismo. Os sistemas parlamentares liberais ocidentais regrediram mesmo em seus países de origem e não há forças sociais ou desenvolvimento econômico no Oriente Médio para implementar esse sistema. Mas existem os poderes de dezenas de milhões de jovens trabalhadores que vencerão todos os tipos de exploradores e tiranos no Oriente Médio para os trabalhadores do país, e somente estes, poderem organizar uma nova vida. É a perspectiva do programa de revolução permanente.