II Fórum Internacional de Ecologia Política Socialista

Há exatos 90 dias acontecia em Barcelona o 2° Congresso Mundial da Liga Internacional Socialista. Com representação de quase 30 países dos 5 continentes, uma das principais resoluções aprovadas foi a convocação do II Fórum Internacional de Ecologia Política Socialista. No dia 8 de julho será organizado 7 painéis onde palestrantes de todas as latitudes apresentarão análises e propostas de ação para enfrentar o maior desafio do nosso tempo: superar o colapso socioambiental que está deteriorando o planeta.

Por Mariano Rosa

Os socialistas devem incorporar prioritariamente a agenda socioambiental na plataforma de ação política. A LIS, desde sua fundação, assumiu coletivamente essa tarefa. Para transformar o mundo, emancipar social, econômica e politicamente a humanidade do capital, significa reverter com medidas transitórias o legado destrutivo que o atual modo de produção está acumulando. Os sinais de alerta são importantes para entendermos parte do problema. O último relatório do Grupo Intergovernamental de Especialistas em Mudanças Climáticas (dependente da ONU), reafirmou dados muito sérios:

  • Um aquecimento de 1,5 C° (graus Celsius) terá consequências muito difíceis em termos sociais: deslocamentos de milhões de pessoas, secas, calor insuportável e inundações pelas mudanças no comportamento das chuvas.
  • O objetivo da Cúpula de Paris (2016) de reduzir o aquecimento global para menos que esse valor já parece difícil de ser alcançado, quase utópico, dadas as medidas de mitigação nulas e a necessidade de mudanças radicais urgentes.
  • A maior ameaça desse tipo, sem dúvida, é a redução das gigantescas geleiras na Antártica: poderiam elevar o nível do mar em cerca de 4 metros.

O relatório avalia que “cada tonelada de CO₂ conta”. De fato é assim. Só para mencionar o impacto do militarismo imperialista, digamos que a indústria militar dos EUA emite na atmosfera cerca de 80 milhões de toneladas de CO₂ todos os anos. Adicione 70 milhões de toneladas emitidas pelo Departamento de Defesa dos EUA, sem contar as emissões de centenas de bases no exterior. A saída da crise socioambiental é política e anticapitalista. Essa é a opção possível.

O Capital, um abismo sem fim

O sistema não produz coisas socialmente necessárias, mas valores para aumentar os privilégios dos proprietários. Travam uma guerra competitiva implacável entre si para aumentar a produtividade do trabalho. Para isso, recorrem a maquinários cada vez mais avançados. Portanto, produzir por produzir — que significa “consumir por consumir” — não é um efeito aleatório do capitalismo, mas um traço congênito. Este modo de produção requer acumulação e entesouramento privado. Em seu livro mais famoso, A Teoria do Desenvolvimento Econômico, o economista burguês Joseph Schumpeter resumiu sem delongas: “Um capitalismo sem acumulação é uma contradição em seus próprios termos.” Marx afirmou que “o único limite do capital é o próprio capital”. Com essa formulação, quis dizer que o capital, não como “muito dinheiro”, mas como uma relação social que implica que uma quantidade de dinheiro se transforma em mais dinheiro graças à extração da mais-valia do trabalho não pago, a “exploração de suas duas principais fontes de riqueza: a força de trabalho e a natureza”. Como primeira conclusão: seguindo a lógica atual da economia-mundo não há saída da catástrofe que se aproxima.

Produtivismo stalinista, um desastre

De direita e de esquerda (ideologicamente falando), o marxismo está sendo combatido no debate socioambiental. Para isso, utiliza-se o balanço indefensável da experiência do “socialismo real” do século XX, ou seja: a deriva burocrática na URSS e no Leste Europeu. Seria muito longo detalhar neste artigo algumas das verdadeiras atrocidades ecológicas dessa distorção:

  • A seca do Mar de Aral após a construção burocrática de um canal de irrigação de 500 km, resultando numa catástrofe regional.
  • A explosão nuclear em Chernobyl em 1980.
  • A Alemanha Oriental e a Tchecoslováquia excederam os principais países capitalistas em emissões de CO₂, medidas per capita.

