“9 de maio, Dia da Vitória”: o cinismo das oposições burguesas russa e ucraniana

Oleg VERNIK – Presidente do Sindicato Independente da Ucrânia (Zahist Pratsi) e Liga Socialista da Ucrânia

Este ano “quebraram as lanças” sobre o Dia da Vitória contra o fascismo e, mais do que nunca, as oposições burguesas tentaram somar pontos extras no escândalo e confronto. Se Putin, mais uma vez, tentou usar o Dia da Vitória, 9 de maio, para demonstrar a força e o poder do imperialismo russo, Zelensky preferiu cancelar completamente a celebração do 9 de maio na Ucrânia, declarando aquele dia um sombrio “Dia da Europa”. Ao mesmo tempo, abandonou a celebração do 8 de maio, o “Dia da Vitória sobre o nazismo”. Expliquemos…

Leon Trotsky, sobre a situação de eclosão da Segunda Guerra Mundial em 1939, levantou a palavra de ordem de defesa da URSS na guerra contra o imperialismo. É importante enfatizarmos que Trotsky não estava falando sobre “defesa da pátria soviética”, menos ainda sobre construções semânticas semelhantes do stalinismo. Ele analisou a situação a partir do processo revolucionário mundial. Trotsky escreveu em 1939: “a defesa da URSS coincide, para nós, com a preparação de uma revolução internacional. Só são admissíveis os métodos que não contradizem os interesses da revolução. A defesa da URSS está relacionada com a revolução socialista internacional como uma tarefa tática relacionada com uma estratégica. A tática está subordinada ao objetivo estratégico e em nenhum caso pode ser contrário”.

Trotsky assumiu que mais uma guerra mundial provocaria uma nova mudança no processo revolucionário mundial. No entanto, essa previsão foi abortada pelo crescimento do stalinismo em vários países do Leste Europeu e pelas traições da camarilha de Stalin na Grécia, França e Itália.

É óbvio que a vitória da URSS e dos aliados ocidentais sobre o nazismo é um acontecimento importante e significativo para nós. O nazismo alemão é a versão mais reacionária do capitalismo monopolista de Estado, ameaçando o mundo com uma catástrofe planetária. Por isso nós comemoramos a derrota do Nazismo.

Em 1945, Stalin instituiu a celebração do 9 de maio na URSS como o “Dia da Vitória do povo soviético” declarando como dia de descanso. Porém, já em 1947, o descanso foi cancelado e por muitos anos foi um dia normal de trabalho. Depois que o agrupamento partidário de Brezhnev chegou ao poder na URSS, o 9 de maio foi novamente declarado feriado sem trabalho em 1965. No entanto, desfiles militares neste dia, via de regra, não eram realizados.

Após o colapso da URSS e especialmente após Putin chegar ao poder, o emergente imperialismo russo criou uma nova tradição. O feriado do 9 de maio de cada ano passou a ser acompanhado de pomposos desfiles militares, onde todos os ramos do exército e da aviação participam na Praça Vermelha de Moscou. A propaganda do estado russo começou a intensificar o mito chauvinista e patriótico em torno do Dia da Vitória. Ano após ano, enfatiza-se que foi a Rússia e seu povo os vencedores daquela guerra, enquanto outros povos da ex-URSS desempenhavam um papel secundário. A ajuda aliada na guerra nem sequer é mencionada.

Nos mesmos anos, tendências opostas se desenvolveram na Ucrânia. Depois que o agrupamento pró-russo da burguesia foi deposto do poder durante o Maidan em 2014 e um agrupamento pró-ocidental chegou ao poder, o Dia da Vitória também passou por uma transformação. Em 2015, a Verkhovna Rada da Ucrânia adotou a lei “Sobre a perpetuação da vitória contra o nazismo na Segunda Guerra Mundial de 1939-1945”. De acordo com esta lei, a celebração anual da vitória contra o nazismo em 8 de maio foi introduzida no modelo da Europa Ocidental e dos Estados Unidos. Como compromisso, a celebração do 9 de maio de “Dia da Vitória” também foi abandonada.

Lembremos que em maio de 1945 houve 2 assinaturas da Lei de Rendição Alemã. A primeira foi assinada na cidade francesa de Reims em 7 de maio, vigorando em 8 de maio de 1945. No entanto, Stalin insistiu ser necessário assinar outro “Documento de rendição da Alemanha” já na capital da Alemanha, em Berlim. Consequentemente, a segunda Lei foi assinada em 8 de maio em Berlim e entrou em vigor em 9 de maio de 1945. A era da Guerra Fria ampliou essa contradição. Desde então, a URSS e seus aliados comemoram o “Dia da Vitória do povo soviético” em 9 de maio e os demais países da Europa Ocidental, os Estados Unidos e seus aliados comemoram o “Dia da Vitória sobre o nazismo” no 8 de maio.

A Ucrânia, de 2015 a 2022, comemorou o 8 e 9 de maio. Mas a partir do decreto de 8 de maio de 2023, o presidente Zelensky cancelou a celebração do Dia da Vitória em 9 de maio, deixando apenas o 8 de maio, o Dia da Memória dos mortos pelo nazismo. E o dia 9 de maio foi oportunamente declarado “Dia da Europa” para enfatizar a geopolítica na “eleição europeia da Ucrânia”.

Esta decisão praticamente não causou resistência no povo ucraniano. Putin e a agressão imperialista russa contra a Ucrânia, de fato, nivelou na consciência das massas ucranianas qualquer diferença entre os feriados de 8 e 9 de maio. Além disso, o “9 de maio Dia da Vitória” foi desacreditado pela agressão de Putin contra a Ucrânia. Este feriado foi tomado pela Federação Russa e pelo regime de Putin. Os elementos mais reacionários e exagerados estão agora tentando celebrar o feriado em todo o mundo, declarando abertamente apoio à agressão imperialista russa contra a Ucrânia.

Cada um dos ucranianos tem um parente que morreu na Segunda Guerra Mundial. De 1941 a 1945, mais de 10 milhões de ucranianos morreram durante a “Grande Guerra Patriótica” (definição soviético). Dezenas de milhões de ucranianos lutaram nesta guerra. Um dos meus avós desapareceu na guerra, o meu segundo avô esteve em Berlim e em Praga como parte do Exército Vermelho. É uma grande tristeza para todo o povo ucraniano, mas também nossa alegria pela vitória sobre a “peste marrom do século XX”. Tristeza e alegria andam de mãos dadas aqui. Esta é a nossa história, esta é a nossa vida.

O stalinismo abortou nossa vitória com repressões massivas contra os trabalhadores ucranianos e os políticos burgueses modernos continuam jogando com nossa memória para seus próprios interesses egoístas. Estamos convencidos de que chegará o tempo em que os trabalhadores russos varrerão o regime reacionário de Putin e a classe trabalhadora ucraniana dará sua última palavra sobre o governo antioperário de Zelensky e seus “Servos do Povo”. Também estamos convencidos de que a classe trabalhadora finalmente acabará com o uso cínico da memória popular pelas elites burguesas de nossos países em seus interesses capitalistas. Feliz dia da VITÓRIA! Nós nos lembramos de todos os mortos…