Por Gustavo Martinez Rubio – Marea Socialista, LIS na Venezuela
Na última segunda-feira, 15 de maio, soubemos de um episódio ocorrido na Entrada 3 da Siderúrgica de Orinoco Alfredo Maneiro (SIDOR) em que os trabalhadores da empresa expulsaram burocratas da Central Bolivariana Socialista dos Trabalhadores (CSBT) quando tentavam realizar mais um ato proselitista. (Confira o vídeo ao final do artigo).
No twitter, whattsap, telegram e facebook os vídeos e imagens do acontecimento correram e chegaram a todos os lugares, evidenciando o cansaço dos trabalhadores e que se conecta com o sentimento da maioria da classe trabalhadora.
Por isso é necessário algumas considerações, em primeiro momento aos trabalhadores da SIDOR, mas também aos demais trabalhadores no país.
Basta de burocracias sindicais/políticas! Por democracia operária!
É democracia operária quando os burocratas sindicais da CSBT foram expulsos pela força coletiva e de base, tudo ao som de gritos e palavras de ordem com demandas da classe trabalhadora: “Fora! Ladrões! Roubaram nosso salário!”. É possível ouvir perfeitamente o que diziam os trabalhadores aos burocratas.
Essa ação deve ter uma correspondência maior entre os camaradas e não ficar apenas como algo meramente reativo. O protagonismo que se vê no enfrentamento e afastamento dos burocratas também deve ser demonstrado em etapas posteriores que visam organizar esse desgaste e possibilitar maior luta e mobilização.
As assembleias operárias devem ser retomadas para decidir um plano de lutas que reúna imediatamente os trabalhadores da SIDOR e que também seja capaz de colocar esse conflito nas ruas com uma direção eleita e reconhecida entre todos para evitar o oportunismo dos burocratas políticos que agem contra nossas lutas, que agem pelos interesses de patrões. Não faltam exemplos disso.
Não são apenas os burocratas do CSBT, há muitos mais
Não é somente uma cúpula e não há um único padrão. Por exemplo, o Memorando 2.792 foi assinado pelos sindicalistas mais poderosos da CSBT, mas também o setor privado se apoderou desse documento desastroso e o aplicou até a exaustão o Memorando contra seus trabalhadores. É só ver a situação dos trabalhadores de La Polar, La Regional, Plumrose, apenas para citar brevemente alguns exemplos.
O setor privado e os empregadores têm suas expressões políticas na chamada “oposição clássica” que obviamente tem burocracias sindicais próprias, tão nocivas aos nossos interesses quanto aos trabalhadores, assim como a CSBT. O papel destes últimos pode ser equilibrado em conflitos recentes como o do setor educacional, cuja base se mobilizou por meses a partir deste ano, e foi se esvaindo à medida que essas burocracias só aproveitavam a mobilização para evidenciar “suas figuras” na mídia (pagos e disponibilizadas aos partidos políticos patronais). Fazem-no para futuras reivindicações eleitorais, mas perante professores e trabalhadores do setor da educação em geral, não conseguem realizar Assembleias (verdadeiras Assembleias) ou de debater de forma unificada um plano de lutas com consignas.
A rejeição às burocracias sindicais devem ter uma abordagem classista, com independência política tanto da oposição governo/patrão, igualmente, quanto dos patrões públicos e privados. O governo capitalista de Maduro eliminou nossos salários e, ao mesmo tempo, nos colocou de bandeja como mão de obra semi-escrava para empresários nacionais e transnacionais. Se não, veja como a FEDECAMARAS está satisfeita e feliz com as medidas do governo.
A necessidade de articulação com trabalhadores e trabalhadoras de todos os setores
A magnitude da situação e da crise imposta aos trabalhadores e demais setores empobrecidos não deixa dúvidas sobre a necessidade de maior articulação com palavras de ordem e reivindicações comuns. O grito dos trabalhadotes da SIFOR, “Roubaram nossos salários!”, é mais uma evidência do que é sobreviver num país com “salário zero”, e selvagemente “reduzido”, cada vez mais submerso em maiores calamidades.
No 1.º de Maio na Guayana, enquanto o Governo e seus burocratas estavam ausentes das ruas, alguns burocratas ligados a partidos políticos da oposição patronal realizaram um evento pífio. Por outro lado, foi possível ver, concentrados em frente do CVG, uma congregação de trabalhadores de empresas como SIDOR, FERROMINERA, MASISA, entre outras, que se reuniram ao som do chamado: “Fazemos um 1° de Maio classista, sem patrões Público ou Privado”.
Esse é o caminho, certamente com maior organização, maior preparação e criando as condições para construir unitariamente o programa de luta a serviço de todos os trabalhadores da Guayana, uma lição para toda nossa classe. A emblemática Entrada 3 deve ser definitivamente arrancada dos burocratas e recuperada para o exercício deliberativo e de Assembleias dos trabalhadores da SIDOR e um encontro com camaradas de outras empresas.
A luta por um salário que cubra pelo menos os custos da Cesta Básica (Art. 91 da CRBV), a luta contra a corrupção, a luta pela liberdade dos trabalhadores presos por combater ou denunciar atos de corrupção, a luta pela reintegração dos trabalhadores não convocados ou suspensos, a luta por eleições sindicais livres e sem impedimentos, são reivindicações que, incorporadas a este necessário plano de luta, têm o potencial de convocar camaradas de trabalho do setor público e do setor privado.
É urgente estarmos nessas atividades e, como aconteceu na Entrada 3 do SIDOR, servir de organizador para podermos trilhar definitivamente a política classista e democrática, onde os patrões nunca querem que estejamos. É o caminho para recuperar as bases, o contato direto e democrático entre os trabalhadores, para inverter a desintegração e desorganização que nos empurraram.
Fora burocracia sindical!
Viva o ato das e dos trabalhadores da SIDOR em 15/05/2023!