Por: E. O.
Em 25 de junho de 2025, o Quênia presenciou uma jornada de importantes protestos em várias cidades, comemorando o primeiro aniversário das históricas manifestações antigovernamentais que sacudiram o país em 2024. Aqueles protestos, desencadeados por dificuldades econômicas, corrupção governamental e violência policial, culminaram na invasão ao Parlamento, que deixou pelo menos 60 mortos. Um ano depois, os quenianos voltaram às ruas, e a resposta do Estado foi, previsivelmente, o uso da força, a repressão e o silenciamento da dissidência. No entanto, a importância desses protestos reside não apenas em sua recorrência, mas também no fato de que expõem as condições subjacentes que podem alimentar um movimento revolucionário no país. No entanto, a revolta em massa permanece desarticulada e desorganizada, dificultando o potencial de mudança real devido à ausência de uma liderança revolucionária clara.
Protestos e repressão estatal
Os protestos foram uma poderosa expressão da frustração pública. Assim como em 2024, os manifestantes foram às ruas exigindo justiça, responsabilização e o fim das políticas econômicas que elevaram o custo de vida, tornando a vida insuportável para a maioria dos quenianos. Desta vez, a morte de Albert Ojwang, um blogueiro que morreu sob custódia policial, reacendeu a indignação contra a polícia, há muito conhecida como um instrumento de poder da elite governante. Em Nairóbi, barricadas policiais e arame farpado cercaram o Parlamento, um forte lembrete da disposição do Estado em reprimir a dissidência. Em resposta às manifestações pacíficas, o Estado usou de força bruta: gás lacrimogêneo, balas de borracha e policiais com cassetetes. A mensagem era clara: os manifestantes não teriam permissão para desafiar o status quo.
O governo, encabeçado pelo presidente William Ruto, continuou com as mesmas táticas de repressão que caracterizaram as administrações anteriores. Apesar das promessas de reforma, Ruto não conseguiu resolver os problemas sistêmicos que alimentaram esses protestos. Em vez disso, seu governo intensificou as políticas que beneficiam os ricos e exploram ainda mais a classe trabalhadora e as massas empobrecidas. À medida que os protestos se desenrolavam, a impunidade do governo tornou-se evidente. A polícia, longe de atuar como agente neutro da lei, continua a atuar como instrumento da classe dominante para manter o controle por meio da violência e da intimidação.
O potencial revolucionário no Quênia
Por trás da superfície desses protestos, encontra-se uma realidade mais profunda e significativa. O Quênia, como grande parte da África, encontra-se em uma encruzilhada, oscilando entre a manutenção da ordem capitalista vigente e o potencial para uma mudança revolucionária. As condições para a revolução estão maduras; a desigualdade econômica atingiu níveis extremos, com uma pequena elite consolidando sua riqueza enquanto a maioria da população luta para sobreviver. O desemprego permanece alto, a inflação continua a minar a renda da população e os serviços públicos básicos estão se deteriorando. Enquanto isso, a classe dominante permanece indiferente à situação do povo, perpetuando políticas que atendem apenas aos seus interesses.
Os protestos, embora poderosos, são em grande parte espontâneos e carecem de uma liderança coerente. A falta de organização entre as massas, que se estendem por diversos setores, impede o surgimento de uma força unificada que possa desafiar o establishment político. Essa desorganização reflete um problema mais amplo: a classe trabalhadora queniana, embora madura para a revolução, carece da consciência política e da organização necessárias para desafiar o sistema com eficácia.
A estagnação do regime de Ruto
O presidente Ruto, apesar das críticas generalizadas à sua gestão da economia e dos protestos, mostrou pouca disposição para mudar de rumo. Em vez de abordar as causas profundas do descontentamento, optou por suprimir toda a dissidência. O enfoque do seu governo tem sido caracterizado pela arrogância e impunidade, sem responsabilização pelas mortes e ferimentos causados pela violência estatal. A morte de Albert Ojwang, por exemplo, levou a acusações contra alguns policiais, mas o sistema geral de violência estatal permanece impune. Essa postura impenitente é característica da classe dominante queniana, que há muito tempo recorre à violência para se manter no poder. Da violência pós-eleitoral de 2007-2008 à atual onda de repressão, o governo queniano tem demonstrado repetidamente sua disposição de usar a força para reprimir qualquer ameaça à sua autoridade. A incapacidade do presidente Ruto de abordar os problemas sistêmicos que desencadearam os protestos do ano passado e seu uso contínuo da violência sugerem que o país caminha para um aprofundamento do autoritarismo, onde a dissidência não é mais tolerada e qualquer desafio à elite governante é recebido com repressão brutal.
O caminho a seguir: organizar a revolução
Embora as condições para a revolução sejam propícias no Quênia, as massas permanecem desorganizadas, fragmentadas e sem um rumo claro. Uma revolução não pode ser alcançada apenas por meio de protestos espontâneos. É necessário desenvolver a consciência revolucionária na classe trabalhadora e desenvolver movimentos organizados que possam canalizar a raiva e a frustração do povo em força política concreta. Isso requer uma abordagem unificada que transcenda os interesses setoriais e se concentre na luta comum da classe trabalhadora contra o sistema capitalista que a explora.
Os sindicatos, organizações estudantis e outros movimentos populares que historicamente confrontaram o Estado devem intensificar seus esforços e fornecer a liderança necessária para organizar as massas. Isso implica construir alianças entre diferentes setores, a criação de plataformas para a formação política e o desenvolvimento de estratégias para desafiar o monopólio do poder do governo. Significa também confrontar o domínio ideológico da classe dominante, que usa o nacionalismo, a identidade étnica e outras formas de divisão para manter seu controle.
As massas quenianas devem reconhecer que sua luta não se resume a reformas ou melhor gestão, mas sim à derrubada do sistema que perpetua sua exploração. Isso requer um movimento socialista revolucionário comprometido com os interesses da classe trabalhadora que lute para substituir o sistema capitalista por um sistema de governo que priorize as necessidades do povo, não as da elite.
Conclusão: um chamado à ação revolucionária
Os protestos de 25 de junho de 2025 são uma indicação clara de que a classe trabalhadora queniana está cada vez mais desiludida com o status quo. No entanto, enquanto as massas permanecerem desorganizadas, esses protestos permanecerão isolados e ineficazes para alcançar uma mudança sistêmica. O governo do presidente Ruto continua a recorrer à repressão e à violência para manter seu poder, mas a raiva popular é palpável e o potencial revolucionário é inegável. O que é necessário agora é desenvolver uma estratégia revolucionária coerente que possa unir o povo e construir um movimento capaz de desafiar o sistema. Sem isso, o ciclo de protestos e repressão continuará, e o Quênia permanecerá preso ao atual impasse político.




