O principal encontro da esquerda revolucionária na Austrália é organizado pela Alternativa Socialista. Centenas de participantes de todo o país. Conferências das mais diversas temáticas a partir de uma perspectiva socialista. Convidados internacionais, entre eles nossa participação em nome da Liga Internacional Socialista.

Por: Mariano Rosa

Durante três dias consecutivos, de 18 a 20 de abril, com abertura na quinta-feira, dia 17, carregada de energia militante e ideias socialistas para a revolução, uma nova edição da Conferência Marxismo 2025 aconteceu na Universidade de Melbourne. Esta iniciativa, levada adiante pela Alternativa Socialista, a organização de esquerda mais importante do país, é um ponto de confluência do ativismo jovem fundamentalmente, e dos melhores elementos da vanguarda dos movimentos sociais e representações da classe trabalhadora radical do país. Na abertura da convocatória, foram identificados os temas fundamentais que gravitam no mundo e esta parte dele:

*Trump e a nova etapa que abre com sua política ultra-reacionária e de ofensiva imperialista.

*A luta do heróico povo palestino e as mobilizações ao redor do mundo que resistem à onda de direita que ataca conquistas históricas.

*A necessidade de que as novas gerações, aprendendo com as lutas passadas e presentes, encabecem a construção de uma alternativa política para derrotar os ricos, seus governos, e impor uma saída para os trabalhadores.

Depois desse início no auditório central da Universidade, que marcou as coordenadas da Conferência, os três dias seguintes se transformaram em uma verdadeira escola de formação política marxista, de esquerda revolucionária e para a transformação estrutural do mundo.

Desde questões históricas e teóricas do movimento de trabalhadores e socialista ao redor do mundo, incluindo a Austrália, até sessões sobre marxismo para principiantes, processos de luta de classes e revoluções que marcaram os séculos XX e XXI, bem como debates sobre conjuntura nacional e internacional. Todos esses tópicos influenciaram esse rico encontro de ativismo e militância socialista.

O mundo, as contradições e os desafios, muito presentes em Melbourne

A situação mundial esteve presente desde a abertura e teve destaque em muitos dos painéis das exposições. Havia convidados internacionais do Egito, França, Alemanha e nosso caso em nome da LIS desde a Argentina:

*Hossam el-Hamalawy, jornalista e militante socialista egípcio, que abordou as lutas ao redor do mundo com base na experiência iniciada com a Primavera Árabe.

*Mathis Aversenq, integrante do NPA-R da França, que descreveu a conjuntura naquele país, a ascensão da extrema direita e as tarefas da esquerda revolucionária.

*Willi Schulz, membro de Poder Obrero da Alemanha – Liga pela Quinta Internacional, que desenvolveu a situação na Europa e a experiência em seu país contra a ascensão da Alternativa pela Alemanha, a importante eleição do Die Linke e a experiência de sua organização na luta de classes naquele país, incluindo uma política muito correta em relação ao Die Linke.

Todas as sessões com temas internacionais contaram com forte participação do público, demonstrando a ânsia da vanguarda australiana em entender, opinar e se engajar nas lutas contra o capitalismo, a extrema direita e todas as suas manifestações além das fronteiras do vasto país-continente onde o evento foi realizado.

A presença de numerosos contingentes de migrantes da Ásia, Oriente Médio e outras regiões do mundo, com expressão em participantes da Conferência, deu o tom de um evento que contou com debates sobre a China e a disputa interimperialista com os EUA, a Palestina, os conflitos em curso na Síria, no Sudão e em outras regiões do mundo.

Devido às políticas xenófobas e anti-imigração do governo trabalhista australiano, Ochievara Olungah, um camarada da Liga Internacional Socialista do Quênia, foi impedido de entrar no país, mas também não faltaram referências aos processos de rebelião contra a presença imperialista na África.

Uma experiência a destacar, que fez parte dos debates da Conferência e permeou todo o evento, é o projeto político-eleitoral do “Victorian Socialists”, liderado pela Alternativa Socialista. Trata-se de uma confluência eleitoral com personalidades da esquerda independentes, ativistas sociais e da agenda dos trabalhadores e da juventude, com a qual a organização busca disputar no Estado de Victoria espaço eleitoral à esquerda do trabalhismo nas próximas eleições legislativas de 3 de maio. Participamos da Conferência e, uma vez encerrada, em um plenário de “brach”, onde militantes da Alternativa junto à nova militância proveniente da experiência dos Victorian Socialists, discutiram a situação mundial (onde fomos convidados a falar) e as tarefas de orientação político-eleitoral para lutar para que a voz dos socialistas revolucionários fosse ouvida no difícil terreno das eleições burguesas. Essa experiência, convocada pela AS como a principal força de esquerda no país, está reagrupando ativistas de esquerda independentes, mas também aqueles desencantados com o Partido Verde e o Trabalhista, que estão buscando à esquerda dessas formações. Trata-se de um importante laboratório de tática e estratégia para disputas e construção orgânica, para seguir internacionalmente.

