Por Rubén Tzanoff e Gustavo García

Um novo “Rencontres d’été révolutionnaires” (RER) foi realizado na localidade de Barbaste, no sul da França, de 23 a 27 de agosto. Camaradas da Liga Internacional Socialista (LIS) participaram das oficinas.

A agenda e nossa presença

Foram realizados mais de 60 oficinas e debates que abordaram diversos temas: a guerra econômica e a disputa interimperialista, a luta contra o plano de ajuste de Macron, a militarização, gênero e diversidade sexual, racismo e muitos outros; tendo como eixo central um debate entre dirigentes do Novo Partido Anticapitalista – Revolucionários (NPA-R) e Lutte Ouvrière (LO), e o encontro com companheiros e companheiras de diferentes setores em luta, com encerramento a cargo dos camaradas Gaël Quirante (AetR) e Selma Labib (L’etincelle), ambos figuras públicas do NPA-R.

É claro que não faltaram espaços recreativos, o clássico karaokê, uma festa de despedida e um concerto musical tingido de emotiva solidariedade para a Palestina.

Participamos do acampamento com camaradas do Socialismo e Liberdade (Espanha), do Partito Comunista dei Laboratori (Itália) e da LIS-França, que integra o NPA-R, juntamente com representantes da Liga Quinta Internacional (L5I) da Alemanha e da França, que também integram o NPA-R.

Intercâmbios sobre as tarefas internacionais

Um dos oficinas mais importantes foi “Construir uma organização internacionalista, vínculos internacionais, uma Internacional…”.

Os companheiros que expuseram pelo NPA-R destacaram o reagrupamento que lançaram em seu Acampamento Internacionalista realizado na Espanha, os Encontros de Milão-Paris coorganizados com a Lotta Comunista (LC) e as relações com outras organizações como bases de orientação em sua construção internacional.

Nós contribuímos com a experiência que levamos adiante desde a entrada da OTI-PCL na LIS este ano e o processo em curso de integração da L5I e do MAS de Portugal, rumo ao III Congresso que realizaremos em dezembro deste ano. Também contribuímos sobre o método que utilizamos, sobre o tratamento das diferenças e os objetivos do reagrupamento internacional dos revolucionários.

No momento, ambas as experiências em curso apresentam traços distintos. Por exemplo, com a avaliação da importância de debater as principais caracterizações e políticas sobre a situação mundial e nacional, priorizar os pontos de acordo e adotar um programa de transição como base de princípios. Sem ignorar as nuances ou diferenças que subsistem, mas processando-as com o método do centralismo democrático. E na mesma organização, enquanto se forja a confiança e uma nova tradição que supere as correntes de onde viemos.

Esperamos que no futuro se dêem as condições para abrir um debate mais profundo entre o NPA-R e a LIS que permita iniciar o caminho comum para a reagrupamento internacional dos revolucionários.

Debate com a Lutte Ouvrière, uma organização com DNA dogmático e sectário

O formato da polêmica entre o NPA-R e a LO foi de abertura e três rodadas de réplicas entre dois dirigentes de cada uma das forças.

A direção do NPA-R propôs à LO elaborar uma rota comum para intervir em questões de caráter político, sindical ou estudantil e enfrentar a esquerda institucional (especialmente neste momento de crise no regime político francês); com vistas a explorar a possibilidade de convergência nacional e internacional.

A resposta da LO foi que essas propostas “não servem para nada” porque há uma situação de total retrocesso na consciência e não é tarefa dos comunistas impulsionar ou ampliar mobilizações não dirigidas por revolucionários. Em vista do dia de luta convocado na França para 10 de setembro, a LO afirmou que o fundamental é ir às fábricas dizer que a Terceira Guerra Mundial é iminente e que é preciso evitar que os patrões usem os trabalhadores como bucha de canhão.

Além disso, afirmaram que a China teria um papel positivo ao enfrentar os EUA, insinuando que poderiam apoiar um dos eventuais imperialismos em conflito no momento de uma hipotética Terceira Guerra Mundial.

A referência à luta do povo palestino e ao genocídio que sofre por parte do Estado de Israel não foi menos vergonhosa, pois afirmaram que não se pode fazer muito lá, já que as bandeiras dos revolucionários não são as bandeiras nacionais, mas as bandeiras vermelhas da classe trabalhadora.

A LO não surpreendeu em nada, seu dogmatismo equivocado permanece intacto ao longo do tempo. O que gera importantes dúvidas a serem debatidas é se é possível e qual seria a utilidade de construir um polo de revolucionários com uma organização tão destrutiva, cética e sectária como a Lutte Ouvrière.

Lotta Comunista, com a receita já conhecida

A LC coordenou a oficina “Mísseis e guerra econômica na crise da ordem imperialista…”, repetindo o núcleo duro das opiniões expressas em debates anteriores: a situação mundial é desfavorável, as questões nacionais não têm validade atualmente e há sinais de uma guerra mundial.

A maioria dos participantes do debate polemizou com a LC, particularmente em torno da política dos revolucionários em relação aos processos de luta pela autodeterminação. No decorrer da discussão, também se refletiram as diferenças que temos com o NPA-R sobre a política em relação à guerra na Ucrânia e a importância de propor a saída estratégica de uma Palestina única, laica, não racista, democrática e socialista.

Disputa na região Indo-Pacífico

Vale mencionar a oficina intitulada “O aumento das richas imperialistas na região Indo-Pacífico e o lugar da China”, apresentado por uma camarada da Socialist Alternative da Austrália. Nele foram discutidas as consequências bélicas do crescente confronto entre o imperialismo estadunidense e o chinês na região.

A maioria concordou que nem o imperialismo antigo nem o novo representam um campo progressista. Por isso, rejeitamos o rearmamento e, em caso de uma conflagração mundial, proporemos a política do derrotismo revolucionário.

Sobre a situação na França

Na mesa que desenvolveu esse debate participaram as três tendências do NPA-R: L’Etincelle, AetR e Democracia Revolucionaria. Discutiu-se a situação do partido após o Congresso, a auto-convocatória de 10 de setembro para bloqueios e manifestações contra o plano de ajuste patronal e as comparações com o processo dos “coletes amarelos”.

Nossos camaradas da França destacaram a crise do regime e de Macron (evidenciada com a recente queda de seu primeiro-ministro François Bayrou, o quarto desde janeiro de 2024, após não conseguir uma moção de confiança no parlamento para seu projeto de orçamento de ajuste e militarização). Além disso, destacaram a necessidade de mobilizar no dia 10, aproveitar a oportunidade e avançar com a intervenção operária-estudantil, pela greve geral, postulando o NPA-R como alternativa aos partidos burgueses e à esquerda reformista.

Acampamento de formação e debate

Mais de 500 participantes, em sua maioria jovens e trabalhadores, transformaram o RER em um importante evento do NPA-R. Foi um espaço de formação de seus quadros e militantes que também permitiu o debate entre diferentes correntes.

Nós, que participamos com representações da LIS, valorizamos o companheirismo, a troca de opiniões e experiências. Isso constitui uma relação fraternal básica, mas indispensável quando se pensa na possibilidade de iniciar, em algum momento, um caminho de confluência.

Agradecemos também as demonstrações de apoio à Global Sumud Flotilla e (GSF), em particular, à nossa companheira Cele Fierro, que a integra em representação da LIS.