No quartel-general de Northwood, em Londres, França e Reino Unido assinaram um acordo militar e anti-imigração. O racismo do imperialismo europeu não desapareceu, apenas se reciclou. Os partidos burgueses se mimetizam com a ultradireita. As chagas capitalistas só desaparecerão definitivamente com o socialismo.
Por Rubén Tzanoff
Um acordo bélico histórico
O pacto assinado entre França e Reino Unido constitui um marco na relação militar entre os dois países.
Pela primeira vez, foi estabelecida a coordenação de seus arsenais nucleares – os únicos da Europa – diante do que classificam como “ameaças extremas”. Também se comprometeram a reforçar a cooperação industrial em defesa, melhorar suas capacidades cibernéticas conjuntas e promover uma maior integração de suas políticas exteriores.
As motivações principais
A União Europeia (UE) e, individualmente, os governos que a compõem aproveitam a continuidade da guerra na Ucrânia e a “ameaça de Putin” para se rearmar e estimular os lucros bilionários da indústria bélica.
O imperialismo europeu, sem romper com os EUA, começou a dar alguns passos em resposta ao desinteresse de Trump em manter o apoio à Europa nos moldes do pós-guerra.
Com a imigração na mira
Outro ponto de acordo diz respeito à imigração.
Foi firmado um programa-piloto baseado no esquema “um dentro, um fora”, segundo o qual, para cada pessoa migrante devolvida à França, outra será aceita no Reino Unido, com um limite de 50 casos por semana – sendo que apenas no dia anterior à assinatura do acordo chegaram 250 pessoas à costa de Kent.
Tratam o drama humano da imigração e o direito ao asilo como se estivessem repartindo mercadorias entre patrões.
O racismo é uma velha tradição política que o imperialismo reciclou. As antigas justificativas coloniais de superioridade racial se transformaram em políticas migratórias criminalizantes, discursos islamofóbicos e práticas policiais discriminatórias que têm como alvo sistemático os povos oprimidos e as pessoas que necessitam de asilo por estarem fugindo da miséria ou da violência.
Se mimetizam com a ultradireita
Emmanuel Macron, líder contestado do imperialismo francês em crise, vem adotando medidas inspiradas nas propostas de extrema-direita de Marine Le Pen, com quem disputa eleitoralmente.
Em 2024, as leis impulsionadas por Macron endureceram as expulsões de pessoas com solicitações de asilo com pedidos negados, automatizando as ordens de saída do território, reduzindo os recursos administrativos disponíveis para acelerar os processos e negando permissões de residência a quem cumpre os requisitos para obtê-las.
Keir Starmer chegou ao governo britânico prometendo que o Partido Trabalhista faria uma gestão mais progressista que a do Partido Conservador que o antecedeu. É uma farsa: isso não aconteceu nem acontecerá.
Quando Starmer alertou que “corremos o risco de nos tornar uma ilha de estrangeiros”, ele se alinhou diretamente ao discurso do ultradireitista Nigel Farage, que avançou nas últimas eleições.
A publicação do documento programático Livro Branco “Recuperar o controle sobre o sistema migratório” não deixa margem para dúvidas. Trata-se de uma verdadeira cartilha para criminalizar pessoas migrantes com o objetivo declarado de “reduzir a imigração líquida”.
Polarização política e social crescente
Tanto na França quanto no Reino Unido cresce a polarização política e social.
Macron enfrenta um profundo desgaste e críticas de todos os lados. Suas políticas não passam despercebidas: geram repúdio mobilizado de amplos setores da classe trabalhadora.
Starmer, que pretende recuperar o peso perdido pelo Reino Unido desde o Brexit, é cada vez mais questionado – num país sacudido por greves operárias e onde o povo protagoniza uma solidariedade massiva e contínua com a Palestina, denunciando o governo.
Nem rearmamento nem racismo
Repudiamos a aliança nuclear dos imperialismos francês e britânico.
Ela não representa uma medida defensiva nem garante a paz ou a segurança dos povos. É parte da estratégia dessas potências para manter posições de força no tabuleiro global, em disputa com outras potências.
Fica claro que os apelos à “não proliferação nuclear” sempre excluem as grandes potências.
É tarefa dos revolucionários impulsionar mobilizações contra o rearmamento, exigindo que os recursos disponíveis não sejam destinados ao militarismo, mas sim ao atendimento das necessidades da classe trabalhadora em moradia, saúde, educação, salários e demais direitos sociais negados.
O projeto de fechar cada vez mais as fronteiras da Europa é reacionário, racista e desumano – por isso deve ser combatido.
A social-democracia, os verdes e outras variantes reformistas que atuam dentro dos marcos do sistema capitalista não são alternativa para frear a ultradireita.
É necessário enfrentar os setores mais reacionários nas ruas, com mobilização unificada, a partir da independência política e da construção de fortes partidos socialistas revolucionários.
Por uma Europa dos trabalhadores
À “Fortaleza Europa” – capitalista, militarista e racista – contrapomos uma construção social igualitária, solidária, sem exploradores nem opressores imperialistas: uma Europa Socialista, governada pelos trabalhadores.
A disjuntiva continua sendo: Socialismo ou Barbárie.
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