Crônicas da Palestina 15: Israel prepara um longo ataque, os povos do mundo saem às ruas

Há dois dias, Israel entrou em Gaza com várias frentes de tanques e tropas. Ao mesmo tempo, continua o bombardeio selvagem e permanente sobre a população sitiada. Acelera o genocídio e o terror com a intenção de expulsar os palestinos e colonizar Gaza, sem se importar com o número de mortos, que já ultrapassa os 8.117 com, pelo menos, 3.324 crianças. O corte total das comunicações, o esgotamento do combustível, da água, dos alimentos e dos medicamentos são atos de terrorismo de Estado e de limpeza étnica genocida. O povo resiste heroicamente. As mobilizações de solidariedade cresceram como nunca durante o fim de semana.

Sábado, 28 de outubro

O exército de Israel continua atacando a Faixa de Gaza no sábado, com combates terrestres entre soldados e milicianos do movimento islamita palestino Hamas e de bombardeios noturnos de uma intensidade sem precedentes desde o início da guerra, destruindo centenas de edifícios.

Israel informou que as suas tropas terrestres estão combatendo dentro de Gaza, enquanto submete o território sitiado ao mais pesado bombardeio desde o início da guerra. O Hamas afirma que os seus combatentes entraram em confronto com as tropas israelenses em vários locais.

O Ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, afirmou no sábado que a guerra contra o movimento islâmico palestino Hamas “entrou numa nova fase”, após uma noite de fortes bombardeios e a invasão na Faixa de Gaza.

“Entramos numa nova fase da guerra. Ontem, a terra tremeu em Gaza”, afirmou Gallant num vídeo divulgado pelos serviços de comunicação.

O Hamas afirmou no sábado que seus militantes em Gaza estavam prontos para enfrentar os ataques israelenses com força “total”, depois de o exército de Tela Viv ter ampliado os ataques aéreos e terrestres ao enclave palestino.

O exército de Israel insistiu aos habitantes que restam do norte e da cidade de Gaza que “o tempo está se esgotando”, para fugirem para o sul do enclave, numa altura em que se receia uma iminente entrada por terra em grande escala das forças israelenses no território. Até os organismos da ONU denunciam a tentativa de transferência forçada de uma cidade inteira como um crime de guerra, claramente parte do plano sionista de limpeza étnica e colonização.

Os meios internacionais de comunicação e as agências de ajuda humanitária afirmam ter perdido o contato com o pessoal em Gaza, no meio de um corte quase total das comunicações.

“Estamos extremamente preocupados com o bem-estar das nossas equipes”, disse Nebal Farsakh, porta-voz da Sociedade do Crescente Vermelho Palestino na cidade de Gaza, acrescentando que a perda de comunicação significa que mais de 2 milhões de pessoas não podem ter acesso aos serviços de ambulância. “Isto inclui os feridos, os doentes crônicos e as mulheres grávidas”, afirmou.

O jornalista da AP e da Al Jazeera, Fares Akram, afirmou no X que perdeu 18 membros da sua família num ataque de Israel e que o corte de comunicações em Gaza dificultou a confirmação do paradeiro dos seus familiares: “Sem Internet nem ligação telefônica, demoramos 12 horas para confirmar que 18 membros da minha foram mortos e que outros 18 continuam presos sob os escombros.

Os pais de toda a Faixa de Gaza têm escrito os nomes dos seus filhos nos seus corpos para os identificar após os ataques aéreos israelenses.

Pelo menos 110 profissionais de saúde da Faixa de Gaza foram mortos por bombardeamentos e ataques aéreos israelenses desde 7 de outubro, segundo o Ministério da Saúde. Além disso, foram atingidas 50 ambulâncias, metade já não operacionais. 12 hospitais e 46 clínicas de assistência básica foram fechados pelos danos causados ou pela falta de combustível. 24 hospitais, com uma ocupação de 2.000 camas, receberam ordens de evacuação no norte de Gaza.

No centro de Ramallah, na Cisjordânia, tem lugar uma nova manifestação e vigília. Este é agora um evento noturno. Não só aqui em Ramallah, mas em toda a Cisjordânia ocupada. Vemos protestos todas as noites em Nablus, em Hebron, em Jenin.

Continuam as fortes trocas de tiros ao longo da fronteira entre Israel e o Líbano. Israel afirma que foram disparados morteiros e mísseis guiados anti-tanque do sul do Líbano contra as suas posições militares, fazendo soar sirenes.

