100 anos da morte de Lenin

21 de janeiro marca um século da morte de Vladimir Lenin. Principal dirigente, com Trotsky, da revolução russa, deixou contribuições fundamentais para a política e a prática revolucionárias após Marx. Seu legado, a deturpação dele e a luta para defender o verdadeiro Lenin marcou o desenvolvimento do movimento dos trabalhadores durante esses 100 anos. Hoje, relembrar suas conclusões centrais é essencial para reconstruir as organizações revolucionárias que precisamos para enfrentar a luta pela construção mundial do socialismo.

Por Vicente Gaynor

As contribuições de Lenin para a teoria, a política e a práxis revolucionárias são, sem dúvida, as mais significativas desde Marx. Aqui mencionaremos apenas as de maior alcance.

O imperialismo, o Estado e a revolução

Sua análise do imperialismo como etapa decadente do capitalismo foi fundamental para determinar as possibilidades da revolução e seus sujeitos sociais. Lenin identificou que a divisão do mundo pelas principais potências capitalistas e a concentração de capital em alguns monopólios, que gerenciam a produção e as finanças da economia mundial, determinaram o fim do papel progressivo do capitalismo. A expansão econômica e o acúmulo de riquezas pela burguesia não trariam mais melhorias para a vida e o bem-estar da humanidade.

A partir daí, o capitalismo imperialista só avançaria com a intensificação da exploração, da opressão, da miséria e das guerras. Toda a burguesia desempenharia um papel reacionário e contrarrevolucionário.

Quando grande parte do movimento socialista europeu se rendeu à democracia burguesa e revisou Marx para se justificar e apresentar um caminho parlamentar reformista ao socialismo, Lenin defendeu o marxismo revolucionário. Em “O Estado e a Revolução”, uma de suas maiores obras, resgatou o verdadeiro Marx para reafirmar que o Estado burguês é uma criação da e para a burguesia e que o único caminho ao socialismo é destruí-lo e substituí-lo por um Estado da e para a classe trabalhadora.

Essas conclusões foram fundamentais ao desenvolvimento de uma política revolucionária. Enquanto outros pensavam que grandes mudanças eram possíveis no capitalismo, nas mãos das forças burguesas, Lenin, com Trotsky e outros que compartilhavam de sua análise, conseguiram levar a classe trabalhadora e as massas russas ao poder e à fundação do primeiro Estado operário da história.

O partido revolucionário

Essa análise também levou ao que viria a ser a maior contribuição de Lenin, possibilitando o triunfo da revolução russa: o partido revolucionário. Antes de Lenin, os marxistas revolucionários militavam nos grandes partidos socialistas da Segunda Internacional. Lutavam por suas políticas dentro desses partidos, lutavam para dirigi-los, mas viviam nos mesmos partidos que os reformistas. Não tinham uma organização própria para debater e atuar com políticas e orientações centralizadas.

Lenin estava convencido de que, se a classe trabalhadora quisesse tomar o poder, precisaria de um partido preparado para a tarefa. Sua convicção era tamanha que, em 1903, fraturou o Partido Operário Social-Democrata Russo. Os mencheviques defendiam a construção de um partido de movimento, onde todos que concordavam com a política do partido eram membros. Os bolcheviques, com Lenin, outros e outras, criaram uma organização onde os membros eram os militantes ativos da organização.

Os bolcheviques criaram um partido de revolucionários profissionais, organizado em torno de militantes que faziam da política sua atividade principal. Construíram um programa socialista e revolucionário. Desenvolveram um regime interno que sintetizava a mais aberta liberdade de debate democrático com a maior, e disciplinada, unidade de ação, o centralismo democrático. Essas características deram aos bolcheviques a flexibilidade tática necessária, a aproximação com o movimento de massas e a firmeza de princípios para sobreviver no turbilhão do processo revolucionário e triunfar na disputa acirrada pela direção.

