Macron, líder questionado do imperialismo francês em colapso

Por Gérard Florenson


François Bayrou sucede Michel Barnier, o primeiro-ministro de curta duração deposto por uma moção de censura. Ambos são veteranos da política francesa, parceiros dos patrões e reacionários, ex-ministros de diferentes governos de direita. Para tentar salvar seu poder, Emmanuel Macron não escolheu a renovação e a juventude, estamos longe do perfil mostrado durante suas primeiras eleições, está em uma situação desesperadora e busca apenas adiar a crise que corre o risco de derrubá-lo. Macron quer cumprir sua “missão” de garantir os lucros dos capitalistas, liquidando os ganhos sociais e obrigando a classe trabalhadora a pagar pela crise.

Bayrou, o novo primero-ministro da França.

Macron apostou em Barnier para formar um governo que, embora pouco atraente, não seria rejeitado pela esquerda nem pela direita, beneficiando-se da neutralidade do Reagrupamento Nacional. Um fracasso. Com Bayrou, pegam as mesmas pessoas, ou quase as mesmas, e começam de novo, esperando que a Nova Frente Popular, assim como a extrema direita, hesite em agravar a crise política por medo de ser esmagada e prefira esperar pelas eleições presidenciais. A aposta está longe de ser ganha porque nenhum partido está no controle da situação e a crise vai além da estrutura institucional. É claro que podemos ironizar sobre o retorno dos mortos-vivos e zombar da ressurreição de Manuel Valls, desacreditado tanto na França quanto na Catalunha, mas precisamos ir além em nossas análises.

Manuel Valls, o retorno de um morto-vivo.

Será que estamos testemunhando a tão anunciada crise terminal da Quinta República?

Está claro que o regime está perdendo força porque o funcionamento das instituições estabelecidas pelo General de Gaulle significava que o presidente tinha uma maioria parlamentar e, portanto, um partido sob seu controle, ou pelo menos apenas alianças garantiam a maioria. Houve vicissitudes, alternâncias eleitorais que levaram à coexistência de um presidente de esquerda e um governo de direita, e vice-versa, mas ambos concordaram em reduzir a duração do mandato presidencial e fazê-lo coincidir com o dos deputados, pensando que os eleitores não mudariam sua posição entre duas eleições próximas. Além disso, a Constituição garante a preferência do executivo, que controla o calendário parlamentar e pode se basear em vários artigos, inclusive o 49-3, para aprovar suas propostas. Isso funciona… mas não necessariamente em caso de dissolução, como acabamos de observar. Sem mais maioria parlamentar, de volta ao “governo do partido” e aos pequenos esquemas, o regime está em apuros.

Nenhum resultado a favor dos trabalhadores pode ser encontrado sob esse regime podre, nem mesmo com mais debates no parlamento eleito sob o sistema antidemocrático estabelecido pela Fonstituição. Sem dúvida, Jean-Luc Mélenchon (França Insubmissa) é o único que acredita que a renúncia ou a demissão de Macron fará dele o candidato aclamado por toda a esquerda e o vencedor contra Marine Le Pen no segundo turno… Mas os outros dirigentes do NFP (Nova Frente Popular) têm outra ilusão, a de que Macron se torne razoável e lhes oferece Matignon…

Crise social, crise de legitimidade, qual o resultado?

Crise política, crise de regime, sem dúvida, mas, acima de tudo, crise social e crise de legitimidade. Seguindo a caracterização clássica, “quando os de cima não podem mais governar como antes; quando os de baixo não suportam mais ser oprimidos como antes”. Dos coletes amarelos ao movimento contra a perda das pensões, das manifestações dos agricultores às das populações das últimas colônias contra o alto custo de vida, à rejeição da dominação e à presença militar da França na África, Macron é fortemente desafiado e incapaz de resolver a situação. Ele afirma ser “a voz da França”, mas essa voz não soa mais, está fora do jogo quando o Oriente Médio está em chamas, impotente quando os acordos UE-Mercosul são assinados apesar de suas objeções.

Como na Canção dos Canuts, “o alvoroço é ouvido em toda parte, e ele ronca”. Mas há um longo caminho a percorrer antes de “tecer o manto do velho mundo”, porque isso exigiria que os de baixo se unissem em um programa comum e que, ao se opor ao governo e ao regime político, a maioria questionasse o sistema capitalista. No entanto, vimos recentemente em vários países que as mobilizações populares podem derrubar governos, mas que isso não garante uma mudança de regime que atenda às aspirações daqueles que alcançaram esse primeiro resultado. Socialismo ou barbárie, ou o primeiro vence, ou as classes dominantes precipitarão a humanidade em um fim terrível.

Com a força das manifestações camponesas, vimos no movimento dos coletes amarelos quantos comerciantes, artesãos, fazendeiros e até mesmo pequenos patrões se encontraram ao lado dos empregados, dos desempregados e dos aposentados. Se a pequena burguesia visse do lado do movimento dos trabalhadores uma determinação real de lutar para mudar o sistema e propostas imediatas para melhorar sua situação, seria possível uma aliança de luta. Mas também sabemos que, sem essa perspectiva, pode se voltar para as forças reacionárias que prometem defender a ordem e a propriedade.

Infelizmente, nem os partidos da esquerda reformista nem os aparatos sindicais parecem determinados a confrontar o sistema, ou mesmo a querer desafiar seriamente Macron. Há uma necessidade urgente de organizar uma força revolucionária presente nos setores decisivos da luta e capaz de fornecer respostas programáticas imediatas às necessidades dos explorados e oprimidos, sem ilusões ou sectarismo.