A LIS na Austrália: a experiência Milei, debates na esquerda e a necessidade de reagrupamento internacional

Há vários anos a Alternativa Socialista e a LIS compartilham uma relação de intercâmbios políticos, colaboração e construção comum de confiança na luta internacionalista. O convite para participar desta Conferência faz parte desse processo entre nossas organizações.

Nesta oportunidade, viajamos da Argentina para apresentar a situação em nosso país, a caracterização do fenômeno ultradireitista governante e a política da esquerda revolucionária:

*Explicamos o trumpismo neocolonial libertário à luz da tendência à polarização mundial, bem como do fracasso do progressismo governante e da crise estrutural de todo o regime político-sindical-institucional da Argentina.

*Fizemos um panorama histórico com traços gerais do século XX até a queda da ditadura genocida, 2001 e a atualidade.

*Identificamos as tensões e as perspectivas incertas do governo de Milei e seus cúmplices.

*Também apresentamos com clareza as duas visões que atravessam o debate na esquerda sobre como enfrentar a ultra-direita, aproveitando a crise do peronismo e liberando o potencial da FIT-Unidade.

*Explicamos que a polêmica com o PTS – Fração Trotskista (MRT no Brasil) não é um debate “argentino”, mas sim duas concepções de como construir força revolucionária no mundo: sectarismo, autoproclamação, adaptação parlamentar e não disputa diante do peronismo e das direções traidoras, ou audácia para aproveitar as oportunidades da luta de classes e reagrupar a vanguarda em bases anticapitalistas e socialistas, para além das eleições burguesas.

Por fim, destacamos o papel decisivo da Liga Internacional Socialista no apoio à orientação de sua seção argentina, na compreensão do fenômeno Milei à luz das tendências mundiais, assim também como a política para fazer da esquerda um polo de referência real com peso de massas na luta pelo poder e por um governo dos trabalhadores na transição para o socialismo. Como não poderia deixar de ser, apresentamos as tarefas do partido argentino, o MST na FIT-Unidade, como parte da luta internacional da LIS para reagrupar os revolucionários do mundo em um projeto sobre bases de princípios e um programa para a revolução, fazendo confluir diferentes tradições revolucionárias que, por meio de um funcionamento saudável de coordenação centralizada para a realização de campanhas militantes, apoio internacionalista e formação de novos dirigentes, dedica especial ênfase à democracia interna da organização, superando todas as experiências desastrosas do passado, burocráticas e de pensamento único na construção internacional. A estratégia de convergir o melhor de cada identidade revolucionária em uma nova síntese para o século XXI como a marca da LIS foi recebida com particular interesse pelos participantes da conferência que nos coube encabeçar e em cada um dos muitos painéis para os quais fomos convidados, bem como no after hour com delegações de Sydney, Brisbane e outras regiões da Austrália.

Internacionalismo militante, aprendizagem e camaradagem

Embora a nossa participação em eventos deste tipo não seja nova, não queremos, por isso, deixar de destacar várias questões muito importantes que nos deixa como conclusão esta viagem que realizamos:

*Por um lado, constatar os pontos de acordo quanto à visão da etapa mundial e a necessidade prioritária de construir uma organização revolucionária sem sectarismo, sem oportunismo e, ao mesmo tempo, com a audácia de aproveitar cada brecha que surgir na realidade da luta de classes.

*A visão comum de formar militância revolucionária, com dedicação e consciência profissional, para derrotar o capitalismo, seus partidos, burocracias, e superar os reformismos nefastos que atuam para conter a energia das massas.

*O crucial da luta ideológica, a formação teórico-política, para explicar nosso socialismo, nosso projeto de revolução, nossas propostas e conquistar o melhor do ativismo e da vanguarda para nossas posições estratégicas.

*Foi muito importante o trabalho em equipe com o camarada alemão, Willi Schulz, da L5I, cuja organização explicamos que estamos em processo de integração com a LIS e centrando nos pontos que nos unem, sem deixar de clarificar nuances ou diferenças, mostrou em tempo real que a orientação do reagrupamento internacional que estamos construindo não é propagandística ou declarativa, mas política real e concreta.

Sem dúvida, essas experiências deixam um aprendizado mútuo, pois nós que viajamos contribuímos para o debate coletivo e, ao mesmo tempo, levamos muito do trabalho político, construído constante e pacientemente, de organizações como a Alternativa Socialista, com as quais aprendemos e valorizamos em cada contato que temos.

Dissemos isso na Conferência e repetimos aqui: os camaradas da Austrália têm o mérito de ter estabelecido, em um país complexo, com anos de estabilidade burguesa e uma sólida burocracia trabalhista, uma força de esquerda dinâmica, ampla e hegemônica naquele país.

Essa viagem certamente fortaleceu nosso relacionamento, a confiança mútua, o incentivo para continuar trabalhando juntos e uma perspectiva de trabalho em comum com muito potencial.

Obviamente, é claro, devemos reconhecer a camaradagem da direção da Alternativa, de seus quadros e militantes no trato conosco, a ponto de realmente nos sentirmos “em casa” em Melbourne, que, afinal de contas, é a prova mais concreta da sintonia política internacionalista que une os companheiros e companheiras.

Obrigado por isso e parabéns pela potente Conferência “Marxismo 2025”.