Por Roni Turus

O Partido Trabalhista está em um estado de paralisia, em coma político. Na verdade, encontra-se em morte cerebral desde a era de Tony Blair e seus aliados, que o transformaram em uma entidade meio conservadora, meio centrista, pró-corporativa, pró-imperialista e alinhada a uma elite estreita e profissional. Num esforço para se distanciar das raízes históricas do Partido Trabalhista, Blair e seu círculo o rebatizaram como “Novo Trabalhismo”. Um dos principais arquitetos dessa nova versão, Peter Mandelson — atual embaixador do Reino Unido nos Estados Unidos —, certa vez reuniu uma sala cheia de bilionários e magnatas da mídia e afirmou: “O Novo Trabalhismo está aqui para que vocês fiquem imensamente ricos”.

Desde a Segunda Guerra Mundial, o Partido Trabalhista tem feito parte do establishment britânico. Apoiou intervenções militares para reprimir o movimento republicano na Irlanda do Norte, deu suporte à invasão norte-americana no Vietnã, apoiou as guerras no Afeganistão e no Iraque, promoveu agressões contra o Irã e participou do genocídio contínuo do povo palestino. Cada uma dessas ações carrega a assinatura do Partido Trabalhista.

A legitimidade de partidos do establishment como o Trabalhista começou a ruir após a crise financeira de 2008. Em vez de responsabilizar os bancos, o Trabalhismo canalizou bilhões de dólares para instituições financeiras cujos executivos haviam saqueado por meio de especulação desenfreada. Enquanto os salários, o emprego, o nível de vida e o estado de bem-estar social entravam em colapso, os responsáveis pela crise enriqueciam ainda mais. O colapso de 2008 deveria ter sido o atestado de óbito dos partidos tradicionais, mas, na ausência de uma alternativa genuína, eles continuaram sobrevivendo, respirando por aparelhos muito além da conta.

É notável que o Partido Trabalhista ainda não tenha se tornado irrelevante; já passou do prazo de validade, mas de alguma forma segue se mantendo vivo. Essa resistência se deve, em grande parte, à falta de alternativas viáveis na esquerda, à esperança infundada de alguns sindicatos de que o partido possa retornar a seus princípios fundadores e à fragmentação geral da esquerda.

Um novo partido

As recentes declarações de Zarah Sultana e Jeremy Corbyn reacenderam a esperança e o entusiasmo em todo o país. Zarah Sultana, uma jovem voz coerente na política britânica, anunciou sua saída do Partido Trabalhista. Ela já atuava como deputada independente desde que o líder trabalhista Keir Starmer retirou o apoio parlamentar dela e de vários outros.

No dia 23 de julho, Jeremy Corbyn lançou um novo partido. Corbyn declarou que o novo partido busca “combater os ricos e poderosos”.

Em apenas 36 horas após o anúncio, mais de 300 mil pessoas se inscreveram para se juntar à nova força política, chamada provisoriamente de “Teu Partido”, nome que provavelmente será alterado. Independentemente da denominação, a resposta foi extraordinária. Atrair centenas de milhares de pessoas em menos de dois dias revela uma mudança significativa no estado de ânimo da população e seu desejo por uma transformação real.

O Reino Unido vive atualmente uma crise multifacetada.

Socialmente, o país está fraturado: entre jovens e idosos, norte e sul, comunidades urbanas e rurais.

Politicamente, os partidos majoritários perderam toda a credibilidade. Nem o Partido Trabalhista nem o Partido Conservador oferecem soluções sérias para os problemas crescentes enfrentados pela classe trabalhadora.

Economicamente, a vida se tornou muito mais difícil para a maioria desde 2010: os salários reais caíram cerca de 35%, a precarização do trabalho disparou, os contratos “zero hora” e o trabalho informal se tornaram comuns e os custos com moradia, alimentação, transporte e educação explodiram. Enquanto isso, os lucros corporativos dispararam.

E essas não são apenas opiniões da esquerda; até mesmo vozes do establishment estão soando o alarme. Martin Wolf, editor sênior do Financial Times, escreveu recentemente: “O Reino Unido sofre de três deficiências: uma política ruim, um Estado disfuncional e uma economia precária”.

Os primeiros sinais para o novo partido são encorajadores. Pesquisas indicam que, se as eleições fossem hoje, ele poderia obter entre 15% e 18% dos votos em âmbito nacional. Alguns sindicatos já começam a argumentar que é hora de deixar de apoiar o Partido Trabalhista e dar suporte à nova formação.

Deveria se tratar de uma nova alternativa política organizada desde a base, com assembleias para debater democraticamente o programa, as ações e todos os aspectos envolvidos na construção de uma ferramenta de esquerda. Baseada na classe trabalhadora e em apoio às suas reivindicações e mobilizações.

A geração mais jovem, em particular, parece ansiosa para se filiar e participar.

Esse partido emergente merece apoio, solidariedade e participação ativa. Representa uma oportunidade vital para que a classe trabalhadora, as comunidades marginalizadas, os antirracistas, os anti-imperialistas, a comunidade LGBTQ+, as mulheres, os estudantes, a juventude e o movimento socialista internacional tenham uma voz significativa na política britânica. Um novo partido baseado em valores socialistas e democráticos é urgentemente necessário.

A oportunidade existe. Resta saber se os dirigentes e figuras oriundas do trabalhismo que deram os primeiros passos estarão à altura do momento histórico — ou se se diluirão, como já ocorreu outras vezes, ou ficarão pelo caminho.

Mas essa luta não pode se dar de forma isolada. A solidariedade socialista internacional é essencial. As próximas eleições no Reino Unido serão, na essência, uma batalha de ideias entre esse novo partido e a agenda reacionária, xenófoba e imperialista do Reform UK.

Já vimos antes, durante a liderança de Jeremy Corbyn no Partido Trabalhista, como todo o establishment se mobilizou contra uma alternativa autêntica de esquerda: desde a própria cúpula do partido até os grandes meios de comunicação, o aparato militar, as organizações sionistas e as forças centristas e de direita. Podemos esperar uma reação igualmente violenta desta vez.

Por isso, a participação internacional é crucial. Construir um movimento socialista global exige mais do que apoio moral: requer ação coordenada. As derrotas de líderes como Modi, Erdoğan, Orbán, Meloni, Trump e Milei são passos fundamentais para a construção de uma poderosa frente socialista internacional.