Por Pablo Vasco
Na semana que antecedeu o primeiro aniversário do conflito, a morte de seis reféns israelenses mantidos pela resistência palestina abriu um novo capítulo na crise política no Estado sionista de Israel. Os corpos foram encontrados na noite de sábado, 31, por militares israelenses em um túnel em Rafah, ao sul de Gaza, perto da fronteira com o Egito. Segundo Israel, eles foram assassinados pelo Hamas. Segundo o Hamas, eles morreram em um bombardeio israelense.
Assim que a notícia foi divulgada, o Fórum de Familiares de Reféns emitiu um duro comunicado contra o primeiro-ministro: “Netanyahu abandonou os reféns! Isso já é um fato. A partir de amanhã o país vai tremer. Pedimos ao público que se prepare. Vamos parar o país”.[1] De fato, no domingo, 1º, em Tel Aviv, houve uma marcha com mais de 200.000 pessoas.
Lá, exigiu-se do governo um acordo imediato com o Hamas para trocar reféns israelenses por detidos palestinos. Também se pediu a renúncia de Benjamin Netanyahu — acusado de atrasar as negociações — e a convocação de novas eleições. Houve forte repressão policial com carros de água, e também ocorreram concentrações em Rehovot, Beer Sheva e outras cidades.
No mesmo domingo, a central sindical israelense Histadrut convocou uma greve geral. Por meio de uma procuradora-geral, o governo ultradireitista conseguiu que um tribunal de Tel Aviv ordenasse o fim da greve após o meio-dia, considerando-a “ilegal”. A burocracia sindical acatou a decisão. Ainda assim, durante a manhã, bancos não funcionaram, o porto de Haifa parou, voos não decolaram, algumas linhas de ônibus e trens pararam, escolas e hospitais também.[2]
Abaixo o Estado genocida de Israel
Apesar dessa crise política, Netanyahu mantém sua ofensiva graças ao apoio de vários partidos ultraortodoxos, que rejeitam qualquer entendimento com os palestinos. Por exemplo, o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, líder do partido ultradireitista Poder Judaico, afirmou: “Não me envergonho de dizer que estamos usando nosso poder para evitar um acordo imprudente e interromper qualquer negociação por completo”. Israel tem até multiplicado suas ações militares na Cisjordânia e no sul do Líbano.
Nas negociações com o Hamas, mediadas pelos EUA, Egito e Catar, Netanyahu elevou as condições para um acordo apenas provisório. Por exemplo, agora acrescentou a manutenção do controle israelense do Corredor da Filadélfia (ou Saladino), ou seja, a estreita e estratégica rota fronteiriça entre Gaza e Egito.
Por sua vez, o Hamas propõe um acordo permanente, com troca de reféns por presos políticos e a retirada das tropas sionistas de Gaza. Enquanto isso, o imperialismo norte-americano, na voz de Biden, distanciou-se de Netanyahu. Embora forneça armas e apoio político, criticou seus “esforços insuficientes” para alcançar um acordo. E a candidata presidencial democrata, Kamala Harris, declarou recentemente seu apoio ao “direito de autodeterminação palestino”. São gestos oportunistas diante do descontentamento popular nos EUA com o apoio desse país ao genocídio israelense, como se expressou nos massivos acampamentos universitários e nas ações dos judeus antissionistas: “Não em nosso nome”.
Quase um ano após o início desta fase do conflito, reafirmamos a necessidade de redobrar a solidariedade internacional com a justa causa do povo palestino. Não haverá paz no Oriente Médio sem o direito ao retorno dos refugiados palestinos às suas terras originárias e sem desmantelar esse engendro racista, terrorista e pró-imperialista que é o Estado sionista de Israel. A única saída é substituí-lo por uma Palestina única, laica, democrática e socialista, como parte de um processo revolucionário em toda a região.
[1] https://cnnespanol.cnn.com/2024/08/31/el-foro-familias-rehenes-convoca-movilizacion-fdi-localizacion-cadaveres-gaza-trax/