Por: Alternativa Anticapitalista

Crime de Estado, terrorismo transfronteiriço e brutal advertência contra o exílio organizado

O assassinato do major da reserva Roberto Samcam Ruiz, ocorrido em 19 de junho na Costa Rica, não é um fato isolado. Trata-se de um crime político premeditado, executado no marco da perseguição transnacional do regime Ortega-Murillo, com o objetivo claro de semear o medo entre aqueles que, desde o exílio, seguem denunciando e resistindo à sua ditadura.

Roberto Samcam, ex-combatente da Frente Sandinista e figura crítica há mais de uma década, foi assassinado com oito disparos por um pistoleiro que fingiu ser vizinho. Esse atentado, dirigido contra um opositor e analista político de grande relevância, que denunciava publicamente a corrupção, o militarismo e a repressão estatal, confirma a existência de uma engrenagem de espionagem e perseguição operando para além das fronteiras da Nicarágua. Não se trata de um acerto de contas pessoal: trata-se de terrorismo de Estado executado em território estrangeiro.

Samcam, como muitos quadros históricos do sandinismo que se rebelaram contra a traição do orteguismo, exilou-se em 2018 após a sangrenta repressão à insurreição popular. Desde então, foi uma voz que não se calou. Denunciou a penetração orteguista nas estruturas militares, apoiou publicamente a rebelião de Jinotepe e Carazo e participou da articulação do Grupo Patriótico de Militares Aposentados. Por tudo isso, tornou-se alvo político do regime. Sua morte tem responsáveis claros: o Estado criminoso da Nicarágua e sua rede de inteligência e pistolagem que opera a partir de suas embaixadas e consulados.

Desde a Alternativa Anticapitalista, seção nicaraguense da Liga Internacional Socialista, denunciamos a ditadura de Ortega e Murillo como autores intelectuais desse crime político. E também denunciamos a cumplicidade passiva do Estado costarriquenho, cuja indiferença frente às múltiplas denúncias de perseguição, espionagem e atentados — como os sofridos por Joao Maldonado ou o assassinato de Rodolfo “Piel” Rojas — o torna responsável por omissão, dos riscos enfrentados por exilados e refugiados. Como documentamos no Relatório Final da Comissão Internacional pela vida e liberdade de todas as pessoas presas políticas na Nicarágua, impulsionado por nós em 2022.

A ditadura já não se sustenta em qualquer legitimidade, mas sim no medo. Sua repressão entrou em uma nova fase: a da caçada seletiva fora do país, buscando neutralizar a oposição ativa no exílio. Não lhes basta o encarceramento, a tortura ou o desterro. Agora apelam à bala. Mas o que não entendem é que o medo não nos paralisa: nos organiza.

Recordamos Samcam como um defensor dos direitos humanos, como um militante com quem tivemos diferenças políticas, mas com quem compartilhamos a luta frontal contra uma ditadura criminosa. Diante da tentativa de silenciá-lo, respondemos com mais organização, mais unidade, mais internacionalismo.

Rejeitamos, além disso, o oportunismo político de governos como o de Rodrigo Chaves ou do Departamento de Estado dos EUA, que condenam com uma mão, enquanto com a outra financiam e legitimam outras ditaduras ou aparatos repressivos na América Latina. Não há ditadura boa, nem repressão aceitável. Ortega, Maduro e Díaz-Canel fazem parte de uma mesma rede autoritária que usa a retórica anti-imperialista para esconder o capitalismo de Estado, o enriquecimento das suas cúpulas e a violação sistemática dos direitos humanos.

Diante dessa ofensiva criminosa, fazemos um chamado urgente para fortalecer a unidade no exílio, ampliar as redes de proteção para defensores de direitos humanos e ativistas e construir uma resposta internacionalista, militante e popular contra a repressão.

Lançamos uma campanha internacional conjunta com companheiras e companheiros da Venezuela e de Cuba, pela liberdade de todas as pessoas presas políticas e contra a repressão em nossos países. Propomos a criação de uma Comissão Internacional Independente que investigue todos esses crimes e prepare as bases para um Tribunal Popular dos povos, onde o julgamento ético e político sirva como precedente para a justiça real.

Convidamos você a se somar a essa campanha e a organizar a resposta à ditadura assinando o Manifesto Internacional.

Por um Movimento Internacional contra a repressão e pela liberdade de todas as pessoas presas políticas.

Porque só o povo salva o povo. Fora Ortega-Murillo. Julgamento e castigo aos responsáveis pelos crimes de lesa-humanidade e seus cúmplices.