Os EUA avançam discretamente com a expansão de uma base secreta no deserto do Negev, em Israel, a apenas 32 quilômetros de Gaza, de acordo com um relatório do The Intercept. Com o nome de código “Site 512”, a construção da instalação de radar no topo do Monte Har Qeren incluirá o que os registos do governo dos EUA descrevem como uma “instalação de apoio à vida”, ou estruturas semelhantes a quartéis.

Atualmente acontece em Tel Aviv um protesto contra os ataques em Gaza. Os manifestantes carregam cartazes exigindo um cessar-fogo e à negociação de um “acordo de reféns” para trazer para casa os prisioneiros detidos pelo Hamas.

Mais de 200.000 pessoas saíram às ruas do centro de Londres no sábado para exigir a Israel que ponha fim à sua ofensiva em Gaza e ao governo britânico que interceda para que seja declarado um cessar-fogo.

Dezenas de milhares de pessoas voltaram a encher as ruas de Bagdá, no Iraque.

Domingo, 29 de outubro

O número de mortos em Gaza ultrapassa agora os 8.117, com pelo menos 3.342 crianças, 2.062 mulheres e 460 idosos; os feridos são mais de 20.242. Centenas de pessoas foram mortas no ataque israelense “sem precedentes” desta manhã. A Save the Children denuncia a violência de “proporções épicas” contra as crianças: desde 7 de outubro foram mortas mais 3.195 crianças, representando mais do que o total anual em zonas de conflito em todo o mundo desde 2019.

A empresa palestina de telecomunicações Jawwal anuncia o regresso “gradual” dos serviços telefônicos e de Internet. Os nossos correspondentes informam que todos os serviços foram novamente cortados.


Até 7 de outubro, cerca de 500 caminhões de ajuda humanitária entravam em Gaza todos os dias. Segundo a ONU, são necessários 100 caminhões por dia para atender as necessidades mais urgentes. Desde 7 de outubro, deixaram de entrar e, desde 21 de outubro, só entraram 84 caminhões.

O Egito denuncia os “obstáculos israelenses” que impedem a entrega da ajuda a Gaza. Milhares de pessoas invadem os armazéns da UNRWA para se apoderarem das provisões. Os Médicos Sem Fronteiras lamentaram ontem que os esforços da comunidade internacional sejam “fracos” e “demasiado lentos” e criticaram o fato da resolução não vinculativa, aprovada pela Assembleia Geral da ONU na sexta-feira, “não ter feito nada para controlar a violência indiscriminada contra um povo indefeso”. A OMS adverte que a ordem de Israel para evacuar os hospitais em Gaza não pode ser aplicada. O Crescente Vermelho Palestino informa que recebeu “ameaças” das forças israelenses para evacuar “imediatamente” o hospital de Al Quds.

Uma grande e violenta série de ataques está atualmente ocorrendo na área de Tal al-Hawa e no norte da Faixa de Gaza. Há bombardeamentos violentos nas imediações do hospital Al-Quds e da praça Al-Dahdouh, na zona de Tal Al-Hawa, na cidade de Gaza.

Netanyahu avisou hoje que “a guerra será longa”, atacando por terra, mar e ar. Ao contrário das operações nocturnas anteriores, as forças israelenses permanecem agora no interior da Faixa de Gaza. O governo de Israel altera a lei antiterrorismo de 2016 para aplicá-la de forma mais ampla, enquanto aguarda a ratificação pelo parlamento. A alteração permitirá que as pessoas sejam consideradas terroristas e não apenas as organizações, como era anteriormente o caso.

Cerca de 30 grupos de defesa dos direitos humanos em Israel chamam a comunidade internacional a “agir face constra os níveis de violência sem precedentes” dos colonos israelenses na Cisjordânia e a “pôr termo à transferência forçada de palestinos das suas terras”. O Hezbollah reivindica os primeiros ataques após a grande ofensiva de ontem à noite em Gaza.

O Hamas oferece-se para entregar todos os reféns em troca da libertação de todos os prisioneiros palestinos em Israel. Num discurso transmitido pela televisão, Abu Obeida afirmou que houve contatos para negociar uma troca de prisioneiros e que “houve uma oportunidade de chegar a um acordo, mas o inimigo se negou”.

A resistência continua em confronto com as forças de ocupação na Cisjordânia. A ocupação avança em direção ao campo de Jenin e demole a rua da mesquita de Tawalba no meio de confrontos armados.

Mobilizações em massa explodem em todo o mundo em defesa do povo palestino e contra o genocídio sionista. Nós da LIS chamamos a ampliação das mobilizações e da solidariedade internacional para deter o genocídio sionista.