O internacionalismo

A outra obsessão de Lenin era o internacionalismo. Se havia algo em que Lenin insistia sem ambiguidade, era a certeza de que, se a revolução não expandisse pela Europa e todo o mundo, o jovem Estado operário russo não teria chance de sobreviver. Tal era essa certeza que, enquanto lutavam em uma guerra civil, enfrentando secas e fomes devastadoras, os bolcheviques dedicaram seus maiores esforços e recursos para construir a Terceira Internacional e apoiar os revolucionários europeus.

Isso não era uma fantasia. Três revoluções explodiram na Alemanha entre 1918 e 1923 e várias outras nos países da Europa. Os partidos comunistas da Terceira Internacional organizaram centenas de milhares de pessoas e dirigiam algumas dessas revoluções. Infelizmente, os revolucionários foram derrotados. Uma das conclusões mais difíceis de encarar, mas que sempre motivou a intensidade política de Lenin, é a de que as decisões políticas são fundamentais. Inúmeras condições objetivas abriram as possibilidades, os limites e as oportunidades aos revolucionários. Mas em momentos importantes, ter ou não ter a força para ir além dos limites é decisivo. Até mesmo quando temos, acertar ou errar faz diferença. O que fazemos ou deixamos de fazer é importante.

O legado de Lenin

Isso também fica evidente na última batalha que Lenin enfrentou e não conseguiu travar contra a burocratização do Partido Bolchevique e da União Soviética. Após o fracasso da revolução alemã, a URSS foi isolada e os elementos mais conservadores do partido, dirigidos por Josef Stalin, começaram a se fortalecer. Lenin alertou sobre esse perigo e tentou combatê-lo, mas não pôde, dois golpes tiraram sua vida. Foi Trotsky quem dirigiu a luta contra a burocratização stalinista e a contrarrevolução. Trotsky, seus corajosos camaradas e aqueles que continuaram a luta após seu assassinato, conseguiram manter vivas as lições do marxismo revolucionário, com as contribuições indispensáveis de Lenin, que nos permitem continuar a luta até hoje.

O stalinismo, para justificar sua contrarrevolução, deturpou Lenin (assim como fez com Marx), criando um culto a um Lenin que defendia o oposto do que o mesmo havia desenvolvido durante sua vida. Em nome de um “marxismo-leninismo”, criaram um partido monolítico, autoritário e um centralismo burocrático de cima para baixo. O stalinismo substituiu o internacionalismo e a independência de classe pelo nacionalismo, pela frente popular com a burguesia e a coexistência pacífica com o imperialismo. Durante décadas, coube ao trotskismo defender o bolchevismo leninista. Felizmente, o fio vermelho não foi cortado e o marxismo revolucionário sobrevive até hoje.

O leninismo hoje

Num mundo convulsionado e polarizado de hoje, dificilmente passa um ano sem haver alguma rebelião ou revolução. Cada uma delas reafirma as ideias centrais de Lenin. O capitalismo apenas aprofunda a miséria, todo experimento político nas estruturas do sistema, cai na ampla esquerda, do progressismo até a extrema direita, apenas administrando e aprofundando essa miséria. Acima de tudo, toda revolução e rebelião que explode insiste em apontar a necessidade de partidos revolucionários com influência para disputar a direção das massas trabalhadoras e o destino dos processos revolucionários.

O projeto da Liga Internacional Socialista, a LIS, é dedicado ao reagrupamento mundial de revolucionários para reconstruir partidos e uma Internacional sob os princípios e métodos que permitiram que Lenin, Trotsky e os bolcheviques alcançassem o maior triunfo que a classe trabalhadora já obteve na história. Construímos partidos e uma Internacional com base em um programa de princípios revolucionários firmes, com um método saudável, fraterno e democrático de debater tudo e definir as táticas de cada organização. Profundamente unido na intervenção concreta na luta de classes com campanhas internacionais, no apoio mútuo na construção de partidos e quadros profissionais da revolução: partidos leninistas com uma Internacional.