Este balanço do “socialismo real” é explicado pela contrarrevolução burocrática stalinista. O produtivismo de Estado foi resultado de um sistema de bônus dado aos chefes de empresas nacionalizadas para incentivá-los a superar os objetivos do plano de produção e superar os EUA em PIB. Por razões econômicas, esses gerentes esbanjaram o máximo de materiais e energia por unidade produzida. Nenhuma preocupação com as consequências sobre a qualidade do que é produzido, já que os consumidores não tinham liberdade de escolha, nem liberdade de crítica, nem possibilidade de discutir os efeitos sociais e ambientais de uma produção que não estava sujeita a nenhum controle social. Mesmo assim, é importante observar que, enquanto o produtivismo insustentável é parte substancial do capitalismo, as derivações desastrosas na URSS não são substanciais ao socialismo, mas sim a sua negação stalinista, burocrática e distorcida. Essa tese é crucial na disputa das perspectivas pós-capitalistas.

Mudando as regras: nosso modelo Socialista

Nosso programa para enfrentar a crise socioambiental não é o capitalismo verde nem o produtivismo de esquerda: é um programa de transição ecossocialista, uma relação do modo de produzir/consumir com a natureza como um metabolismo gerido de forma racional não capitalista. Ou seja: a racionalidade de 99%, a de produzir/consumir a partir de um planejamento democrático das coisas socialmente necessárias; não a do 1%, que consiste em produzir valores de troca para benefício privado e entesouramento. O nosso referencial reorienta tudo: a matriz energética, a forma de produzir os alimentos, o uso do espaço público. Ao mesmo tempo, articula-se com uma proposta global que inclui o desmantelamento de toda a superestrutura do capital: o patriarcado, por exemplo; a democracia de castas, opondo-se a um sistema político de mobilização/participação permanente da maioria social: a verdadeira democracia operária. Também inclui o desmantelamento do aparato repressivo que preserva a propriedade das minorias.

Nosso projeto global integra o ecossocialismo como resposta transitória e revolucionária à catástrofe socioambiental e implementa uma ampla gama de medidas para reorganizar tudo. Somos socialistas e internacionalistas, anticapitalistas, antiburocráticos e, nas questões ecológicas, ecossocialistas. Evidente, como em qualquer processo de revolução desigual, será necessário assumir as tensões e contradições da superação pós-capitalista e anti-imperialista em semicolônias atrasadas, como em países da América Latina, África ou Ásia.

As necessidades da estratégia revolucionária e a dinâmica da luta de classes determinarão os ritmos para aplicar nosso programa integral internacionalista. Por sua vez, as tarefas da transição, os debates sobre como direcionar essa passagem, o papel da classe trabalhadora e do partido revolucionário, são também polêmicas a serem resolvidas. Assim, o II Fórum Internacional da LIS se propõe como uma convocação para debater e considerar sobre essas questões.

PROGRAMAÇÃO do

II Fórum Internacional de Ecologia Política Socialista:

entender o colapso, organizar as lutas.

Temas do dia 8 de Julho (Sábado):

  • Pilhagem, depredação e migração climática na África e Sul Asiático.
  • Militarização da ecologia e disputa pela hegemonia: Ucrânia, ameaça nuclear e Terceira Guerra Mundial.

Horário: 7h (América Central), 8h (Colômbia), 9h (Chile -Venezuela), 10h (Argentina — Brasil — Paraguai), 14h (Reino Unido), 15h (França — Espanha), 16h (Turquia — Líbano — Quênia), 18h (Paquistão)


  • Época de crise, guerras, revoluções e pandemias.
  • Petrodependência, a ilusão do lítio e as falsas transições.
  • O progressismo latino-americano e o extrativismo.

Horário: 10h (América Central), 11h (Colômbia), 12h (Chile, Venezuela), 13h (Argentina — Brasil — Paraguai), 17h (Reino Unido), 18h (França — Espanha), 19h (Turquia — Líbano — Quênia), 21h (Paquistão)


  • Rumo à COP 30 no Brasil: Cúpulas e contra-cúpulas.
  • Antes que seja tarde: sobre a transição pós-capitalista para o socialismo.

Horário: 13h (América Central), 14h (Colômbia), 15h (Chile — Venezuela), 16h (Argentina — Brasil — Paraguai), 20h (Reino Unido), 21h (França — Espanha), 22h (Turquia — Líbano — Quênia), 12h (Paquistão)